Há 96 anos

Asilo de Mendicidade de São Luís guarda histórias de vida e afeto

Local é uma instituição não governamental que cuida de idosos do Maranhão.

Heider Matos/Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h49
 O Asilo de Mendicidade de São Luís é mantido pela Loja Maçônica Renascença. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
O Asilo de Mendicidade de São Luís é mantido pela Loja Maçônica Renascença. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

SÃO LUÍS – Criado há 96 anos, o Asilo de Mendicidade de São Luís guarda histórias de vida e afeto, que mundo tratou de esquecer. O asilo é uma instituição não governamental que atende e cuida de idosos carentes do Estado do Maranhão. A instituição abriga atualmente 23 idosos, sendo, 11 homens e 12 mulheres. Segundo a administração, metade dos asilados não possui família.

Fundado em 21 de abril de 1919, pela Loja Maçônica Renascença, o asilo tinha como objetivo combater a mendicância, mas, com o tempo, a instituição percebeu que precisara mudar o foco. “Os tempos foram passando, a cidade foi expandindo. Percebeu-se que o asilo não teria condições, e nem capacidade para acomodar os mendigos. Diante disso, foi preciso mudar o foco da instituição. Ao invés de mendigos, buscamos idosos que necessitam de cuidados”, conta o administrador do asilo, Ulisses Mendes Aires.

 Boa parte dos idosos não têm família e encontram no asilo, seu abrigo seguro. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
Boa parte dos idosos não têm família e encontram no asilo, seu abrigo seguro. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

O asilo realiza diariamente atendimentos fisioterapêuticos, nutricional e de terapia ocupacional. Dependendo do grau de dificuldade, os atendimentos são feitos em grupos, ou individual. Periodicamente, a diretoria realiza passeios com os moradores. Ulisses relata que o asilo tem condições para atender 30 idosos, mas devido a uma norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esse número teve que ser reduzido. “Existe uma proporcionalidade de número de técnicos de idoso, por número de idosos. E esse contingente, é classificado por grau de dependência, que vai de 1 a 3. Quanto maior é o grau de dependência, menor é a quantidade de idosos a serem atendidos por um técnico. E pelo contingente que nós temos hoje, 23 é o máximo que os nossos profissionais podem atender” informou.

Para alguns, o Asilo da Mendicidade tornou-se um abrigo seguro, para outros um suplício, um local de refúgio. Para os que por algum motivo lá estão asilados, funcionários e voluntários tornaram-se a segunda família, e em muitos casos, por afeto e dedicação consideram como primeira família, e em outras, a única.

 Ithamar mostra com orgulho suas obras. Muitas delas, feitas no asilo. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
Ithamar mostra com orgulho suas obras. Muitas delas, feitas no asilo. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

Há dezesseis anos, o genioso Ithamar Monteiro Nunes mora no asilo, e conta entre muitos sorrisos e respostas ácidas, como chegou ao local. “Ninguém me trouxe, eu que quis vir pra cá. [...] Cheguei aqui após problemas de família. Venderam uma casa na Praça da Alegria e eu não gostei. Fui morar com minha irmã. Mas, sabe como é! Irmão briga com irmão. Aí decidi que não ia ficar brigando todo dia. E vim para o asilo”. Ithamar se diz muito satisfeito no lar onde vive atualmente, pois recebe os cuidados e atenção necessários para a sua idade. Aos 78 anos, o bem-humorado Ithamar ainda está em pleno exercício de suas muitas profissões. Por ter diversas habilidades, a instituição cedeu um local para que ele pudesse lecionar. “Neste local, dou aulas de matemática, pintura, desenho e ainda sou arquiteto”.

A história da dona Conceição de Maria Lobato Pereira, 84 anos, é bem diferente. Entre sussurros e assovios, Conceição conta que veio para o asilo, após uma parenta ter vendido a casa em que morava. Sem ter para onde ir e quem cuidasse dela, a única opção foi vir para o asilo. “A minha cunhada vendeu a minha casa para uma sobrinha e ficou com todo o dinheiro. Vim pra cá por que não tinha quem cuidasse de mim. Todos já morreram”, disse.

No coração da capital maranhense, em um casarão histórico às margens do rio Anil, encontra-se histórias como as de Ithamar e Conceição. Histórias que o mundo esqueceu, mas, que se mantém vivo nas lembranças de seus autores.

 Vista do Centro Histórico de São Luís. Foto: Heider Matos/Imirante.com.
Vista do Centro Histórico de São Luís. Foto: Heider Matos/Imirante.com.

Crime contra idosos no Brasil

O Asilo de Mendicidade de São Luís é um exemplo para tantos outros, Brasil a fora. No ano passado, em Águas Lindas (GO), cinco abrigos foram interditados por maus-tratos a idosos e cinco funcionários foram presos. Cerca de 70 idosos e internos, dentre eles: jovens com problemas mentais e dependentes químicos, foram transferidos para os cuidados da prefeitura.

Após várias denúncias de maus-tratos contra pessoas idosas o Papa Francisco, disse em um pronunciamento para cerca de 40 mil idosos na praça de São Pedro, no Vaticano, que um povo que não cuida dos seus idosos, dos seus avós, e os maltrata, é um povo sem futuro, pois perde a memória e vive separado das próprias raízes. “Uma das coisas mais bonitas em uma família é poder acariciar uma criança e deixar-se acariciar pelo avô ou pela avó”.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, em caso de denúncias, os gestores são notificados e devem prestar esclarecimentos. Os conselhos de Assistência Social são informados para que possam exercer o controle social da política pública, conforme estabelecido na Política Nacional de Assistência Social. No Brasil, segundo o Censo Suas (Sistema Único da Assistência Social), existiam em 2013, em todo o país, 1.167 instituições de acolhimento cadastradas, que recebiam 44.416 pessoas idosas.

Veja a galeria de fotos do Asilo de Mendicidade de São Luís.

Há 95 anos, o Asilo de Mendicidade de São Luís guarda histórias de vida e afeto

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