Inovação

De robôs subaquáticos autônomos a vacinas

Entenda como o Senai Cimatec, da Bahia, organizou o ecossistema para pesquisar, desenvolver novas tecnologias e gerar inovação disruptivas em diversas áreas, de saúde à robótica.

Publipost / Fiema

Leone Andrade diretor do Senai Cimatec.
Leone Andrade diretor do Senai Cimatec. (Foto: Divulgação / Fiema)

SÃO LUÍS - O diretor do Senai Cimatec, da Bahia, Leone Andrade, esteve em São Luís a convite da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema). Ele contou como foi criado o Senai Cimatec para uma plateia diversificada formada por representantes de empresas, governo, instituições de ensino, pesquisa e sindicatos industriais. Falou da captação de recursos, das parcerias com entidades globais, dos projetos inovadores e do papel do Senai para o desenvolvimento econômico da região. Ele, que também se reuniu com o governador Carlos Brandão e o presidente da Fiema, Edilson Baldez, disse ainda que o hidrogênio verde será a redenção do Nordeste e que o Maranhão tem um papel importante nesse contexto.

Como surgiu a ideia da criação do Senai Cimatec?

O Senai Cimatec tem um propósito de dar suporte ao novo ciclo de desenvolvimento industrial e econômico do estado da Bahia. Enxergamos além da indústria. Esse ecossistema é importante para suporte ao desenvolvimento econômico de qualquer região. Temos duas unidades do Senai Cimatec, uma em Salvador e outra em Camaçari. Em Salvador nós já investimos mais de 180 milhões de dólares. Atuamos em diferentes áreas de competência, que vão desde gráfica, confecções, alimentos até computação quântica. O centro tecnológico é o carro-chefe de toda a parte de suporte tecnológico para desenvolvimento regional. É ele que conecta o mercado com a nossa indústria.

Que tipo de projetos vocês desenvolvem no Senai Cimatec?

A nossa estratégia é ter a educação suportando a tecnologia e a tecnologia conectada com o mercado. Procuramos ao máximo desenvolver todas as ações a partir das necessidades atuais ou futuras do mercado. Hoje temos nove cursos de engenharia próprios, um de arquitetura, três de mestrado e dois de doutorado. Precisamos de pessoal para tocar tecnologias mais avançadas em áreas como computação quântica e big data. Atualmente temos 87 projetos de pesquisa, ­desenvolvimento e inovação com valor total de meio bilhão de reais. Os recursos vêm de muitos órgãos de fomento como a ANP, Aneel, Finep, Embrapi (que está aberto a todas as indústrias do país), e contratação direta das empresas. Isso é possível e viável em qualquer lugar do Brasil. A gente existe para atender ao mercado.

Pode citar alguns desses projetos?

O Flat Fish e a Vacina RNA MCTI Cimatc HDT são dois deles. O Flat Fish, por exemplo, é um robô submarino autônomo feito em parceria com a Shell e em cooperação com a DFKI, da Alemanha. O robô, que pode ser operado por não especialistas, tem a capacidade de inspecionar e digitalizar estruturas submarinas como se fosse um ultrassom, e 24 horas por dia. Hoje é o produto mais avançado no mundo em robótica submarina autônoma capaz de identificar gás e petróleo a milhares de metros de profundidade. Não há nada igual. E nasceu no Brasil, no Nordeste. É algo extremamente disruptivo.

Como vocês garantem recursos para fazer pesquisa, para criar tecnologias e inovar?

A gente tem orçamento assegurado? Não. Esse mercado pode ser tanto o privado quanto o público. É dinheiro competitivo, nada está assegurado. Temos que vender projetos. 

Qual a metodologia usada por vocês para congregar todos esses atores que fazem parte do ecossistema, como federações de indústrias, universidades, empresas e governos?

Implementar isso não é fácil em lugar nenhum do mundo.  Precisa de muita conversa, capacidade de ouvir e articulação.  Cada estado precisa modelar o seu ecossistema ideal.

Como vocês chegaram à definição das competências que trabalham hoje?

A primeira coisa é ter demanda. Ter mercado, atual ou futuro. Por exemplo, nós montamos o primeiro simulador quântico do hemisfério sul. A gente apostou. Então tem risco também, como qualquer negócio. Temos que investir dentro da nossa capacidade. Para a gente desenvolver uma competência tem que fazer sentido para o mercado. Tem que ter infraestrutura, metodologias e parceiros. A junção disso tudo cria a competência.

Como vocês conseguiram firmar tantas parcerias internacionais?

As nossas parcerias são analisadas caso a caso. Às vezes uma empresa que tem mais expertise em um assunto desenvolve algo para nós por meio de contrato. Mas mesmo nesses casos há muita interação e troca de conhecimento. Em outras parcerias negociamos royalties, ou ainda fazemos convênios e acordos de cooperação.

Quais seriam os primeiros passos para o Maranhão ter uma escola nos moldes do Senai Cimatec?

Estamos fazendo parcerias com o Senai-MA para dar ainda mais suporte às indústrias locais em áreas como construção civil, alimentação, portuária e transporte. O primeiro passo é ouvir o mercado e o Senai tem uma larga experiência em relação à indústria e à educação profissional. Esse é um processo demorado e árduo, mas é fundamental assim como a relação com o governo. O Senai Cimatec teve cinco anos de planejamento, de discussão.

O senhor também tratou da geração de hidrogênio verde com a Fiema e o governo estadual. Qual a sua opinião sobre o papel do Maranhão nesse contexto?

O Maranhão tem uma vantagem enorme porque o custo final do hidrogênio depende muito do acesso à água e aqui tem grande quantidade de água limpa, mais do que em qualquer outro estado do Nordeste.  Os estados nordestinos têm potencial para ser o Oriente Médio do futuro na produção de energia limpa e assim mudar de vez a realidade da região. A gente precisa se unir, envolver as bancadas na Câmara e no Senado, os governadores, e fazer acontecer, descarbonizando a produção industrial.

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