Foragidos

Polícia tenta localizar e prender três suspeitos no caso Décio Sá

Segundo a polícia, inquérito pode se estender por mais 60 dias.

O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h20

SÃO LUÍS - Apesar de ter declarado elucidado o assassinato do jornalista Décio Sá, de 42 anos, com as prisões dos mandantes agiotas, intermediadores e do próprio executor, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Maranhão ainda precisa localizar e prender mais três suspeitos de participação no crime, que estão foragidos. Estes, segundo a Polícia Civil, são o piloto da moto que deu fuga ao assassino e os que apresentaram o matador aos líderes da rede criminosa de agiotagem, desbaratada na madrugada de quarta-feira, 13, durante a Operação Detonando.

O secretário de Segurança, Aluísio Mendes, ao longo da semana, chegou a revelar os nomes de dois dos foragidos, que, assim como os demais, também tiveram prisões temporárias (válidas por 30 dias) decretadas pela juíza Alice Rocha, titular da 1ª Vara do Tribunal de Júri. "Estamos trabalhando de forma intensa para capturar o homem que pilotava a moto utilizada no crime, que identificamos como Diego; e aquele que de fato apresentou o assassino aos intermediadores, o Neguinho. A identificação do terceiro foragido, porém, vamos manter em sigilo", disse Mendes.

Mesmo com a cautela da comissão investigadora, o nome do terceiro integrante do bando já havia sido revelado no mesmo dia da operação por alguns investigadores que participaram da ação policial. Trata-se de Balão, que trabalhava como assessor e cobrador nos negócios de agiotagem da quadrilha. O suspeito, segundo foi informado, seria oriundo do município de Santa Inês, onde, porém, não foi localizado em seu endereço. Ontem, o superintendente de Investigações Criminais, Augusto Barros, disse que o inquérito pode se estender por mais 60 dias.

"São muitas diligências que ainda precisam ser feitas; prisões a serem cumpridas por determinação judicial; presos a serem ouvidos; além de uma série de documentos para serem analisados e periciados no Instituto de Criminalística [Icrim], entre eles os 37 talões de cheques em branco, apreendidos em poder dos agiotas, com assinaturas de vários prefeitos de municípios do Maranhão. Sem dúvida, vamos precisar ainda de pelo menos dois meses para concluir todos estes trabalhos e, mesmo assim, com grande chance deste prazo ser novamente prorrogado", acredita Barros.

Detonando

Na madrugada de quarta-feira, 13, a Polícia Civil conseguiu prender em São Luís grande parte da rede criminosa que planejou e executou a morte do jornalista Décio Sá, ocorrida na noite do dia 23 de abril, em um bar na Avenida Litorânea. Oito pessoas tiveram prisões decretadas pela Justiça, entre empresários agiotas, agenciadores, um oficial da Polícia Militar e o próprio executor do crime, o paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 24 anos, que já havia sido preso no dia 5, como traficante de drogas, no município de São José de Ribamar.

Detonando

Intitulada Operação Detonando - em alusão ao verbo mais utilizado por Décio Sá, quando este se referia às suas postagens em seu blog de cunho político e carregadas de denúncias -, a ação policial teve o emprego de mais de 70 policiais civis, além de homens do Grupo Tático Aéreo (GTA) e 12 delegados. Os primeiros a serem presos foram os empresários agiotas Gláucio Alencar Pontes Carvalho, de 34 anos, que atua na distribuição de merenda escolar; e o pai dele, José de Alencar Miranda Carvalho, de 72 anos, que contrataram por R$ 100 mil a morte do jornalista.

Pai e filho, segundo as investigações, se viram ameaçados pelas publicações de Décio Sá em seu blog (www.blogdodecio.com.br), principalmente depois que o jornalista noticiou o assassinato do também empresário agiota Fábio dos Santos Brasil Filho, o Fábio Brasil, de 33 anos, ocorrido em março, na cidade de Teresina-PI. A vítima foi executada com três tiros de pistola PT 380, na cabeça, e o crime relacionado, em primeira mão, pelo blogueiro, a um grupo de agiotas estabelecido no Maranhão. Receosos, os agiotas acionaram dois de seus homens de confiança.

José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, de 38 anos, empresário do ramo de veículos, e representante de uma distribuidora de bebidas, em Santa Inês, e Fábio Aurélio do Lago e Silva, o Buchecha, de 32 anos, também foram presos na operação da polícia. A dupla, conforme as investigações, teria ficado responsável pela contratação do pistoleiro paraense, com a ajuda dos foragidos Balão e Neguinho. Ao confessar a autoria do crime, o executor afirmou que recebeu a pistola ponto 40 de Júnior Bolinha e que a arma havia sido arranjada por um capitão da PM.

Afastado

A Justiça, com base no inquérito policial, determinou, portanto, a prisão do subcomandante do Batalhão de Choque da PM, o capitão Fábio Aurélio Saraiva Silva, de 36 anos. Além de ter o seu nome citado várias vezes pelo executor, o oficial teve prisão decretada sob suspeita de ter cedido a arma para a execução do crime. Fábio Capita, como é conhecido entre os colegas de farda, foi imediatamente afastado de suas funções na corporação e recolhido para uma cela especial, no próprio Comando Geral da PM, no bairro Calhau.

O oficial foi preso no próprio quartel, quando iniciava o expediente na instituição. Ele foi o único que não foi apresentado com a quadrilha, durante a entrevista coletiva na sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP), no bairro Outeiro da Cruz, pois, segundo o comandante-geral da

PMMA, coronel Franklin Pacheco, teria sofrido um "pico de pressão" a caminho de se juntar aos demais suspeitos. "Ao contrário do que foi dito sobre corporativismo, não íamos poupá-lo da apresentação, mas ele passou mal e tivemos que encaminhá-lo ao hospital", afirmou Pacheco.

Fábio Aurélio Saraiva Silva, que já trabalha como militar há mais de 18 anos, oito deles no BPChoque - tropa de elite da qual é subcomandante há dois anos e quatro meses -, teve a arma particular apreendida e entregue aos delegados da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital. A notícia de seu suposto envolvimento na morte de Décio Sá, porém, foi recebida entre os militares do estado como uma grande surpresa, principalmente por Franklin Pacheco. "Trata-se de um militar exemplar, sem nenhum desvio de conduta em toda a sua carreira", disse o comandante-geral da PM.

Apesar dos elogios, Pacheco deixou claro que a instituição jamais se furtaria de cumprir qualquer ordem judicial, seja em desfavor de um soldado ou de um coronel. "O capitão não nega que é amigo de infância de Júnior Bolinha, mas nega categoricamente ter fornecido alguma arma para o suspeito. Caso fique comprovada a sua participação no crime, o oficial será submetido a um 'Conselho de Justificação', quando então terá a oportunidade de se defender. A partir disso e do resultado das investigações, será definida a sua permanência ou não na corporação", finalizou Franklin Pacheco.

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