BRASÍLIA - O secretário de Cultura do Estado do Rio, o ator Antônio Grassi, anfitrião do lançamento do programa para a cultura do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, segunda-feira, no Canecão, advertiu ontem que a agenda não permite manifestações de críticas à atitude da atriz Regina Duarte, que deu depoimento no programa eleitoral do tucano José Serra.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, sem entrar no mérito das declarações da atriz, reagiu à associação feita por alguns repórteres ao seu discurso na posse, anteontem, do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Filho, à fala de Regina no programa de Serra.
- Só porque disse que me irrita alguém dizer que a situação pode mudar se for eleito este ou aquele candidato, imediata e maldosamente algumas pessoas interpretaram isso como uma resposta a uma declaração da Regina Duarte no programa de Serra - afirmou.
Fernando Henrique lembrou que há anos a atriz participa de campanhas suas, inclusive desde a sua eleição como suplente de senador, em 1978.
- Todas as pessoas são livres para expressar seus pensamentos e Regina sempre expôs suas idéias de forma transparente, sem acusar nem ofender ninguém. Agora, quando o PT ataca Serra, fazendo denúncias falsas, agredindo a honra dos integrantes do governo, aí não é terrorismo. Terrorismo é uma pessoa expressar o que pensa ou acusar alguém, sem provas, de representar este ou aquele interesse ou de praticar atos que nunca foram cometidos? - disse Fernando Henrique, segundo interlocutores.
A atriz Letícia Sabatella, que teve uma das reações mais contundentes contra a declaração de medo de Regina de um possível governo Lula, mesmo reafirmando suas críticas concordou com a afirmação de Grassi.
- Regina fez o que fez e as pessoas também tiveram o mesmo direito de discordar dela. E acho isso o suficiente - disse.
Grassi, que anteontem conversou com Lula sobre o episódio, contou que o candidato também ficou surpreso com a manifestação de Regina.
- Ninguém discutiu o voto da Regina, até porque sua vinculação com os tucanos é histórica. Discordamos, isso sim, do conteúdo de suas declarações. Ela disse que tem medo e, como o slogan do PT sempre foi “sem medo de ser feliz”, não vamos dar a esse episódio uma dimensão exagerada - disse o secretário.
Evento será para discutir programa para a cultura Grassi insistiu em dizer que é necessário sublinhar que o evento de segunda-feira tem a finalidade exclusiva de apresentar e discutir o programa de Lula para a cultura, não comportando, por isso, qualquer outro tipo de pauta.
- Que pena que Regina tenha medo e tenha transmitido esse medo no programa eleitoral de um candidato. Medo é algo paralisante. Medo, sim, devemos ter de que o país continue na situação em que se encontra - disse.
Letícia considerou saudável a reação das pessoas ao conteúdo das declarações de Regina.
- O ato de votar é um gesto de amor. De amor à democracia, ao bem-estar da população. Por isso é um ato mágico, ato de fé e de esperança de mudanças. E é natural que, por causa disso, as pessoas reajam a uma coisa que não seja a discussão de idéias, mas uma coisa mentirosa, manipuladora, que tenta levar a campanha para um nível inferior - afirmou.
Lula, segundo a atriz, é o símbolo do desejo de mudança, tanto que tem o apoio “do eleitor mais humilde ao empresário preocupado com as injustiças sociais, passando por todos os movimentos populares de representação da cidadania”.
- Foi tão difícil chegarmos a este momento que todo e qualquer gesto de tentativa de manipulação pela mentira é repelido imediatamente. O que não aconteceria se Regina fosse ao programa de Serra para dizer que considera o projeto do seu candidato melhor do que o do adversário. Aí o debate seria saudável - disse Letícia Sabatella, eleitora de Lula.
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