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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

O mundo esverdeou?

As mudanças climáticas e a participação da Academia no desenvolvimento nacional.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
 
 

Blob! Parece até uma criatura de desenho animado, e quando se junta aos milhares, nós chamamos de bolor. Blob não tem boca, estômago, olhos, nem detecta ou digere alimentos. Tampouco tem braços ou pernas, mas consegue se locomover. Se cortado ao meio, se regenera em apenas dois minutos. O interessante é que ele consegue aprender e transmitir conhecimento, apesar de não ter cérebro. 

Agora olhe pro céu e veja a teia cósmica. Redes que se estendem por centenas de milhões de anos-luz e conectam galáxias, aglomerados de galáxias. No entanto, a teia é extremamente difícil de mapear. Pois bem, pesquisadores da Universidade da Califórnia vasculharam mais de 37 mil galáxias para encontrar suas posições no céu. É um problema difícil, pois tem uma tal “matéria escura” que, como o nome diz, dificulta encontrar as galáxias!

Como eles fizeram isso? Usaram o Blob! Como? Imitação – afinal, a inteligência artificial, que está em nossos celulares é uma imitação de nossos neurônios e sua forma de se comunicar. Os cientistas substituíram “comida” por “galáxia” e o negócio funcionou fenomenalmente! 

Falando em organismos minúsculos, você já ouviu falar de “esforço planta-micróbio”? É por causa desse fenômeno que hoje há microrganismos que são capazes de consumir petróleo. Como acontece isso? Durante esse processo, raízes de plantas produzem açúcar e aminoácidos que estimulam o crescimento e a atividade dos micróbios, chamados tecnicamente de rizosféricos.

Esses microrganismos desempenharam um papel significativo na redução do impacto ambiental geral dos derramamentos de óleo da Deepwater Horizon, que ocorreu em 2001, nos Estados Unidos. Devido à dificuldade de se obter uma remoção de óleo suficiente por lavagem física e coleta, a biorremediação tornou-se a principal candidata para o tratamento contínuo da linha de costa.

Essa é uma área que está avançando extraordinariamente nos últimos anos! A respeitada revista Nature publicou um artigo, no dia 29 de agosto, em que os cientistas usaram ferramentas biotecnológicas para isolar cepas microbianas capazes de promover o crescimento de plantas, bem como a remediação de hidrocarbonetos de diesel. Em resumo: os micróbios ajudaram as plantas a crescerem rapidamente e assim absorverem os hidrocarbonetos. 

E o Brasil? Vai bem, obrigado. Não há notícias de quaisquer vazamentos de óleo na fase de exploração de petróleo! Repito: zero! E olha que estamos há décadas produzindo petróleo e gás. Temos uma legislação ambiental das mais duras do mundo. Por determinação do Governador Carlos Brandão, estivemos na Petrobras no último mês de junho. A empresa está fazendo um dos maiores investimentos do planeta para a Margem Equatorial brasileira (MEQ).

Não estou falando só dos mais de R$ 10 bilhões anunciados para exploração na costa do Norte e Nordeste. O que falo é do maior programa ambiental que qualquer companhia já fez no planeta! A empresa não quis adiantar os valores, mas estimo que sejam alguns milhões de dólares investidos em preservação da costa e tecnologia de inteligência artificial para otimizar o uso do petróleo, gás, usando computadores de última geração.

Tudo visando a preservação ambiental. A Petrobras também nos buscou, professores e pesquisadores de universidades e centros de pesquisas do Amapá ao Rio de Janeiro. Estamos ali UFMA, UFPE, UFPA, UFRJ, UNIVALI e outras grandes instituições. Também está em plena atividade a Rede Amazônia Azul, formada pelos maiores nomes da área, tanto ambiental quanto de petróleo, que tenho a honra de coordenar.

Debatemos profundamente como utilizar as ferramentas de preservação ambiental: ambientalistas, engenheiros, tecnólogos, oceanógrafos, enfim, professores doutores em suas respectivas áreas opinando sobre o que queríamos para preservar nosso ambiente e produzir petróleo com segurança. Para desenvolvimento do país.

Há outros elementos nesse debate: a geopolítica, por exemplo. Jeffrey Sachs, em artigo recente, alerta para as distorções internacionais na agenda ambiental. Enquanto os EUA respondem por cerca de 24,6% das emissões de CO2 nos últimos 170 anos, o Paquistão – que está vivendo momento de chuvas torrenciais de monções acima da média – foi de apenas 0,3%. 

O grande estudioso completa que “com muita frequência, países ricos e poderosos negam suas responsabilidades históricas — seja pelo colonialismo, escravidão ou danos climáticos”. E encerra afirmando que “os países ricos deveriam arcar com sua parte proporcional dos custos atribuíveis de adaptação climática, resposta a emergências e recuperação em países que desempenharam pouco ou nenhum papel na causa das calamidades de hoje”. De fato, vemos muita opinião alienígena tentando tutelar os países pobres e lhes ditar os caminhos. O Brasil é um exemplo.

Para novos conceitos, novas ferramentas. Outro dia um conhecido falou que a internet 5G tinha chegado e não tinha alterado nada na vida dele e a relação com o celular... O fato é que há um mundo novo amanhecendo em que o planeta verde joga um papel central. O que fica muito claro é que, ao lado da política, cresce também a participação da academia. Seria muito estranho que debates importantes do Brasil, de interesse daqueles que vivem aqui no Norte e Nordeste, como é a Margem Equatorial, os maiores interessados – nós – não sejamos convidados ou, pior, sejamos simplesmente pautados, por exemplo, por estrangeiros.

Por outro lado, temos um país que investiu milhões de reais em pesquisa. O Brasil fez concursos para garantir ter os melhores quadros em suas universidades assim como tem programas de financiamento específicos, como fundo de petróleo e gás. Mais ainda, tem grandes estudiosos e especialistas para debater as questões ambientais.

São os estudantes de doutorado com seus orientadores que descobriram os blobs, que entederam como eles podem revolucionar os estudos de galáxias. Também foram eles os que sentam longas horas em bancos de escola e laboratório que encontram a solução planta-micróbio. E será novamente com eles que o Brasil terá uma avenida para o desenvolvimento. O debate sem eles é manco.

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP, membro da AMC, presidente da Gasmar.

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