Trocar o gás pelo diesel em termelétricas é caro e mais poluente

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 13h52

BRASÍLIA - Uma das saídas para evitar riscos de desabastecimento de energia elétrica gerada por meio do uso do gás natural seria tranformar em bicombustíveis as usinas termelétricas e utilizar outras fontes, como o óleo diesel, na operação.

No entanto, a solução – cogitada após a redução no fornecimento de gás para postos e indústrias no Rio de Janeiro e em São Paulo – é considerada “a pior possível”, por pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil.

O professor Ivan Camargo, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que investir em diesel para o funcionamento das termelétricas só seria justificável em situações extremas, o que segundo ele não é o caso atual. Para o pesquisador, o Brasil vive uma situação energética “muito mais confortável” que em 2001, época do “apagão”, quando houve racionamento de energia.

“Diversificar a matriz energética com o gás natural foi uma escolha inteligente. Substituí-lo agora por diesel é a pior opção possível. Só seria razoável num situação de total falta de energia, de total emergência”, acrescentou.

O pesquisador Luis Bambace, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), considerou a solução “cara e extremamente poluente”. E lembrou que a troca não poderia ser aplicada imediatamente, por causa da necessidade de mudanças estruturais nas usinas.

De acordo com Bambace, por ser menos volátil (mais pesado), o diesel necessita de uma área de evaporação muito maior que outros combustíveis para ser queimado e gerar energia elétrica. O pesquisador listou soluções como a instalação de injetores para fazer o diesel chegar direto às turbinas das usinas ou a mistura de água e sabão no combustível, para aumentar a área de evaporação e facilitar a queima.

“Outra mudança possível seria craquear o diesel antes que ele entrasse na turbina. Neste caso, seria necessária uma unidade auxiliar, uma refinaria na usina”, informou. O craqueamento é um processo de transformação do combustível mais pesado em um mais leve e de mais fácil evaporação.

Ele acrescentou que todas as alternativas para transformação das termelétrias em bicombustíveis "são caras, além de problemáticas do ponto de vista ambiental".

Para o professor da UnB, Ivan Camargo, outra conseqüência da substituição do combustível nas termelétricas seria o aumento do preço da energia para o consumidor: “A energia proveniente do gás natural já é uma energia mais cara que a hidrelétrica. Mudar para diesel é subir ainda mais esse preço.”

De acordo com Camargo, “o mais dramático” é que o consumidor não sente as consequências imediatamente e não é estimulado a consumir menos energia para economizar na conta. “O efeito é retardado, porque isso só vai ser sentido na próxima revisão tarifária, o que só deve acontecer no ano que vem”, avaliou.

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