(Divulgação)

COLUNA

Allan Kardec
É professor universitário, engenheiro elétrico com doutorado em Information Engineering pela Universidade de Nagoya e pós-doutorado pelo RIKEN (The Institute of Physics and Chemistry).
Petróleo

O mar do Maranhão

Estamos completando apenas três meses de 2022. Sim. Só três meses e já atravessamos debates sobre o fim da Covid, guerra na Europa e uma imensa crise de combustíveis.

Allan Kardec

Atualizada em 02/05/2023 às 23h38
Plataforma de petróleo
Plataforma de petróleo

Estamos completando apenas três meses de 2022. Sim. Só três meses e já atravessamos debates sobre o fim da Covid, guerra na Europa e uma imensa crise de combustíveis. 

Quando Cabalau me convidou para fazer parte dos colunistas do Imirante.com não poderia ficar mais animado e empolgado! Por um momento, pensei que não teria assunto, mas a realidade objetiva se impôs e mostrou os enormes desafios adiante, sobre o que poderíamos dialogar e debater neste espaço.

Um deles está aqui adiante, na nossa frente: no mar do Maranhão – que dá título a este artigo. Falo de petróleo. Não muito longe, a Oeste, temos exploração e produção na Guiana e Suriname. Do outro lado do Atlântico, o litoral africano de Costa do Marfim, Libéria ou Gana produz milhões de barris de petróleo.

Há 150 milhões de anos, todos esses países formavam um único continente. Mas eles só começaram a produzir petróleo muito depois que o Brasil começou a explorar o Pré Sal – essa preciosidade histórica e energética de nosso país.

A saga do Brasil de encontrar petróleo em alto mar e em águas profundas, em torno de 4 km ou 7 km de profundidade, envolveu Ciência, forte investimento em pesquisa e desenvolvimento e, fundamentalmente, ousadia. Afinal, ninguém pensava que haveria petróleo nessa profundidade, e muito menos que seríamos capazes de atravessar 2 km de sal com uma sonda para extrair petróleo além dessa camada.

E o que fez o sucesso de Guiana, Suriname, Costa do Marfim, Libéria ou Gana? A tecnologia de águas profundas do Brasil. O mesmo Brasil que tem a matriz de combustíveis mais limpa do planeta e um dos países que enfrentou os desafios ambientais investindo em tecnologia. Hoje temos etanol de cana de açúcar na gasolina – o melhor etanol do mundo, de segunda geração – e biodiesel de soja ou sebo no diesel. Nenhum outro país conseguiu fazer o que fazemos – embora tenhamos pouco orgulho de nossa capacidade de fazer Ciência e tecnologia. Afinal, começamos a fazer aviões quando não fabricávamos nem bicicleta. 

Por outro lado, temos uma gigantesca crise no preço dos combustíveis. E, junto com ela, uma crise internacional por conta de uma guerra que afeta a distribuição de gás na Europa e a de fertilizantes pro resto do mundo – pra dizer o mínimo. 

E o que tem isso tudo a ver com o petróleo no Maranhão? Bem, fizemos um estudo com Pedro Zalan e Ronaldo Carmona em que estimamos em torno de 20 a 30 bilhões de barris de petróleo aqui em frente, na Bacia Pará Maranhão. Esse volume é proporcional ao que se tem encontrado na Guiana e Suriname: em torno de 10 bilhões de barris.

O Brasil precisa ter segurança energética. Os ventos da guerra nos atingem em cheio. Hoje nossa maior produção e investimento é no petróleo produzido do Pré Sal, na costa do Rio de Janeiro e São Paulo. A Petrobras, por outro lado, já anunciou um investimento de US$1.5 bilhões de dólares – em torno de R$8 bilhões de reais aqui na chamada Margem Equatorial – que vai da foz do Amazonas ao Rio Grande do Norte. E só dos campos que ela já é proprietária – em que perfurará 14 poços. Mas podemos ir mais além! Temos de fomentar um desenvolvimento nacional que contemple também a Margem Equatorial – reconhecidamente a segunda maior fronteira exploratória do planeta!

A FIEMA tem mobilizado vários atores nacionais, através do grupo de trabalho “Pensar o Maranhão”. Igualmente, a classe política tem feito movimentos para desenvolver esse projeto que é de interesse nacional, como o Governador Flávio Dino e o Governador Carlos Brandão, além do deputado Pedro Lucas Fernandes.

Do lado acadêmico, um grupo de professores do Brasil inteiro pensou a Rede Amazônia Azul, que tenho a honra de coordenar. Formada por pesquisadores de grande envergadura. Temos dialogado de Norte a Sul, de Brasília ao Rio de Janeiro, de Belém a São Luís sobre esse importante tema. Na Rede também há grandes nomes da indústria e do meio ambiente. 

Mas não somos só nós que estamos mobilizados. Professores, pesquisadores e cientistas do Amapá ao Rio Grande do Norte, e deste a Santa Catarina estão também sendo procurados para se manifestarem em relação ao que estão estudando sobre a Margem Equatorial. Nesse debate, estão sendo discutidos os aspectos energéticos, geopolíticos e ambientais.

Ainda que pareça muito, precisamos avançar mais. Não se desenvolve um país sem pensamento estratégico. E um dos aspectos, como disse, é a segurança energética. O Brasil precisa se apropriar do que é seu. Temos outras fontes de energia – que falaremos em outro artigo – mas não podemos renunciar ao petróleo, ou ficaremos fadados a comprar de nossos vizinhos, que produzem o seu com a tecnologia de águas profundas – que nós desenvolvemos.

PS. Dedico esta humilde página a Simone Macieira, hoje no Plano Maior. Sempre me cobrava o retorno à escrita. Sua bênção, querida!

*Allan Kardec Duailibe Barros Filho, PhD, professor titular da UFMA

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