(Divulgação)
COLUNA
Joaquim Haickel
Joaquim Haickel é cineasta, analista político e foi deputado constituinte em 1988.
Memória

Três amigos

Recentemente recebi ligações de três grandes e queridos amigos, coisa que muito me alegrou, pois pudemos conversar sobre eventos importantes de nossas vidas.

Joaquim Haickel

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
Carlos Alberto Milhomem, Antonio Carlos Braid e Aderson Lago
Carlos Alberto Milhomem, Antonio Carlos Braid e Aderson Lago

Recentemente recebi ligações de três grandes e queridos amigos, coisa que muito me alegrou, pois pudemos conversar sobre eventos importantes de nossas vidas. 

Carlos Alberto Milhomem, Antonio Carlos Braid e Aderson Lago estiveram presentes em alguns dos momentos mais importantes de minha vida política, seja como deputado, seja como secretário de estado.

Fazendo um rápido retrospecto de minha jornada política, comecei como assessor parlamentar em 1978, cargo que ocupei até 1980, quando passei a ser oficial de gabinete do então governador João Castelo, mas depois pedi transferência para o gabinete do Secretário-Chefe da Casa Civil do Governo, José Burnet, para em 1982 concorrer a um mandato de deputado estadual, que assumi em 1983, aos 22 anos de idade. Naquela legislatura, fui o mais jovem parlamentar do Brasil.

Durante todo esse tempo, meu parâmetro maior foi meu pai, e continua sendo até hoje, mas que juntei a ele outros, como Zé Sarney, por exemplo.

Esses três amigos me servem também de parâmetro. Muitas vezes me pego imaginando o que eles fariam em alguma situação.

Trabalhei com Milhomem na Secretaria de Assuntos Políticos, no Governo Lobão, ocasião em que pude conviver mais com ele, já que o conhecia desde o tempo em que eu fora Deputado Federal Constituinte e ele era o coordenador geral pelo gabinete de Lobão, em Brasília.

A princípio, quem não o conhece pode até ter um pouco de medo dele, pois ele é aparentemente bruto, mas por debaixo daquela casca grossa, há um camarada gentil e bondoso. Não diria delicado, isso não, mas generoso e sensível, por mais incrível que possa parecer.

Anos mais tarde trabalhei pela eleição de Milhomem para presidente da Assembleia, ocasião em que exerci o cargo de primeiro secretário do poder legislativo maranhense.

Naqueles dois anos, realizamos coisas incríveis na ALM. Coisas estruturantes como a nova sede, como revisões de regimento e da constituição. Arrumamos a Casa, como se costuma dizer.

Nessa época, Braid e Aderson também estavam juntos conosco.

Com Braid, a relação é hereditária. Meu pai era muito amigo dele, tanto que o sucedeu na presidência da Assembleia Legislativa. 

Aqui abro um parêntese para dizer que mesmo tendo passado apenas sete meses no comando do legislativo maranhense, Nagib Haickel gravou seu nome em pedra, na história daquele poder, por seu jeito simples, despojado, aberto e acolhedor. Valorizou os funcionários, deu força aos deputados e credibilidade ao poder legislativo, e Braid o ajudou muito nisso. Aderson também. E Milhomem servindo de ponte entre ele e os deputados com o governo e os secretários de estado, que por exigência de meu pai, passaram a despachar do gabinete da presidência da ALM.

No dia 7 de setembro de 1993, na cidade de Coroatá, depois de um desfile cívico e de um lauto almoço, meu pai, Nagib Haickel, então presidente da Assembleia legislativa do Maranhão, faleceria, nos braços de Carlos Braid e Marcony Farias.

Aderson Lago, este é um caso curioso. “Dersinho”, era como meu pai o chamava, isso quando não usava um outro apelido, mais apimentado: “Messalina”. Em ambos os casos, era sempre no sentido carinhoso, mesmo que os dois não combinassem em quase nada politicamente.

Aderson tinha um histórico antigo com meu pai, desde o tempo em que, como engenheiro, trabalhava com Jerônimo Pinheiro, na SEDUC, no governo Nunes Freire. Passou pela CAEMA, no governo Cafeteira e naqueles dias, estavam juntos, como deputados, na Assembleia Legislativa. 

Aderson tem algumas passagens homéricas com meu pai. Comigo então, elas foram ainda mais sensacionais, como na ocasião em que conclamei a oposição a apoiar a candidatura de Milhomem a presidente da ALM, e nnão posso deixar de citar o dia em que ele não tendo como demolir meus argumentos em um debate, recitou um poema de Guerra Junqueiro, comparando-me ao personagem de um poema, um tal “Tertuliano”... Menino levado!...

Depois que meu pai morreu, resolvi fazer um filme sobre ele, “O caboclo do Vale do Pindaré”. Procurei imagens de arquivo e amigos que pudessem falar alguma coisa sobre o personagem. Milhomem é do tipo que não gosta muito de falar, principalmente em frente às câmeras. Braid contou sobre os últimos momentos dele com meu pai. Aderson contou várias histórias. Algumas incríveis. Uma que até o levou às lágrimas, durante a gravação.

Esses três homens, mais velhos que eu, mais vividos e experientes que eu, são verdadeiros amigos. Foram de meu pai e são meus. 

Tenho outros verdadeiros bons amigos, mas esses três são especiais, pois fizeram e fazem parte de momentos importantes de minha vida.

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.