Desmistificando a Academia
As pessoas não sabem exatamente como funciona uma entidade como a Academia Maranhense de Letras e em parte a culpa é dela.
É fácil falar mal de algo ou de alguém que não se conhece. Na maioria das vezes, o descompromisso se confunde com uma absurda noção de liberdade de expressão, que dá a sensação às pessoas pouco responsáveis, que elas podem dizer o que bem entenderem, pois estarão protegidas, não apenas legalmente, mas imunizadas contra as tolices ou as calúnias que possam prolatar.
Ouvi muitas bobagens sendo ditas quando os membros da Academia Maranhense de Letras resolveram eleger Flávio Dino para ocupar a cadeira que havia sido a de seu pai, Sálvio de Jesus.
As pessoas não sabem exatamente como funciona uma entidade como a AML e em parte a culpa é dela e de seus membros que preferem não se abrir para a sociedade, deixando em torno de si uma aura de mistério, como se lá, fosse realmente um lugar de “imortais”.
Como não poderia deixar de ser, a imortalidade das academias é metafórica, e traz na forma do ingresso de cada novo membro, o motivo desta “imortalidade”, pois obrigatoriamente, todos os nomes ligados a cadeira vaga que será ocupada, sejam lembrados, citados, referenciados e reverenciados, fazendo com que a lembrança deles, de seus feitos e suas obras, os tornem eternos e eternizados a cada sucessão.
O ingresso nas academias, sejam elas do que forem, de letras, de artes, de ciências, de medicina, jurídicas... Se deve mais pela capacidade de convivência do entrante que pela qualidade de seus trabalhos, quaisquer que sejam, porém eles não podem jamais serem desconsiderados.
Falo deste assunto hoje, pelo fato de uma pessoa, que eu nem conhecia, ter me abordado em um supermercado, para me perguntar quem nós da AML, iremos eleger para ocupar as duas vagas abertas com os falecimentos de Luiz Phelipe Andrés e Fernando Braga, e ironizando, sutilmente, sugeriu que elegêssemos escritores para as vagas.
Aquele sujeito não sabe que as academias podem ter em seus quadros, além de escritores consagrados, como é o caso de diversos de nossos confrades, pessoas que se destaquem em outros setores como é o caso de Nelson Pereira dos Santos, um dos mais importantes cineastas brasileiros, que foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, assim como recentemente a mesma ABL elegeu um de nossos maiores compositores, o poeta da música, Gilberto Gil e uma das maiores atrizes do mundo, intérprete de textos poéticos e dramáticos, Fernanda Montenegro.
Contei até 10 como o Zeca Diabo de Dias Gomes e respondi para aquele senhor, que falou comigo como se soubesse do que falava. Expliquei-lhe de forma simpática e didática, mais ou menos isso que disse aqui anteriormente, e ele me questionou sobre quem eu achava que deveriam ser os eleitos para as duas vagas.
Achei a pergunta meio estranha, pois o cidadão parecia estar interessado em informações privilegiadas! Ri só com meus botões, mesmo estando de camisa de malha, mas resolvi entrar na dele.
Disse-lhe que os nomes que identificava como os mais viáveis, possíveis e até “desejáveis”, naquele momento, eram os de Salgado Maranhão, Arlete Machado, Rossini Correa, José Jorge Soares, Kátia Bogea, Luís Augusto Cassas, Mundinha Araújo e Lenita de Sá. Disse a ele que essa lista poderia ser ampliada, e citei Celso Borges, Alexandre Lago, Bruno Tomé, Regina Farias, Eulálio Figueiredo, Alan Kardec, Maria Tereza Neves... Disse-lhe que havia outros, como Alcione, Zeca Baleiro e Tácito Borralho, porém expliquei-lhe que citava estes, mais por sua importância, que propriamente por terem chances ou quererem entrar para a AML. Disse-lhe que havia muitas outras pessoas que poderiam também cogitar seu ingresso.
O homem insistiu para que eu dissesse quem eu achava ou pelo menos em quem eu votaria para as duas vagas existentes, e brincou comigo: “Afinal, você entende muito de eleição, sempre acerta os nomes de quem vai se eleger!”
A conversa me intrigava cada vez mais e resolvi dar corda para ver onde aquilo nos levaria.
Disse a ele que no caso das duas vagas que estão abertas, acredito que, caso Salgado e Arlete se candidatassem, ninguém ganharia deles. Caso não se candidatassem, a chance de Rossini cresceria bastante. Disse também ao meu interlocutor que existe um grupo que cogita a candidatura de Kátia em substituição a Luiz Phelipe e que eu particularmente gostaria muito de ter conosco, alguém que pudesse nos ajudar, e bastante, na gestão da Casa, como ela ou Zé Jorge.
O senhor sorriu amarelo, se despediu e continuou suas compras.
Minutos depois, na fila do caixa, encontrei com ele, conversando com um sujeito que embala sonhos de entrar para a AML, já faz algum tempo.
Na saída do supermercado, voltei a encontrar com aquele senhor, agora sozinho, e aproveitei para comentar com ele sobre a ideia que meu amigo e confrade Jomar Moraes tinha sobre o ingresso de alguém na AML. Dizia Jomar, no que é seguido por Sebastião Moreira Duarte, Américo Azevedo Neto e Benedito Buzar, alguns dos mais importantes e ilustres membros daquela Casa, que a pessoa que postulasse uma vaga numa Academia, mais que trazer para si os méritos de ostentar o colar, o fardão, o nome ou a glória de ser um acadêmico, deveria pensar em levar para a instituição seu talento e sua força de trabalho, para honrar e defender a literatura, a arte e a cultura. Que mais que se beneficiar com o fato de ser “imortal”, buscasse imortalizar a instituição e fazer com que ela fosse relevante no contexto cultural da sociedade.
O homem franziu a testa, esticou a mão para me cumprimentar e se foi.
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