SÃO LUÍS – Uma das principais reivindicações dos manifestantes que tomaram ruas e avenidas de todo o país nas últimas semanas, a melhoria do transporte público é algo almejado tanto por quem depende do sistema para se locomover em capitais e grandes cidades, quanto por quem gostaria de abrir mão de um veículo particular. Engarrafamentos, acidentes e pouco espaço para uma quantidade crescente de automóveis provocam o caos no trânsito, problemas que, hoje, afetam a todos. A falta de mobilidade urbana é causada, basicamente, pelo crescimento desordenado das cidades e pela falta de planejamento no passado. Uma parcela da culpa, também, pode ser atribuída à própria população, que não cultiva o hábito de usar meios sustentáveis de locomoção, como as bicicletas.
No início de 2011, o arquiteto maranhense Diogo Pires Ferreira – então mestrando em Urbanismo no programa Master Europeu de Urbanismo pela Universitat Politècnica de Catalunya (UPC) Barcelona, na Espanha -, propôs um novo modelo para o sistema de transporte público em São Luís. O projeto de urbanismo surgiu de uma tese desenvolvida pelo arquiteto. Na proposta, estão medidas que privilegiam o transporte rápido entre as principais vias da capital maranhense, após a identificação dos pontos de maior necessidade. O modelo propõe, também, a utilização de vans e micro-ônibus que atendam à necessidade pelo transporte regionalizado, interligados com as vias de fluxo rápido. Um resumo da tese foi publicado por meio de vídeo no YouTube e ganhou repercussão na internet e na imprensa.
Ainda em 2011, o arquiteto foi procurado por lideranças políticas que se interessaram pelo projeto. Nas eleições do ano passado, dos oito candidatos ao cargo de prefeito da capital, pelo menos, cinco demonstraram interesse, inclusive o atual prefeito, Edivaldo Holanda Júnior. Em entrevista por telefone ao Imirante, na tarde desta sexta-feira (5), Diogo Ferreira afirmou que, nas últimas semanas, foi procurado por manifestantes que queriam entender melhor a proposta e avaliar sua viabilidade, em busca de melhorias no sistema de transporte público na cidade, o que levou à publicação de uma versão atualizada do vídeo – veja abaixo.
Aos manifestantes, a Prefeitura de São Luís teria garantido que a proposta era inviável, o que o arquiteto contesta. "O projeto não é inviável, porque visa décadas à frente. Esse não é um trabalho para agora, não é um desenho à toa. Leva tempo para ser implementado", disse à reportagem do Imirante. Ele acredita que há uma necessidade urgente em se fazer melhorias no atual sistema de transporte público da capital maranhense. "O mais curioso é que os empresários, que, normalmente, são contra a uma reestruturação do modelo, também, ganhariam com esse sistema, porque os percursos, hoje, não são eficientes", completa.
Aplicação das medidas
Atualmente, São Luís conta com 185 linhas de ônibus e apenas quatro terminais de integração. Algumas das linhas não são integradas, obrigando o usuário a pagar uma passagem a mais e mostrando a ineficiência do sistema de transporte público da cidade. Além disso, não há faixas exclusivas para ônibus.
Entre as propostas do arquiteto, está a disponibilização de mapas para os usuários com as linhas de ônibus da capital. Um dos modelos de mapa, proposto na tese de Diogo Ferreira, tem tamanho compacto, que, dobrado, possui o tamanho de um cartão de crédito e, logo, pode ser levado no bolso. "Hoje, se você não é usuário costumeiro e quiser usar o transporte público, você não sabe qual linha usar, o que é um absurdo", exemplifica. Medidas de educação ao usuário, também, fazem parte da proposta.
Segundo cálculos do próprio arquiteto, se as medidas propostas fossem aplicadas, a espera pelo ônibus em todas as linhas da cidade seria reduzida para apenas cinco minutos.
Vontade política
Questionado sobre a possibilidade de tornar a disponibilizar a proposta para os órgãos responsáveis pelo trânsito na capital, o arquiteto afirmou que, sim, está aberto à conversa com as autoridades competentes, mas que, em sua opinião, ainda, falta vontade política de tornar as mudanças possíveis.
Atualmente, ele integra uma equipe técnica que trabalha na reestruturação do sistema de transporte público em 10 cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, que está em fase de mapeamento. O convite surgiu, exatamente, pela tese que defendeu em 2011. Segundo Diogo Pires Ferreira, quando concluída, a reestruturação se refletirá em melhorias para os usuários do transporte público da capital gaúcha e entorno, e, também, na redução de custos. A ideia é expandir as melhorias para os 32 municípios que compõem a Região Metropolitana Porto Alegre.
Além da vontade política, ele acredita que, para o transporte público melhorar, as ações devem partir dos próprios usuários. "Não é algo coisa que toca somente aos empresários. Toca a toda a população", finaliza.
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