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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

Do you parcelate?

Fazemos uma breve análise do momento internacional.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

O que iniciou a revolucionária Mecânica Quântica foi o chamado “problema do corpo negro”. Era algo muito simples, entender como um objeto absorve ou emite calor. O problema é que as explicações que havia à época não “batiam” com os resultados. Era uma discrepância grande!

Karl Popper defendia que, se os testes não comprovarem a teoria, então os cientistas terão de procurar uma nova alternativa. Quem resolveu a parada foi Max Planck sugerindo algo que ninguém tinha pensado antes: pacotes! Pacotes de energia! 

Planck teria dito que só foi levado a formular essa hipótese por "um ato de desespero". Ele não tinha ideia que se iniciava uma revolução com essa novidade. Estava criada a Mecânica Quântica! O mundo do muito pequeno não se conecta por canos contínuos, como se pensava antes: na verdade, ele é um quebra-cabeça em que pequenos pedacinhos vão se juntando até formar o que vemos, o que sentimos, o que vivemos!

Ele parece com as pinturas do movimento Pontilhista, que aconteceu logo após a bela época do Impressionismo. Os quadros são feitos de pequenos pontinhos que, juntos, formam uma imagem, uma paisagem, uma mulher, ou uma flor. Quando você chega perto, a imagem desaparece e lá estão os pontos brancos, vermelhos, azuis. Basicamente é o que ocorre com a tela que você está lendo este texto, que é formada de pixels de diferentes cores. Enfim, o mundo que vivemos é composto do que aprendemos no ensino médio: prótons, elétrons, fótons...

Em plena eleição e vivendo uma guerra que consome nossos salários, apesar de acontecer a 11 mil quilômetros de distância, deixamos de ver o que acontece ao lado: outra revolução. Resumindo: consolidação da inteligência artificial; chegada da internet 5G; Impressão em 3D de diferentes produtos; remédios fabricados em nanotecnologia; evolução da tecnologia cerebral; avanços em biotecnologia; novas formas de armazenamento de energia; nascimento da computação quântica e; caminhamos para a alimentação baseada em proteína.

Não bastasse isso, as placas tectônicas do planeta se movem rapidamente! Não no sentido geológico, mas geopolítico. O que, exatamente? Está cada dia mais claro que a guerra é pano de fundo do enfrentamento Ocidente X Oriente. Mais precisamente, Estados Unidos X China. Por favor, dê uma olhada na figura que ilustra esta crônica: quem era quem no jogo planetário há 20 anos e agora! 

O que fica claro? Os EUA estão perdendo espaço, a cada dia, para a China. Essa tensão se concretizou logo depois que Putin fez aliança com Xi Jinping, em fevereiro, por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. Logo após, todos sabemos, a OTAN provoca e a Rússia reage, invadindo a Ucrânia. Como as placas tectônicas vão se acomodar, só o tempo dirá.

O fato objetivo é que os EUA têm o que a Europa necessita: energia. Aliás, não há nenhum país autossuficiente naquele continente. Ou importa do Oriente Médio, ou da África. Por isso é importante ficarmos atentos ao que acontece em Gana, Costa do Marfim, Libéria e tantos outros países que estão investindo fortemente os campos de petróleo que encontram em suas costas – muito similares às do Maranhão!

A outra opção que os europeus têm é de importar da Rússia via China ou Índia, que é o que está acontecendo, ou daqueles que estão prontos para conquistar o mercado alemão: os estadunidenses, que se tornaram o maior produtor de petróleo e gás do planeta nos últimos anos. Aliás, de importadores se tornaram exportadores!

Esta semana os EUA lançaram sua estratégia de segurança nacional que lista como maiores desafios para os próximos anos “superar a China” e “conter a Rússia”. Como? Biden traçou três pontos: investir na “competitividade, inovação, resiliência e democracia”; “alinhar” os esforços com aliados e parceiros; e “competir de forma responsável com a China para defender nossos interesses e construir nossa visão para o futuro”.

Mais: os militares deixaram claro os esforços para competir com os chineses nas frentes espaciais e ciberespaciais. Nesse aspecto, bom lembrar que uma parte essencial da disputa são os semicondutores, que são componentes essenciais para fabricação de qualquer objeto eletrônico, desde painel de carro a calculadora ou computadores. A pergunta é: funcionará, já que a China vem de um investimento maciço em Ciência e Tecnologia nos últimos anos? De foguetes a computadores quânticos?

E nós? E o Brasil? Temos de aproveitar a oportunidade para garantir nossa segurança energética. Ter energia barata é a primeira iniciativa! A dependência europeia de insumos alheios mostra o tamanho da crise que se instala quando eles faltam. Energia é insumo básico e o Brasil tem uma matriz energética muito diversa e a mais limpa do mundo! 

O mundo caminha da hegemonia estadunidense nas últimas décadas para um mundo bipolar ou multipolar. Não mais um bloco maciço, mas formado por várias partes, como na Mecânica Quântica, que, no final, formam um todo, onde o Brasil pode jogar um papel estratégico!

Isso tudo me fez lembrar meu amigo Ricardo quando estávamos há alguns anos no Wall Mart, nos EUA. Ele queria comprar uma câmera filmadora e, ouvindo o preço, perguntou “do you parcelate?” – a vendedora não entendeu aquela palavra criada por ele naquele momento... Rimos muito após isso. Na época, os EUA não parcelavam. Agora, soube que já o fazem. E terão de dividir também sua hegemonia planetária.

Admirável mundo novo!

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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