Saúde

Profissionais colocam em risco a saúde da população ao utilizar jalecos fora do trabalho

Saúde Plena

Atualizada em 27/03/2022 às 12h32

SÃO PAULO - Almoçar em restaurantes é uma necessidade recorrente para quem não tem tempo de se deslocar entre a casa e o trabalho. Muitas vezes o serviço tipo self-service é eleito como opção mais prática e cômoda – às vezes até econômica. E com toda essa vantagem a higiene do local não deve ser esquecida, já que qualquer descuido na conservação, preparo ou manuseio dos alimentos pode ser prejudicial à saúde. Porém, não basta um lugar aparentemente convidativo, já que um inimigo invisível pode causar ainda mais complicações que uma simples infecção intestinal. E ele anda à solta, mais principalmente em restaurantes próximos dos hospitais.

Após denúncia de que profissionais de saúde frequentavam restaurantes e praças de alimentação vestidos ou carregando uniformes de uso exclusivo no trabalho, o CorreioWeb visitou alguns estabelecimentos nos arredores de clínicas e hospitais da Asa Sul. Em três lugares constatou-se que vários almoçavam tranquilamente com seus jalecos. Alguns se serviam e montavam o próprio prato, mesmo com vestimentas de mangas compridas. Outros deixavam o traje nas cadeiras e mesas localizadas nas praças de alimentação. Questionados pela reportagem, funcionários dos restaurantes responderam que nenhum dos donos ou responsáveis estavam presentes naquele momento – mesmo sendo o instante de maior movimento. Os atendentes alegaram desconhecer os riscos de contaminação que os jalecos de trabalho poderiam oferecer.

Eulina Ramos, gerente da GEPEAS (Gerência de Investigação e Prevenção das Infecções em Serviços de Saúde), órgão da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explica os riscos: “O jaleco é considerado equipamento de proteção individual. É uma vestimenta de trabalho e deve ser utilizado como tal. Na situação atual, em que lutamos contra germes resistentes, é ainda mais importante reforçar que os microorganismos “grudam” na roupa e apresentam riscos se levados para ambientes que não sejam os hospitais” comenta.

O infectologista Alberto Chebabo especifica quais os agentes infectantes mais comuns que podem acompanhar os jalecos dos profissionais. “São bactérias, principalmente a Escherichia coli, Staphylococcus aureus e a Salmonela. Elas podem estar presentes nas mãos, caso elas não sejam higienizadas. Podem estar presentes também na roupa, principalmente as utilizadas no cuidado diário com o paciente nos hospitais”.

O especialista ainda diz que a principal forma de transmissão de microrganismos por uma pessoa para os alimentos é através das mãos. Mas as roupas, principalmente os jalecos, podem carregar bactérias patogênicas. Chebabo avisa sobre as conseqüências que estes microorganismos podem acarretar “As doenças mais comuns são as gastrintestinais, que podem evoluir com diarréia e vômitos pela ingestão de alimentos contaminados”, alerta.

Alberto Chebabo e Eulina Ramos fazem coro ao condenar a atitude dos profissionais que trajam jalecos fora do ambiente de trabalho. Inclusive citam a Lei NR32 do Ministério do Trabalho, que regulamenta os cuidados com o trabalhador em estabelecimentos de saúde. “A lei é federal e específica. Proíbe os profissionais de usar anéis, brincos, relógio, determinados calçados nas clínicas e hospitais e principalmente, proíbe o uso de jalecos fora do ambiente de trabalho”, lembra Eulina.

A gerente lamenta pela lei não cumprida e analisa que as medidas a serem tomadas devem partir dos responsáveis pela contratação dos profissionais. “Infelizmente alguns profissionais não cumprem a lei e colocam a saúde de terceiros em risco. Cabe aos empregadores orientar melhor os profissionais e exigir tais medidas. Cabe também a Vigilância Sanitária orientar os restaurantes sobre o risco e reforçar a NR 32 junto à gestão dos hospitais ”, conclui Eulina.

Questionada sobre o assunto, a Vigilância Sanitária informou, por meio de assessoria, que não é da competência do órgão fazer tal fiscalização. A assessoria declarou que desconhece leis que regulamentem a utilização e fiscalização de jalecos ou roupas específicas de hospitais fora desse ambiente e, por isso, não há como notificar ou multar os estabelecimentos que recebem esses profissionais.

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