Brasil venderá diesel à Argentina

Agência Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 14h21

BUENOS AIRES - O governo do presidente Néstor Kirchner decidiu deixar de lado os desmentidos que pronunciava nos últimos dias sobre a escassez de combustível na Argentina, e preferiu enfrentar a dura realidade. Desta forma, anunciou que acordou com a Petrobras a compra urgente de 20 mil metros cúbicos de óleo diesel, para ajudar na escassez do produto.

O pedido foi realizado pelo ministro do Planejamento Federal da Argentina, Julio De Vido, braço direito de Kirchner, ao ministro de Minas e Energia do Brasil, Silas Rondeau, durante a visita deste à Buenos Aires, na terça-feira.

Este é o segundo ano consecutivo que a Argentina precisa recorrer à importação de diesel. Simultaneamente, Kirchner também negocia com outras empresas de combustíveis a importação de mais diesel e a formação de um estoque.

A nova crise - que acrescenta-se à outras na área energética, como os problemas no abastecimento de gás - é usada pela oposição para criticar a política do governo. Líderes opositores afirmam que o país caminha para uma crise energética de graves proporções. Desde a crise de 2001, os investimentos na exploração de novas jazidas foram mínimos.

Analistas argumentam que os governos do ex-presidente Eduardo Duhalde, e o atual, de Kirchner, impuseram uma série de obstáculos para a realização de investimentos, tal como o congelamento das tarifas das empresas privatizadas de serviços públicos e os impostos sobre as exportações de gás e petróleo.

Colheita

A falta de diesel ameaça a colheita da soja e o plantio do trigo, além de irritar os motoristas nas grandes cidades, que enfrentam problemas para o abastecimento nos postos de gasolina. De quebra, também causa problemas no sistema rodoviário de transporte de cargas.

O diesel brasileiro, que chegará ao porto de Buenos Aires em menos de duas semanas, equivale ao combustível que uma centena de postos de gasolina poderia vender durante o período de um mês na Argentina. Isso implicará, em junho, um aumento de 2% na oferta de combustível no mercado deste país.

A demanda de diesel aumentou 5% nos primeiros quatro meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 4,03 milhões de metros cúbicos.

Segundo a Secretaria de Energia, a empresa Repsol YPF aumentou suas vendas de diesel em 7% entre janeiro e abril deste ano em comparação com o mesmo período de 2005. A Esso registrou um aumento de 9% nas vendas. Nesse período, a Shell e a Petrobras registram o mesmo volume do ano passado.

Fluxo de motoristas

Enquanto isso, o governo Kirchner analisa formas de reduzir o fluxo de motoristas brasileiros que carregam seus tanques do lado argentino da fronteira, onde o diesel é vendido por 1,50 peso (US$ 0,50) o litro. Uma possibilidade especulada é a de cobrar aos estrangeiros na área da fronteira um valor mais elevado pelo litro do diesel.

A Confederação de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa (Carbap) anunciou estar preocupada pelo início de desabastecimento de diesel, alertando que isso poderá causar graves riscos para a colheita da soja e no plantio do trigo. O setor agropecuário consome anualmente 4 milhões de litros.

Postos

No meio desta crise também estão os postos de gasolina, que reclamam da falta de lucratividade. A Confederação de Entidades de Comércio de Hidrocarbonetos e Afins da República Argentina (Cecha) protesta: "a rentabilidade de cada litro vendido está congelada há mais de dois anos, e nesse intervalo os custos cresceram constantemente". Na quarta-feira, em sinal de protesto, 60% dos postos em todo o país realizaram uma greve de três horas.

A Confederação - que reúne 4.700 postos de gasolina em toda a Argentina - afirma que não pretende um aumento do preço dos combustíveis, mas sim, "uma pequena parte dos lucros das companhias petrolíferas". Segundo a Cecha, nos últimos três anos mais de 2 mil postos de gasolina faliram e tiveram que fechar suas portas.

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