(Divulgação)

COLUNA

Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

A verdadeira história dos contos de fada

As histórias que nos ensinaram eternizaram-se em nosso imaginário justamente porque extraíram da realidade a dura verdade como se fosse uma inocente ilusão.

José Ewerton Neto

Atualizada em 02/05/2023 às 23h39
 
 

O ser humano não suporta a realidade, diz uma frase famosa.  Outra estabelece que um ser humano é apenas a soma de suas ilusões.  

Contos de fada? As histórias que nos ensinaram eternizaram-se em nosso imaginário justamente porque extraíram da realidade a dura verdade como se fosse uma inocente ilusão. Mas a realidade dos contos de fadas é muito mais crua do que se julga. Sim senhores, a coisa era feia, muito feia e contos de fada são cruéis, muito cruéis. 

1.Canibalismo. O canibalismo é useiro e vezeiro nas histórias de contos de fada. Na época em que os contos de fada foram escritos esse hábito estava longe de ser extinto. O historiador Jay Rubinstein conta que nos séculos 12 e 11 havia feiras de carne humana na Inglaterra e na França – e há relatos de pais comendo seus bebês em momentos de extrema pobreza. 

Portanto, as bruxas comedoras de criancinhas estão longe de ser uma licença poética de um autor de muita imaginação. Quando se diz que a bruxa esperava João e Maria para comê-los isso não era força de expressão nem maldade de bruxa. Sobrevivência apenas.

Aliás, não faz muito tempo, na cordilheira dos Andes jovens universitários sobreviveram comendo seus próprios companheiros. Nossos ancestrais pré-históricos, por exemplo, adoravam carne humana. O hábito de comer pessoas era tão comum que há até marcas genéticas de mecanismos de defesa no nosso DNA, desenvolvidos para proteger contra doenças que surgem quando se come carne humana.

2.Madrastas Malvadas. Cinderela e Branca de Neve as tiveram etc. etc. Mas, se pensarmos bem, no contexto em que viviam  a  proteção aos de sua prole se confunde com a sobrevivência.  Entre o filho gerado pelo seu ventre e o filho de outra mulher quem você preferiria que morresse, ó mãe? 

As fêmeas humanas, comparadas a outros animais, tiveram no passado extrema dificuldade para a concepção, pelo fato de possuírem um quadril relativamente pequeno em relação à sua cabeça. É difícil espremer uma cabeça tão grande por um quadrilzinho tão pequeno. Antes das cesáreas as taxas de mortalidade das mulheres na hora do parto eram altíssimas. Parir era tão perigoso que a expectativa de vida de uma mulher francesa no século 19 era de 26 anos. 

Nessas condições, como na França do século XVII, 80 % dos homens se casavam mais de uma vez. Com os recursos naturais tão escassos, nada mais natural que as madrastas privilegiassem os próprios filhos, tadinhas!  

3.Estupro e Feminicídio. Branca de Neve e a Bela Adormecida, caso vivessem hoje, talvez exigissem que os príncipes que as estupraram fossem presos. Você, leitora, já parou para imaginar se estivesse dormindo e um estranho começasse a beijar sua boca? E depois fosse obrigada a casar com esse... violador? A Bela Adormecida original foi violada durante o sono e ficou grávida de dois gêmeos, o que provocou a ira da esposa do príncipe quando a Bela acordou e os gêmeos nasceram. Antecipando-se à vingança da esposa o príncipe a atirou na fogueira. Ou seja, além de estuprador o príncipe foi um Feminicida.   

Quer uma vida de contos de fadas ou prefere ficar com a nossa, caro leitor? Eu prefiro a nossa. Pelo menos podemos ler um conto de fadas na fila do SUS. Quer dizer, enquanto ainda não levamos um tiro na testa só porque um psicopata se queixa de que sofreu bullyng.

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.