RIO DE JANEIRO - O empresário Flávio Larini, um dos sobreviventes do deslizamento na Enseada do Bananal de Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), dormia no momento em que a casa em que estava foi soterrada, na madrugada de 1º de janeiro. Flávio é filho do prefeito de Arujá, Abel Larini, e passava o réveillon em Angra com um grupo de 17 amigos da Grande São Paulo. Oito corpos de integrantes desse grupo tinham sido encontrados até a manhã desta segunda-feira (4) na região fluminense castigada pelos temporais do início do ano. No total, foram encontrados 47 corpos soterrados em Angra. Segundo a Defesa Civil, há pelo menos seis corpos desaparecidos. Entre as vítimas, três moradores estariam nos escombros do Morro da Carioca e uma moradora e duas turistas, na Ilha Grande.
“Quando acordei dentro do mar, só procurei me abrigar e gritar por socorro, pedir ajuda. Parecia que eu estava tomando um caldo de uma onda forte”, afirmou, por telefone, Larini. “Quando eu coloquei a cabeça para fora da lama, da água, levantei e procurei subir em umas pedras”, contou.
Luiz Henrique Alegrí e o casal Gerson e Eny Valério também conseguiram escapar com vida. A filha deles, que não estava na Ilha Grande, ficou aliviada ao reencontrar os pais. “Choramos, pensamos que eles tinham morrido, passou tudo por nossa cabeça, né? Só quero estar do lado deles agora, nada mais”, afirmou a filha de Gerson, Kamila Ferreira Valério. Há 17 anos, o grupo passava o réveillon junto, em lugares diferentes. Três dos quatro sobreviventes já foram liberados do hospital.
À medida que os corpos são reconhecidos em Angra, os nomes são divulgados pela prefeitura e pelo Instituto Médico Legal do Rio. Para informações sobre Angra, a Defesa Civil municipal disponibiliza os seguintes telefones: (24) 3377-7991 / 3777-7480.
Enterros
Na madrugada desta segunda-feira (4), amigos e parentes foram velar mais quatro vítimas do desmoronamento: Adalton Souza e a filha, Rafaela, de 9 anos, e Keller Neves, também com o filho Gustavo, de 10. “No dia 31, por volta das 23h30, ele ligou para desejar feliz ano novo. Ele comentou que estava chovendo muito. Foi o último contato”, conta o pai de Keller, Albino Neves.
O trauma para a cidade de 80 mil moradores é imenso. A tragédia interrompeu namoros, noivados e destruiu famílias. O casal Ricardo da Silva e Natália Pacheco foi enterrado na manhã de domingo (3).
Fátima perdeu o neto de 4 anos, o genro e a filha, Cecília Secco Baccin -que estava grávida de seis meses. "Estávamos tão felizes que a nossa família estava aumentando. De repente metade foi embora", completou a mãe de Cecília, Fatima Brandino Secco.
São Paulo
O Estado de São Paulo também foi castigado pelas chuvas na virada do ano. Balanço da Defesa Civil indica que os temporais de 1º de janeiro deixaram 4.979 pessoas desabrigadas e 7.295 temporariamente desalojadas.
O órgão e as prefeituras dos municípios que tiveram famílias atingidas já iniciaram o recolhimento de doações para os desalojados.
Em Cunha, no Vale do Paraíba, seis pessoas da mesma família morreram vítimas de um deslizamento de terra no bairro Barra do Bié na sexta-feira (1º). Apenas uma mulher sobreviveu ao desastre. Ela está internada no Hospital 9 de Julho, na capital paulista, e seu estado de saúde é considerado estável. No soterramento, ela perdeu o pai, a mãe, a irmã, o marido e dois filhos.
Segundo o prefeito de Cunha, Osmar Felipe Junior (PSDB), a chuva derrubou pelo menos 600 barreiras e destruiu 300 pontes. De acordo com o prefeito, esse número pode subir, pois há vários lugares na zona rural ainda isolados e a prefeitura não pode contabilizar os danos nessas áreas.
Felipe Junior estima que a reconstrução da cidade pode demorar de cinco meses a dois anos por causa do volume de danos. Ele afirmou que vai pedir ajuda aos governos estadual e federal para poder reparar os estragos.
Outra cidade atingida foi São Luís do Paraitinga, a 182 km da capital paulista, que ficou debaixo d’água. Símbolo da cidade, a Igreja da Matriz desabou após ser atingida por enxurrada. Imagens registradas por um cinegrafista amador no dia 1º mostram o momento em que a torre da igreja ruiu. A antiga construção não resistiu à força da água.
No fim de semana, o nível da água baixou 1,5 metro e revelou toda a destruição. Objetos como geladeiras, instrumentos musicais e o que restou de diversas casas estavam espalhados pelas ruas da cidade.
Cerca de mil voluntários ajudam a levar, por meio de barcos, alimentos e remédios a quem está ilhado. Além da distribuição de mantimentos, os botes resgatam idosos, crianças e pessoas doentes.
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