Crime

Secretário apresenta laudo pericial sobre morte de jornalista

Aluísio Mendes confirma que Décio Sá foi morto com cinco tiros disparados de uma pistola .40.

Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 12h22

SÃO LUÍS - Após o vazamento da notícia sobre a prisão de Fábio Roberto Cavalcanti Lima, o Fabinho, o secretário Aluísio Mendes concedeu segunda entrevista coletiva à imprensa hoje, às 9h, no auditório do órgão, no bairro Outeiro da Cruz. Na oportunidade, o secretário apresentou os primeiros laudos periciais sobre a execução do jornalista elaborados pelo Instituto de Criminalística (Icrim), entre os quais estaria a confirmação de que cinco tiros atingiram o blogueiro.

Sobre a dinâmica do crime da morte do jornalista e blogueiro na noite de segunda-feira, no bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, até o momento, duas versões foram apuradas e informadas pela comissão de delegados que trabalha no inquérito policial. A primeira delas seria a de que o executor teria adentrado o bar, ido até o banheiro e retornado para se certificar de que o cliente sentado à mesa do estabelecimento, de fato, era o repórter de Política de O Estado.

Testemunhas

Em outra versão, segundo algumas testemunhas, o assassino teria colocado a mão sobre o ombro de Décio Sá, feito com que ele visse seu rosto e a arma que carregava na cintura, antes de sacá-la e atirar contra o jornalista. Nesta dinâmica, a testemunha indica que o blogueiro, assustado, teria perguntado ao executor: “O que é isso, rapaz?”. Após levar os primeiros disparos, Décio teria implorado: “Não faz isso, cara!”.

Ontem (26), O Estado publicou uma terceira versão, feita por uma testemunha ocular do crime. Essa pessoa disse que o criminoso teria, na verdade, caminhado até Décio Sá, no momento em que ele estava sentado de costas para a avenida, sacado a arma e a encostado na cabeça do jornalista. Conforme a testemunha ocular, os primeiros três disparos teriam, portanto, atingido a cabeça do blogueiro que, só depois, foi alvejado na região dorsal. “O assassino não falou com ninguém, e a vítima nem sequer viu o rosto do executor, que deixou o bar, caminhando calmamente até o outro lado da via”, garantiu a testemunha.

Última entrevista do jornalista ocorreu há uma semana no TJ-MA

Décio Sá acompanhou coletiva de Guerreiro Júnior, que anunciou demissão de servidores.

Uma das últimas coletivas de imprensa em que o jornalista Décio Sá se fez presente ocorreu no Tribunal de Justiça do Maranhão, sexta-feira (20). Ao lado dos colegas de profissão, o blogueiro lançou pelo menos sete perguntas ao presidente do TJ-MA, desembargador Antonio Guerreiro Júnior. A pauta, naquele dia, era o anúncio da demissão dos assessores Marco Túlio Cavalcante Dominici - presidente da Associação dos Criadores do Maranhão (Ascem) - e Francisco Reginaldo Duarte Barros.

A exoneração, naquela data, se deu por causa do escândalo da prisão em flagrante dos assessores, suspeitos de extorquir R$ 400 mil do empresário Savigny Sauaia, em troca de subtrair do Judiciário um processo desfavorável ao fazendeiro. Enquanto os jornais, sites de notícias, emissoras de TVs, e rádios de todo o Estado publicaram fotos de arquivo dos suspeitos, Décio Sá estampou em sua página (www.blogdodecio. com.br), com exclusividade, imagens de Marco Túlio Dominici e Francisco Reginaldo Barros algemados.

Postagem

Outra postagem bastante polêmica do blogueiro expôs, em primeira mão, o suposto “jogo de cartas marcadas” no julgamento dos pistoleiros Moisés Alexandre Pereira e Raimundo Pereira, acusados de matar em 1997, em Barra do Corda, o líder comunitário e sem-teto Miguel Pereira Araújo, o Miguelzinho. Na mesma publicação, Décio Sá fez questão de lembrar que o crime teria como principal suspeito de ser o mandante o empresário Pedro Teles. Estas e outras postagens, segundo a polícia, podem ter motivado a morte do jornalista.

O Disque Denúncia do Maranhão recebeu, até o início da noite de ontem, 37 ligações direcionadas ao assassinato do jornalista Décio Sá. A Central dispõe de uma recompensa de R$ 100 mil para quem der informações precisas, que levem a identificação e prisão do criminoso. O valor é o maior já ofertado em todo o país, igualando-se à época da caçada do traficante Fernandinho Beira-Mar, e superior ao do caso do assassinato do também jornalista Tim Lopes, que chegou aos R$ 20 mil.

Devido às informações de que o executor tem feições de um índio, unidades instaladas nas cidades paraenses de Marabá e Parauapebas também passaram a contribuir com as investigações.

Prisões

A Delegacia de Homicídios (DH) de São Luís confirmou, ontem (26), a prisão de um homem, suspeito de participação na morte do jornalista Décio Sá, de 42 anos. Fábio Roberto Cavalcanti Lima, o Fabinho, segundo a Polícia Civil, foi identificado e localizado na noite de quarta-feira (25) por policiais da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), na Vila Pirâmide, área do bairro Araçagi, depois que seu nome foi citado na maioria das informações repassadas ao Disque Denúncia do Maranhão.

Fábio Lima seria um dos três que deram fuga ao assassino. A polícia já ouviu oito pessoas, três que estariam no bar e duas que observaram a fuga. Ainda não foi identificada a procedência da arma.

O delegado Maymone Barros, que preside a comissão que investiga o assassinato de Décio Sá, revelou que o suspeito era foragido da Justiça, condenado por práticas de furtos e roubos. O titular da delegacia especializada, no entanto, não adiantou qual teria sido, de fato, o envolvimento de Fabinho na execução planejada do blogueiro. “O suspeito têm pendências na 6ª Vara Criminal da capital, portanto com mandados de prisão em aberto. Seu nome é bastante citado ao Disque Denúncia ”, disse Barros.

Operação

Fábio Lima, segundo informações colhidas por O Estado, foi preso por volta das 19h. Porém, a confirmação sobre a operação da Seic só aconteceu no início da manhã de ontem. Apesar de não terem sido confirmadas oficialmente, informações vindas de dentro da Secretaria de Segurança Publica (SSP) dão conta de que em poder de Fabinho foram apreendidos um veículo Citroën C4 Pallas – supostamente roubado - e ainda um revólver calibre 38, de procedência também duvidosa.

Ainda de acordo com as informações, Fábio Lima teria sido conduzido para a sede da Seic, no Bairro de Fátima, e permanecido lá durante toda a madrugada. Só no início da manhã o suspeito foi transferido para a carceragem da DH, na Avenida Beira Mar, onde está à disposição da força-tarefa de investigação, composta ainda pelos delegados Guilherme Sousa Filho e Jeffrey Furtado. Outro homem, encontrado na Vila Pirâmide em companhia do suspeito, também teria sido conduzido para ser interrogado na especializada.

Durante todo o dia, o suspeito foi mantido longe do assédio da imprensa. Em meio às várias notícias sobre sua real participação na morte de Décio Sá, a que mais se repetiu foi a de que Fabinho teria sido a pessoa que deu cobertura na fuga dos autores do crime. “Vamos interrogá-lo a fim de esclarecer, primeiramente, se essas denúncias que declinam seu nome realmente têm algum fundamento. A investigação precisa ser completa, visando não só os executores mas os mandantes”, lembrou o delegado Guilherme Filho.

Entenda o caso

O jornalista Décio Sá foi assassinado, por volta das 23h30 de segunda-feira, 23, quando estava sentado a uma mesa, no restaurante Estrela do Mar, na Avenida Litorânea. O autor do crime, segundo a polícia, teria sido um homem forte, de cabelos lisos, semelhante a um índio, que desceu da garupa de uma moto, pilotada por um cúmplice, e adentrou o estabelecimento, indo ao encontro do blogueiro. O crime foi testemunhado por funcionários e clientes do bar, local rotineiramente frequentado pela vítima, que havia pedido uma caranguejada.

Minutos após a execução do jornalista, colegas de profissão, autoridades políticas e grande parte da cúpula da Segurança Público compareceram ao local do crime e lá iniciaram de imediato as investigações e buscas pelos autores. Além da Delegacia de Homicídios, policiais da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) entraram na apuração do caso. Horas depois, a polícia já havia recolhido cápsulas, apreendido dois aparelhos celulares da vítima e um carregador de pistola calibre ponto 40, que o executor deixou cair, durante a fuga pelas dunas da orla marítima.

Pouco mais de 24 horas após o crime, a comissão de delegados da especializada já dispunha de um acervo de imagens que podem levar à identificação dos assassinos de Décio Sá. O material foi recolhido de radares de trânsito e câmeras instaladas em prédios residenciais, nos arredores da Avenida Litorânea, e confirmou informações dadas por testemunhas oculares do crime, sobre a fisionomia do atirador. O Icrim trabalha na coleta de impressões digitais do assassino, deixadas no carregador da arma do crime, para ser vasculhado em um banco de dados de criminosos de todo o país.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.