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COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Coluna do Kardec

A Margem Equatorial

A importância das descobertas de petróleo no litoral maranhense.

Alan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38

 

Detalhe da Pangeia
Detalhe da Pangeia

 

Não sei você, mas uma das coisas que mais me impressionou na minha infância foi a Pangeia. Quando a professora me mostrou o mapa do mundo e depois disse que todos aqueles continentes e países estiveram juntos um dia. A Pangeia, há 230 milhões de anos era o grande continente do planeta terra. Detalhe: como criança achei aquela imagem da Pangeia parecida com um girino dando a língua, ao contrário do Brasil que parecia um triângulo de cabeça pra baixo.

O que nos interessa aconteceu mesmo há 150 milhões de anos. O início do conhecido período cretáceo: o continente africano começou a se separar do nosso. Nesse período, ocorreram mudanças extraordinárias, entre elas a extinção dos dinossauros. Também surgiu o Oceano Atlântico e, abaixo dele, ficaram enterradas milhões de árvores que viriam, na nossa era, a se tornar hidrocarbonetos conhecidos como petróleo ou gás.

 

Correlação transatlântica
Correlação transatlântica

 

Do lado leste do Brasil, surgiria a região conhecida como Pré Sal, descoberta nos idos de 2006. Pelo formato, ela era chamada de “picanha” pela turma do petróleo à época. O óleo – ou petróleo – do Pré Sal fica a 4 mil metros ou 7 mil metros de profundidade, depois de uma camada de sal, se eventualmente ousarmos mergulhar no mar... Mas os geólogos enxergam o planeta terra do seu centro para superfície, por isso, tecnicamente eles denominam esta camada de “pré” sal, porque de dentro para fora ela aparece primeiro.

Essa descoberta tem história. Ela só foi possível pela insistência brasileira em pesquisar em águas profundas e ultra profundas. Afinal, só a camada de sal tem uma espessura de 2 mil a 2500 metros! Quem seria o louco...? A Petrobras fez isso! Junto com a pesquisa acadêmica principalmente centrada no CENPES da Universidade Federal do Rio de Janeiro, financiada pelos fundos do petróleo.

Aliás, muitos investimentos. Lembro que, quando eu era diretor da ANP, os recursos de investimento no CENPES eram em torno de R$ 250 milhões por ano, além de profissionais de altíssima qualidade. Claro, fora aqueles da própria Petrobras. Falo isso porque alguns insistem na tese de que universidade é para repetir a ciência alheia. Não. Universidade forma e dá forma ao futuro de um país. E uma boa universidade revoluciona!

Os bastidores do Pré Sal: uma técnica da Petrobras insistiu por muito tempo na exploração em águas profundas. Quando se diz que um campo “deu seco” é porque não se encontrou óleo suficiente que justificasse a produção. E foi isso que aconteceu em alguns campos da Bacia de Campos. A insistência brasileira deu certo e o que parecia impossível demonstrou ser de uma riqueza inestimável e uma enorme revolução tecnológica! 

Nossos vizinhos deste lado ou do outro lado do Oceano Atlântico copiaram a técnica de exploração em águas profundas. E encontraram muito óleo! Guiana e Suriname do lado de cá. Gana, Costa do Marfim, Libéria, Angola e tantos outros do outro lado. Guiana já anunciou em torno de 9 bilhões de barris, o Suriname mais um bilhão e os nossos irmãos africanos outros tantos bilhões. De nosso lado, temos o Pré Sal com reservas em torno de 40 bilhões de barris.

Basta um olho no mapa para compreender o que acontece. Vamos entender um pouco a formação geológica da América do Sul e, portanto, do Brasil. A Venezuela é um dos países com maiores reservas de petróleo do mundo. Vindo de lá do Oeste, encontramos o Suriname e a Guiana produzindo petróleo. Percorrendo o litoral do Brasil, passamos por Sergipe – que tem descobertas – entramos na costa do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, onde estão os campos do Pré Sal e chegamos até Pelotas, em que também se suspeita que exista.

É, portanto, cristalino concluir que no litoral que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte haja petróleo! Essa região é chamada de MARGEM EQUATORIAL. No setor petrolífero, ela é conhecida como uma das maiores fronteiras exploratórias do planeta! 

Mas não é só inferência e conclusão precipitadas. Há estudos. Há números. A empresa TGS já investiu somente em sísmicas na Bacia Pará Maranhão (PAMA) em torno de US$ 500 milhões de dólares. A Petrobras anunciou que perfurará 14 poços em um investimento de US$ 1.5 bilhões de dólares nos próximos anos.

Nós também temos um estudo, junto com Pedro Zalan e Ronaldo Carmona, que estimamos em torno de 20 a 30 bilhões de barris só na PAMA. É muito? Não, a Guiana, nossa vizinha, já anunciou 9 bilhões de barris. Imagina esse número multiplicado pelas Bacias de Barreirinhas, Ceará, Potiguar, Foz do Amazonas – esta última fica ao lado da Guiana.

Se antes era urgente esse investimento, ele se tornou imperativo! Era urgente por causa da transição energética. Agora é imperativo porque a geopolítica do planeta está mudando e guerra Rússia X Ucrânia é seu sinal mais evidente. Estamos com problemas de preços nos combustíveis, falta de fertilizantes e demandas energéticas diversas. O mundo inteiro entrou em crise e não há horizontes de alívio imediato. Ainda não vi nenhum especialista afirmar que essa equação vai se resolver rapidamente.

Por um lado, precisamos trabalhar para limpar a matriz energética. Não vou entrar em detalhes neste texto, mas algumas opções são hidrogênio verde e etanol. Por outro lado, precisamos aproveitar rapidamente os recursos que temos. Por uma razão pragmática: a nossa matriz energética é dependente de gasolina, diesel e gás natural. Mais ainda, os recursos do Pré Sal estagnaram, o que indica que vão se esgotar. 

Você talvez esteja se perguntando: e o que acontece de concreto? Bem, a Petrobras está se mobilizando e há uma rede de vários pesquisadores de alta envergadura, participando de estudos ambientais – para garantir lisura e transparência e obviamente visando a preservação ambiental. São professores e pesquisadores das universidades Federal do Pará, Federal do Amapá, da Federal do Maranhão, da Federal do Rio Grande do Norte, da Federal Fluminense, da UNIVALI, Federal de Juiz de Fora, Projeto Tamar e tantas outras.

Importante também falar das mobilizações de classe e políticas. A FIEMA via o grupo “Pensar o Maranhão” está conversando, junto com a FIEPA, com a bancada federal para a criação da frente parlamentar para a defesa da Bacia Pará Maranhão. E o Governador Carlos Brandão há muito tempo já dialoga com protagonistas nacionais para trazer esses investimentos, junto com José Reinaldo.

Não tenho dúvidas que avançaremos. E muito. Percorremos o Brasil inteiro desfraldando essa bandeira, Brasília, Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Fortaleza e tantos outros locais. O Brasil tem de olhar para o Brasil! Mas o ritmo do desenvolvimento quem vai ditar somos nós. 

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD pela Universidade de Nagoya, Japão, professor titular da UFMA, ex-diretor da ANP

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