Dengue

Vacina contra a dengue é testada em cinco capitais brasileiras

Se aprovada, dose pode entrar no mercado em 2014, diz laboratório.

Tadeu Meniconi/G1

Atualizada em 27/03/2022 às 12h31

SÃO PAULO - Cinco capitais brasileiras – Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e Vitória – estão participando dos testes em seres humanos de uma vacina contra a dengue. Os dados serão analisados em conjunto com os de outros países latino-americanos e asiáticos, onde a dengue, também, é uma epidemia. Em testes anteriores, o medicamento tem se mostrado seguro para a saúde.

Hoje o único método de prevenir a transmissão do vírus é agir sobre o Aedes aegypti, mosquito transmissor, seja com inseticidas – fumacê – ou com a eliminação dos criadouros – água parada.

Os voluntários escolhidos para a pesquisa têm entre 9 e 16 anos e são acompanhados de perto por uma equipe médica enquanto fizerem o tratamento. Dois terços dos pacientes recebem a vacina candidata e os demais tomam doses de placebo – uma substância que não tem efeito no corpo.

A vacina é composta por três doses, que devem ser dadas com intervalos de seis meses. Todos os pacientes serão observados durante o período, e qualquer caso de febre deve ser relatado aos médicos pesquisadores. O objetivo é saber quais crianças e adolescentes vão ter dengue ou não.

Para que ela seja considerada eficiente, o número – relativo – de casos de dengue entre os pacientes que tomaram a vacina precisa ser no máximo 30% do número de casos entre os que receberam doses de placebo.

“Essa premissa de 70% de eficácia foi compartilhada com alguns órgãos reguladores como, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde”, diz o médico Pedro Garbes, diretor regional de desenvolvimento clínico na América Latina do Sanofi Pasteur, laboratório responsável pela produção da vacina.

Os voluntários precisam morar em áreas expostas ao risco de transmissão de dengue; caso contrário, é natural que nenhum deles desenvolva a doença e a pesquisa não tenha validade.

“Eu gosto de dar como exemplo uma coisa meio absurda. Você está testando uma vacina para HIV e escolhe vacinar cem freiras num convento. Dois anos depois, você volta, faz os exames e fala que a vacina funcionou muito bem. Você escolheu a população errada e se esqueceu de perguntar se elas tinham risco de adquirir a infecção”, justifica Reynaldo Dietze, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador da pesquisa no Brasil.

Como funciona

Toda vacina é feita com material do próprio agente causador da doença – um vírus, no caso da dengue –, em forma atenuada ou morta, que serve para preparar o sistema imunológico. Após tomar a imunização, o corpo será capaz de reconhecer o vírus e terá anticorpos para combatê-lo.

A dengue tem quatro tipos de vírus diferentes que provocam os mesmos sintomas. Uma vacina tem que ser capaz de preparar o sistema imunológico para todos eles. Nessa pesquisa, os cientistas trabalharam separadamente com cada um dos tipos. É como se eles tivessem feito quatro vacinas diferentes e as misturado em uma só.

No passado, vacinas que usavam o próprio vírus da dengue provocaram uma reação muito forte nos pacientes e não foram consideradas seguras. Por isso, os cientistas recorreram à engenharia genética para colocar o material genético dos vírus da dengue em outro organismo.

“Recortou-se parte do seu genoma e se colocou essa parte do genoma deles em outro vírus: o vírus vacinal da febre amarela”, conta Pedro Garbes. Segundo o médico, a vacina da febre amarela já existe há 70 anos e é considerada bastante segura.

Caso a vacina seja aprovada, o laboratório pretende colocá-la no mercado em 2014.

Pesquisa nacional

Esse não é o único grupo de pesquisadores empenhado em elaborar uma vacina para a dengue. O Instituto Butantan, vinculado ao governo do Estado de São Paulo, e a Fundação Oswaldo Cruz, do governo federal, também, têm projetos nesse sentido.

Alexander Precioso, diretor de testes clínicos do Instituto Butantan, coordena uma equipe que trabalha com esse objetivo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA. A primeira fase de testes começa, ainda, este ano.

Para ele, não é um problema grave se alguém chegar a uma fórmula antes e não se trata de uma corrida com um único ganhador. “Todas as iniciativas são muito bem-vindas, a princípio”, diz Precioso.

“A demanda é mundial”, lembra o especialista. “Ninguém terá a capacidade de produzir todas as doses necessárias”, acrescenta.

Precioso afirma ainda que é importante para o Brasil ter uma vacina produzida por uma instituição local e com financiamento público.

“Nós acreditamos que ela terá o resultado esperado e mais adequado para o nosso país”, diz. “É claro que por ser uma produção nacional, nós temos a expectativa de que ela tenha o custo inferior”.

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