SÃO LUÍS - Uma mãe, identificada como Sônia Fernandes Cazé, tenta enterrar o corpo da filha que foi trocado pelo Instituto Médico Legal (IML) de São Luís. Luise Fernandes Cazé, de 23 anos, natural do Distrito Federal, morreu há 14 dias, na capital maranhense. Com a troca, a família sepultou o corpo de uma outra pessoa, sem saber, enquanto o corpo de Luise ainda estava no IML.
Luise Fernandes Cazé, mulher transgênero, morava há um ano na capital maranhense, onde era bolsista no curso Psicologia em uma faculdade particular da cidade.
Dona Sônia Fernandes, que mora no Distrito Federal, soube da morte da filha pelas redes sociais. "Ela era muito carinhosa, muito sensível. Ela tinha uma empatia com as pessoas”, afirma a mãe.
O corpo de Luise Fernandes foi encontrado no último dia 6 de setembro, em uma praça, no bairro Cidade Operária, em São Luís, onde morava. De acordo com a mãe da vítima, que sofria de depressão, Luise recorreu ao suicídio por meio de uma overdose de medicamentos.
Dona Sônia não conseguiu embarcar para São Luís, assim que soube da morte da filha, por não ter dinheiro para as passagens. No dia seguinte, a mãe procurou o Instituto Florescer, entidade de apoio ao público LGBTQIA+, onde Luise já tinha sido atendida por causa dos transtornos psicológicos.
Como era feriado da Independência, dona Sônia só conseguiu passar uma procuração para a presidente do instituto, no dia 8 de setembro, para que ela fizesse o reconhecimento e desse entrada na liberação do corpo da jovem.
Dona Sônia disse que ao chegar no IML a presidente do Instituto Florescer foi avisada que “o corpo já estava petrificado, já tava podre. E aí ela foi reconhecer esse corpo e me ligou desesperada: ‘dona Sônia, infelizmente o corpo não vai poder ir pra Brasília, vai ter que ser aqui’.
Viagem para São Luís
Para chegar a São Luís e finalmente conseguir se despedir da filha Luise, dona Sônia precisou da ajuda de muitas pessoas. Mas só conseguiu chegar no dia 10 de setembro e nem teve a oportunidade ver o corpo de Luise.
“Não permitiram e, realmente, a gente já sentia o mal cheiro”, afirmou dona Sônia.
A troca
Após cinco dias de, suspostamente ter enterrado o corpo de Luise e já de volta em Brasília, dona Sônia recebeu uma ligação do Instituto Médico Legal (IML) avisando que o corpo que ela havia sepultado era de outra pessoa.
“Essa notícia foi como se eu tivesse recebido a notícia de que ele morreu ali, naquele momento de novo…como assim?”, disse Dona Sônia.
A pessoa que dona Sônia havia enterrado era de Devandro Lima Souza, como mostra o documento encaminhado ao cemitério, solicitando a exumação do corpo para entregar à família, que mora em Santa Inês, no interior do Maranhão.
A informação que se tem é de que Devandro foi vítima de acidente de carro, dias antes, da morte de Luise. A troca dos corpos só foi descoberta porque a família dele procurou o IML.
O corpo de Devandro foi exumado no dia 16. Já o de Luise Fernandes, continua na câmara fria do Instituto Médico Legal em São Luís.
O advogado Silas Pazzini, que defende a família da vítima, informou que o IML se negou a dar um documento atestando a troca dos corpos de Luise Fernandes e Devandro Lima.
“A maior dificuldade que a gente tem no momento é de documento. É necessário que seja feita uma retificação na Certidão de Óbito da Luise, para fazer constar o novo local de sepultamento. O local verdadeiro, porque a Luise não foi sepultada, foi sepultado um outro corpo”, explicou o delegado.
A Justiça
Para conseguir levar o corpo de Luise Fernandes para Brasília, a família vai ter que entrar na Justiça.
Em nota, a Secretária de Estado de Segurança Pública (SSP-MA) disse que houve um equívoco na entrega do cadáver em função do reconhecimento errôneo, pelo procurador instituído pela família da vítima. E que o próprio Instituto Médico Legal, após verificar o equívoco, providenciou a correção do ato.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA) já está no caso. Para o presidente, Erik Moraes, uma série de fatores contribuiu para o erro de identificação.
“A condição, o cheiro, o ambiente, a forma como está ali é para a pessoa fazer aquilo de maneira imediata e não é o correto. O correto é que ela esteja em uma condição de ter, pelo menos, alguns minutos. Que consiga verificar de maneira humanizada, olhar os corpos, olhar as características. Às vezes tem uma tatuagem, às vezes tem uma característica de cabelo, uma pinta, às vezes tem uma mancha”, destacou Erik Moraes, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA.
Para a mãe de Luise Fernandes, Dona Sônia, o desejo maior é levar o corpo da filha para ser enterrada na cidade onde nasceu e descansar o coração.
“Eu não quero saber quem é culpado, eu quero resolver o meu problema, levar a Luise, fazer um enterro digno, que todo ser humano tem esse direito”, declarou a mãe da jovem.
Saiba Mais
Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.