SÃO LUÍS - Sexta-feira, 1º de setembro. Há exatamente um ano, ocorreu um dos mais graves acidentes náuticos dos últimos anos no Maranhão: o naufrágio da biana Estrela Guia I, que resultou na morte de 14 pessoas.
O acidente aconteceu por volta das 6h na Baía de São José. Mesmo já tendo se passado um ano, a tragédia ainda está viva na mente de familiares que perderam parentes e de centenas de pessoas que residem em São José de Ribamar. No bairro J. Câmara, onde residiam as 14 vítimas do acidente, há uma mistura de sentimentos: revolta e tristeza.
Este por motivos óbvios e revolta pelo fato do caso ainda não ter sido julgado pela Justiça.
A cozinheira Maria de Fátima Corrêa Martins, de 57 anos, é o caso emblemático e que demonstra perfeitamente as mudanças que aconteceram naquela comunidade depois do acidente.
No naufrágio, dona Fátima, como é costumeiramente chamada no bairro, perdeu dois filhos, dois netos e o marido, Antônio José Ferreira Martins, que era o responsável pelo sustento da família. Até hoje, segundo sua filha, Lucimar Corrêa, ela lembra do acidente como se tivesse ocorrido ontem.
“Quase todo dia ela tem insônia, já teve até que tomar remédio para depressão. Nós, os filhos, é que ainda conseguimos que ela continue viva. Se não fosse a gente, acredito que ela já teria cometido suicídio”, contou ela.
Hoje, sem marido, aposentadoria ou indenização e precisando ainda cuidar de uma filha de 12 anos, Maria de Fátima precisou voltar a trabalhar, mesmo contrariando a recomendação médica. Ela exerce a função de cozinheira em bar e ganha R$ 350,00 por mês.
“Ela não tem mais condição de trabalhar porque há dois anos começou a sentir dores no braço e o médico pediu para ela deixar o emprego. Não sei bem que doença é essa, mas como meu pai trabalhava, a família sobrevivia sem problemas. Hoje, sem ele, ela precisou voltar ao serviço. A gente tenta ajudar, mas nem sempre dá”, disse Lucimar Corrêa.
O vigilante Gilson Ferreira dos Santos também passou por mudanças profundas em sua vida, após perder a esposa Maria Costa Santos, de 44 anos, no naufrágio. Ele era casado há 13 anos e nunca havia cogitado em perder a sua esposa em um acidente desse.
Um trauma que ele nunca conseguiu superar. “Perder um parente deixa a gente muito triste, principalmente a pessoa que a gente ama e convive”, contou, com lágrimas nos olhos e uma certeza: “Nunca mais serei o mesmo”.
Maria Costa Santos estava acompanhando o filho do casal, Gilson Júnior, que conseguiu sobreviver ao acidente.
“Eu me agarrei a um pedaço do barco que se soltou. Tentei pegar a minha mãe, mas não consegui. Tentei nadar para perto dela, mas o mar nos afastava cada vez mais. Quando não vi mais a minha mãe, percebi que nunca mais a veria”, contou o estudante.
Acidente
O acidente com a biana Estrela Guia I aconteceu por volta das 6h do dia 1º de setembro do ano passado na Baía de São José. A embarcação estava transportando 31 integrantes da dança Portuguesa “Marinheiros de Portugal” e outras sete pessoas também do bairro J. Câmara.
A brincadeira retornava de uma apresentação no povoado Murijuí, localizado entre os municípios de Icatu e Humberto de Campos. O horário de apresentação foi por volta de 1h. O grupo descansou um pouco e logo em seguida iniciou a viagem de volta a São José de Ribamar, às 4h30.
De acordo com os passageiros, o condutor da biana, Durval dos Santos, conhecido como Chicolé, teria cometido uma série de irregularidades durante a viagem de volta a São José de Ribamar como, por exemplo, ter conduzido o barco bêbado. O naufrágio teria acontecido depois que Chicolé perdeu o controle da biana ao chegar a um igarapé, onde, pela força das ondas, o barco acabou virando.
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