Agressões

Violência contra idosos atinge mais mulheres entre 60 e 70 anos em São Luís, aponta estudo

Negligência é o tipo de violência mais praticado, e filhos são principais agressores, segundo a pesquisa da UFMA.

Imirante, com informações da UFMA

SÃO LUÍS - Uma pesquisa realizada por estudante de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com a Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE-MA) revelou uma tendência de alta nos casos de violência contra idosos, entre os anos de 2015 e 2020, em São Luís. O estudo concluiu que houve crescimento de 13,22% no índice de casos de abandono, 20,22% em casos de negligência e 20,83% de autonegligência.

Foi constatado que as maiores vítimas são as mulheres que têm entre 60 e 70 anos, autodeclaradas pardas, alfabetizadas e que possuem renda familiar de até um salário mínimo. Quando se trata de porcentagens, a população feminina corresponde à 58,9% enquanto a masculina fica com 41,1%. 

Arte: Divulgação/Nupece/UFMA.
Arte: Divulgação/Nupece/UFMA.

Quanto ao âmbito racial, o estudo mostra que 52,9% são pessoas pardas, seguido por pessoas pretas (29,7%) e pessoas brancas (17,4%). Já em níveis de escolaridade, a análise diz que 87,5% das vítimas são escolarizadas enquanto 12,5% são analfabetas.

Quanto aos tipos de violência praticados, negligência vem em primeiro lugar, com 31,2%, seguida por violência psicológica, com 26%. Em terceiro lugar, está o abuso financeiro (21%), seguido pela violência física (12,7%). Abandono (5%) e autonegligência (4,1%) configuram nas últimas duas posições. Já o perfil dos agressores são representados primeiramente por filhos (48,3%), seguido por outros parentes como primos e sobrinhos (12%), netos (7,4%), instituições (6,9%), vizinhos (6%), companheiros (4,9%) e cuidadores (0,6%).

Arte: Divulgação/Nupece/UFMA.
Arte: Divulgação/Nupece/UFMA.

A análise do Núcleo de Estudo e Pesquisa Educação e Cuidado em Enfermagem (Nupece), do curso de Enfermagem da UFMA, utilizou dados obtidos pelo Centro Integrado de Apoio e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (Ciapvi), setor da DPE-MA responsável por acolher as denúncias de agressões.

O Nupece realiza pesquisas voltadas à área do envelhecimento. O professor Rafael de Abreu Lima coordena a pesquisa “Violência Contra a Pessoa Idosa no Estado do Maranhão”. 

De acordo com Lima, a ideia de realizar este trabalho, que busca identificar os tipos praticados de violências e os perfis de vítimas e seus agressores, surgiu após duas situações. A primeira foi uma observação feita após palestras ministradas pela coordenadora do Ciapvi, Isabel Lopizic. De acordo com o docente, a cada palestra realizada esporadicamente, foi percebida constância no aumento do número casos de violências e de suas variedades. A segunda foi quando houve um caso de óbito na região metropolitana de São Luís que gerou muita comoção na época.

A escolha de utilizar os dados do Ciapvi se deu pelo fato de o grupo ter acesso a todas as informações do processo, sobre o que acontece com a vítima após procurar o DPE-MA, qual o tipo de assistência ela vai receber e também quais as penalidades que serão aplicadas aos agressores. Ao todo, foram analisadas cerca de 5.700 fichas de atendimentos, que foram transformadas em tabelas e gráficos para melhor compreensão, um esforço coletivo que envolveu cerca de vinte estudantes do curso de Enfermagem. A pesquisa foi iniciada em 2019, e, em 2020, foi iniciada a coleta de dados. Segundo Lima, a perspectiva é que ocorra até o ano de 2023.

Recentemente, os membros do Nupece realizaram, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Maranhão (OAB-MA) uma audiência pública que reuniu representantes da DPE-MA, Ministério Público e da Rede Nacional de Defesa e Proteção da Pessoa Idosa (Renadi), de que o professor Rafael Lima faz parte. A ocasião serviu para a divulgação dos resultados obtidos, que estabelecerão os parâmetros de enfrentamento para os órgãos de fiscalização.

“Os órgãos vão se empenhar em melhor desenhar o atendimento, o fluxo, os processos de atendimento às vítimas e, principalmente, facilitar que o idoso, nesse processo, reconheça quando sofre violência. Às vezes, ele passa pela violência, mas já naturalizou tanto que não consegue mais enxergar como uma situação de agressão”, afirmou o professor Lima.

Todo esse trabalho é fruto da parceria institucional da UFMA, por meio do Nupece, com o DPE-MA. “Todo pesquisador tem a responsabilidade social de trazer informações para a comunidade e para a sociedade em geral”, ressaltou.

Em nenhum momento, os integrantes do Nupece tiveram contato com os idosos. Essa interação foi feita apenas pelas assistentes sociais do Ciapvi. Por questão de ética, os nomes dos envolvidos também não foram revelados.

Com o objetivo de assegurar os direitos à população que tenha 60 anos ou mais, o Governo Federal criou, em 2003, o Estatuto do Idoso. Instituído por meio da Lei nº 10.741, a legislação garante a cidadania e estipula as penalidades aplicáveis para quem desrespeitar suas determinações. 

Como denunciar

Para denunciar presencialmente, a Delegacia do Idoso está localizada na rua 13, s/n, Conjunto Cohab Anil VI, no antigo prédio do Centro Social Urbano (CSU), próximo ao Terminal de Integração da Cohab. Outro local para denúncias é o Ciapvi, localizado no prédio da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, situado na avenida Júnior Coimbra, s/n, Renascença II, próximo à Escola Reino Infantil. Outra opção são as delegacias de Polícia Civil, que também estão aptas a receber denúncias.

Para quem não pode ir pessoalmente, existem canais de atendimento. A Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) disponibiliza o “Disque Direitos Humanos – Disque 100”, com ligações gratuitas e funcionamento 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Outra opção de ligação é o serviço emergencial da Polícia Militar, bastando discar 190 gratuitamente. Também está disponível o aplicativo Direitos Humanos Brasil, que pode ser utilizado de forma gratuita por meio do sistema Android e IOS.

A ONDH também recebe denúncias por meio do Whatsapp e Telegram. No Whatsapp, basta mandar mensagem para o número (61) 99965-65008. No Telegram, é preciso digitar “Direitoshumanosbrasil” na busca do aplicativo. Por fim, a ONDH também disponibiliza um canal exclusivo para pessoas surdas e deficientes auditivas usuárias da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o Canal Atende Libras.

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