SÃO PAULO - A chegada do verão, em dezembro, ameaça trazer de volta uma antiga inimiga dos brasileiros: a dengue. E, desta vez, com um reforço: os meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010 serão de chuva acima da média, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Chuva e calor facilitam a reprodução do mosquito Aedes aegypti e a transmissão da doença. Para enfrentar a ameaça, os governos municipais, estaduais e o federal preparam agentes e definem áreas prioritárias para ação.
Na “temporada” 2008/2009 da doença, os casos de dengue diminuíram. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e agosto de 2009 houve 46% menos casos gerais, 80% menos casos graves e 63% menos mortes por dengue em comparação com o mesmo período de 2008.
Segundo o médico infectologista Max Igor Ferreira Lopes, do Hospital das Clínicas de São Paulo, os bons resultados de 2009 deveriam inspirar a continuidade das iniciativas.
“Quando há mais casos de dengue, são feitas mais ações de enfrentamento. Isso resulta em menos casos no ano seguinte. Agora, quando um ano é fraco, a população pode ‘esquecer’ que a dengue existe e acaba tendo um retorno da doença mais forte depois”, explica.
O controle de doenças como a dengue é uma atribuição dos municípios. Mas, para manter essa tendência de queda, o governo federal tem dado atenção especial às cidades de estados considerados prioritários. Pará, Maranhão, Paraná, Rondônia, Piauí, Espírito Santo, Tocantins, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Ceará receberão, até dezembro, visitas de profissionais do Ministério da Saúde que vão ajudar na elaboração de planos de enfrentamento da doença.
Desse grupo, Espírito Santo, Mato Grosso e Ceará receberão também a visita do ministro José Gomes Temporão – que também irá a Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Amazonas.
Os governos estaduais também planejam ações de apoio aos municípios. “Trabalho no controle da dengue há 22 anos e posso dizer que nunca vi uma mobilização tão grande”, afirma Mário Sérgio Ribeiro, coordenador de Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.
Segundo Ribeiro, a meta do estado é não só controlar a doença, mas, especialmente, reduzir as mortes por dengue. “Nossa maior preocupação é reduzir os óbitos. A dengue é uma doença perfeitamente tratável, as pessoas não deveriam morrer disso”, diz ele.
Para cumprir o objetivo, ele afirma que o estado investirá em fortalecimento da rede de atendimento médico e em ações de educação da população. “Quanto mais estruturada estiver a rede melhor é a chance de um caso de dengue não evoluir para um caso grave”, explica.
O enfrentamento da doença no Rio, segundo Ribeiro, ocorre o ano inteiro e, segundo ele, não há uma “intensificação” no verão. “O que muda é o foco”, afirma.
O mesmo acontece no estado de São Paulo, de acordo com o coordenador da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) da Secretaria de Estado da Saúde, Affonso Viviane Junior. “Dengue é uma coisa que se combate o ano inteiro. Nossa expectativa para o verão é que o trabalho que desenvolvemos ao longo do ano dê resultados e evite a transmissão de uma maneira mais intensa”, afirma.
Nos últimos meses, o governo paulista tem focado as ações de orientação de municípios em 216 cidades entre 10 mil e 100 mil habitantes. “Nós temos um grupo de 55 cidades prioritárias, que são as maiores cidades do estado, com as quais temos trabalhado intensamente ao longo dos últimos anos. Essas cidades estão preparadas, elas já desenvolveram uma capacitação de combate. Agora, vamos fazer o mesmo com os municípios menores”, explica Viviane.
Na capital paulista, 7,4 mil agentes trabalham durante o ano todo no enfrentamento da doença. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, esse grupo trabalha “rotineiramente no levantamento das áreas de maior risco da cidade”. No verão, o trabalho apenas se aproxima dos moradores, “para relembrar a população da importância desse cuidado”.
Ação federal
Na esfera federal, o ministério lançou a campanha publicitária “Brasil unido contra a dengue”. Para ações de enfrentamento, o governo tem 2,77 milhões de unidades do remédio paracetamol, em gotas e comprimidos, 2 milhões de frascos de soro fisiológico injetável, 562 mil envelopes de sais de reidratação oral, 250 mil litros de inseticidas e 3,5 toneladas de larvicidas. Há também kits suficientes para fazer 170 mil exames diagnósticos.
Além disso, Ministério da Saúde também vai implementar, em fase de testes, um sistema informatizado para o registro e o acompanhamento de todos os casos de dengue, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Municípios, estados e governo federal poderam registrar e acompanhar a evolução da doença.
No próximo dia 24, o Ministério da Saúde divulgará também o resultado de levantamento sobre a infestação do mosquito da dengue. “São esses dados que vão nos dar a noção do que podemos esperar para os próximos meses. Os lugares com maior presença do Aedes aegypti serão aqueles em que o governo poderá concentrar seu trabalho”, explica o infectologista Marcelo Buratt, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Cuidado em casa
Todo o trabalho do governo, no entanto, não adianta nada sem a colaboração da população, acreditam tanto gestores quanto especialistas médicos.
“Todo mundo culpa o governo, mas são medidas individuais que controlam o mosquito”, afirma o infectologista Paulo Olzon, professor de clínica médica da Unifesp.
“O ideal seria que as pessoas não precisassem que um agente de saúde batesse em sua porta para saber que elas não podem deixar água parada em casa. O ideal seria que as pessoas não esperassem o governo, porque, a essa altura, todo mundo já sabe muito bem o que é preciso fazer para controlar a dengue”, diz Olzon.
O coordenador de Vigilância Ambiental do Rio de Janeiro afirma o mesmo. “Controle da dengue é uma questão de cultura. O combate deve ser incorporado ao dia-a-dia da pessoa, como os hábitos de higiene. Todos os dias você escova os dentes, toma banho, tira o lixo e deveria, também, verificar se não tem água parada”, afirma Mário Sérgio Ribeiro.
Além disso, a população também precisa ficar alerta para os sintomas da doença. “Muitas doenças virais, como a dengue e a gripe A, por exemplo, começam a se manifestar com sintomas muito parecidos”, afirma Affonso Viviane Junior, da Sucen, de São Paulo.
“É importante que a população preocure sempre um serviço médico quando apresentar esses sintomas. Pode ser um posto de saúde ou um médico pessoal. Se for dengue, quanto mais cedo tratar, melhor”, afirma.
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