Tecnologia

Em municípios sem sinal de celular, aparelho vira lazer

Mylène Neno/G1

Atualizada em 27/03/2022 às 13h11

RIO DE JANEIRO - Bem diferente de sua moderna xará europeia, a pacata Barcelona, no Rio Grande do Norte, vive uma situação curiosa. Ela é a única entre as cidades da chamada região do Potengi que ainda não conta com serviço de telefonia celular.

Para tentar usar o aparelho, muitos moradores recorrem a “celulódromos”, recantos da cidade que contam com uma localização privilegiada para captar algum sinal perdido de uma cidade vizinha. Pode ser a caixa d’água da cidade ou a ponte sobre o Rio Potengi, que dá acesso ao município, localizado a 86 quilômetros da capital Natal.

Enquanto o "progresso" não chega, os moradores vão usando seus aparelhos móveis para outras finalidades - que de normalmente secundárias passam a principais -, como câmera, tocador digital e videogame portátil, por exemplo.

A professora Ione Batista, por exemplo, usa seu aparelho móvel para registrar suas aulas. "Estamos sempre realizando algum projeto com os alunos e acabo usando o celular para fotografar e filmar essas atividades", conta. "A função despertador eu uso diariamente, e também filmo bastante minha filha e coloco as imagens no computador", completa a educadora, que também passa o tempo com joguinhos do celular.

Outros têm mais "sorte", como o comerciante José Erivan Câmara, que, por morar na zona rural do município, às vezes consegue captar sinal celular de alguma cidade próxima. Mas, em vez de levar o celular para a rua, ele deixa o telefone em casa, como se fosse um telefone fixo sem fio.

"Só uso o celular quando estou fora da cidade. Moro a cerca de 10 Km do centro e, na cozinha da minha casa, às vezes, consigo pegar uma sobra de sinal", conta o comerciante, que costuma deixar o celular desligado na maior parte do tempo.

"Meu celular aqui funciona como MP3 player e câmera digital", conta a estudante de fisioterapia Fernanda Pontes Costa, 17. "Estudo na capital e estou sempre com o celular para me comunicar com a minha família, mas muitas vezes é difícil. Acho um desrespeito com os moradores da nossa cidade. A gente é meio que esquecido sempre", reclama Fernanda, que abriu uma lan house no município.

O estudante Marcelo Victor Costa Firmino, 12, ganhou um celular de presente de aniversário. "Ele passa as férias na capital e pediu um [celular] para 'posar', né?", admite o pai do menino, José Vilmar Firmino. "É curioso porque muitas pessoas têm celular aqui, porque as cidades vizinhas já têm sinal. Na escola quase todos os colegas de meu filho têm celular e usam para jogar e tirar fotos para colocar no Orkut", diz Firmino, que é secretário de educação do município potiguar.

Do outro lado do país, na cidade de Treviso, em Santa Catarina, a situação é semelhante. “Ano passado, o governo do estado reuniu os 108 municípios catarinenses sem acesso à telefonia celular e as operadoras para assinarem um compromisso. Mas até o momento há só a manifestação de intenção de instalação da antena, avaliação de terreno”, contou Ernany Moreti, assessor de gabinete do município que fica a 220 Km de Florianópolis.

O mesmo acontece em Trombas, em Goiás, localizada a 441 Km de Goiânia, e em mais de 1,8 mil municípios brasileiros que vivem uma realidade bem diferente da maioria do País.

Segundo último balanço divulgado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em junho, o Brasil já tem 159,6 milhões de aparelhos móveis em operação. De janeiro a junho deste ano, 8,97 milhões de novos celulares foram habilitados, contribuindo para a média de 83,47 celulares em cada grupo de 100 pessoas.

E ainda de acordo com dados mais recentes da Anatel, os últimos 1.836 municípios brasileiros estarão recebendo sinal de telefonia celular até abril de 2010.

Até lá, os moradores dessas localidades vão continuar precisando de muita paciência e jogo de cintura para tentar usar seus aparelhos móveis.

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