Pesticida conhecido como chumbinho é vendido sem controle

Produtos perigosos são oferecidos abertamente à população e sustentam comércio informal da capital.

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h45

SÃO LUÍS - O pesticida destinado originalmente para combater pragas na agricultura, popularmente conhecido como chumbinho, virou uma arma em São Luís. Muitos suicídios e até homicídios são praticados com o veneno, que é comercializado clandestinamente nas ruas da capital. A substância é indicada para matar ratos.

Casos semelhantes a este acontecem com os solventes, a cola de sapateiro e os anabolizantes, que foram criados com uma finalidade, mas têm sido empregados em outras, que podem até levar à morte ou provocar danos irreparáveis.

O acesso facilitado e os preços explicam a preferência pelo chumbinho. A funcionária pública Joana Cardoso, 53 anos, disse que já comprou o produto na Rua Grande sem dificuldades. “Há épocas em que os vendedores ambulantes mantêm os vidros de chumbinho expostos em suas bancas. Comprei para matar ratos, mas, como não é necessário comprovar a finalidade, qualquer um pode levar e sair matando pessoas”, denunciou ela.

Desde a morte dos irmãos Wesley Vinícius dos Santos Carvalho, de 1 ano e 11 meses, e Luísa Helena Carvalho, de 10 meses, que foram envenenados com chumbinho no povoado Coqueiro semana passada - as suspeitas recaem sobre a mãe -, a venda da substância tóxica teve uma retração.

Nas feiras e mercados e na área do comércio informal no Centro de São Luís, os vendedores estão receosos. Eles apontam o episódio da morte das crianças como um empecilho para as vendas. Mesmo com toda a resistência, basta insistir um pouco para se conseguir uma dose (cerca de duas gramas), unidade de medida que eles utilizam para identificar a quantidade do veneno vendido em um pequeno frasco.

Disfarçado de possível consumidor, O Estado percorreu algumas bancas do produto no Centro.

Em uma delas, o vendedor ambulante conhecido apenas como Jacó ofereceu o veneno, que estava guardado no fundo de uma sacola, a R$ 2,00 a dose. Depois de ouvir reclamações a respeito do preço, Jacó disse que poderia vender a R$ 1,00 dando orientações sobre a forma de utilização.

“Se você tem cachorro ou gato em casa, coloque o chumbinho no tomate, que o só rato vai mexer”, disse ele, afirmando que o seu produto não é falsificado e “mata mesmo”.

Sobre a possibilidade de fornecimento da substância para outros vendedores, o ambulante logo se ofereceu, evitando dar detalhes sobre a pessoa que lhe vende. “A sua cunhada pode comprar comigo, mas precisa guardar segredo. Eu passo o veneno por R$ 1,00 e ela pode vender a R$ 2,00”, acrescentou Jacó, confiante no fechamento do negócio. “Ela não vai se arrepender. Isso vende como água”, garantiu.

Outro vendedor que comercializa o chumbinho em uma das transversais da Rua Grande tomou todos os cuidados necessários e até teste de qualidade fez para garantir que o produto é verdadeiro. “Se você tocar fogo nas bolinhas e elas incendiarem, não compre, porque é pólvora e não chumbinho”, destacou ele, que pretendia vender o veneno a R$ 1,00.

Um vendedor ambulante da rua da Paz foi além. Ele contou que policiais estiveram em sua banca e apreenderam quatro frascos do produto. “Isso está acontecendo por conta da morte das crianças. Mas os policias foram até legais. Eles me chamaram e disseram para eu parar de vender porque seria preso. Não usaram da força”, lembrou ele, informando que o produto chegava a suas mãos por meio de um senhor que vende para toda aquela área.

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