Um padre casado e com cinco filhas criou uma polêmica daquelas esta semana no Brasil. "Quem quiser ser celibatário, seja celibatário. Quem quiser se casar, casa". O padre Oziel acaba de ser afastado da igreja. E ele não é um caso isolado.
O conflito com o celibato na Igreja Católica é um dos grandes desafios do sacerdócio. Perturba os padres há séculos e é um problema para o Vaticano. Mas nem sempre foi assim. O celibato só se tornou obrigatório no século 16.
"Penso eu que a igreja não tende a modificar isso, tanto é que o Código do Direito Canônico foi promulgado em 1983 e continua com esta prescrição: o celibato para o sacerdote”, acredita dom Ancelmo Chagas de Paiva, doutor em Direito Canônico.
"O celibato não tem nada a ver com o dogma. É uma opção política e jurídica da igreja. O papa pode, quando quiser, se quiser, dizer: acabou o celibato”, afirma o padre João Tavares, coordenador do Movimento dos Padres Casados do Brasil.
Com duas filhas e uma neta, o padre português João Tavares, que chegou ao Maranhão 40 anos atrás, largou a batina em 1979 para se casar. Nos últimos anos organiza reuniões com outros padres casados.
Na periferia de São Luís, no Maranhão, o padre Caetano, celibatário por 18 anos e casado há quatro, ingressou na Igreja Vétero Católica, uma dissidência da Igreja Romana, para poder continuar celebrando ritos religiosos. No lugar, nós encontramos um grupo de padres casados.
"Eu passei a sentir necessidade, vontade de constituir uma família, então, para não haver escândalo, problema, escandalizar, eu disse: prefiro sair”, conta o padre Ronaldo Farias.
A Igreja Católica tem no Brasil aproximadamente 18 mil padres. O número era maior. Nos últimos anos, muitos resolveram assumir o relacionamento que mantinham secretamente, se casaram e por isso foram obrigados a abandonar a batina. Estima-se que pelo menos 7 mil padres deixaram o altar para assumir o casamento.
Muitos deles hoje querem ser aceitos de volta na Igreja Católica, sem abrir mão da família.
“Eu tenho um processo no Tribunal Rota-Romano, eu poderia tranquilamente voltar para exercer minhas funções como padre casado”, conta o padre José Caetano Souza.
A Igreja Católica sob o comando do papa tem duas grandes divisões em seus ritos: o latino, adotado na Europa, África e nas Américas, e o oriental. As igrejas do rito oriental, embora subordinadas ao Vaticano, aceitam padres casados, desde que o casamento tenha ocorrido antes da ordenação.
"No nosso caso, que somos da igreja latina, sempre se achou que havia uma adequação muito boa entre celibato e ministério sacerdotal. Mas pode ter um momento que isto mude também", diz Dom José Belisário, arcebispo de São Luís.
Celibato opcional. Esta é a principal bandeira do padre Osiel, 62 anos, casado, cinco filhas. Esta semana ele foi afastado oficialmente das atividades religiosas pelo arcebispo de Goiânia. Mas Osiel não pretende se aposentar.
"Eu não vou dependurar a batina não. Eu vou continuar trabalhando humildemente", afirma o padre Osiel dos Santos.
"Ele não pode exercer o ministério. Mas ele será padre para sempre”, explica dom Washington Cruz, arcbispo de Goiânia.
"O casamento não atrapalha nada", diz um rapaz.
"Eu acho super normal", acredita uma jovem.
"Um pastor pode casar. Um padre também pode casar, não pode?”, acredita o rapaz.
"Ninguém está imune ao amor. O amor pode chegar na vida de uma pessoa depois de uma escolha definitiva”. O mineiro Fábio de Melo, 37 anos, é padre, professor, cantor e compositor. Já gravou 11 CDs e é considerado um pop star. Apesar do sucesso e da tentação do assédio, ele é a favor do celibato obrigatório.
"O celibato está a favor do meu sacerdócio, porque ele me ajuda a ser mais livre. Ele me ajuda ter mais tempo para a minha missão. Como é que eu lido com o assédio? Tratando com respeito, pedindo esse respeito e ao mesmo tempo deletando o que precisa ser deletado”, afirma padre Fábio.
O celibato ainda vai alimentar muitas polêmicas. O Vaticano não demonstra disposição para rever essa questão tão cedo.
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