SÃO LUÍS - A Polícia Civil instaurou inquérito na Delegacia de São José de Ribamar e começou a ouvir, ontem, os sobreviventes do naufrágio da biana Estrela Guia I, ocorrido quinta-feira (1º) na Baía de São José. O acidente ocasionou a morte de 14 pessoas.
O dono da embarcação, Walbinaldo dos Santos, o Fubica, e seu irmão, Durval dos Santos, o Chicolé, que era o mestre, se apresentaram ontem à tarde na Delegacia de Paço do Lumiar, onde prestaram depoimento.
Walbinaldo foi liberado, mas Durval teve prisão decretada e foi transferido para a carceragem do 9º DP, no São Francisco.
O depoimento de 13 pessoas que estavam no barco e da mãe de uma das vítimas ocorreu sob um misto de dor, revolta, tristeza e insatisfação. Durante vários momentos do depoimento, os sobreviventes do naufrágio choraram ao relembrar os momentos mais dramáticos vividos na madrugada do dia 1º de setembro.
Além disso, a revolta era grande por conta da irresponsabilidade, tanto do dono da embarcação, quanto do condutor, que, segundo os depoentes, estaria completamente alcoolizado.
Durval teria começado a embriagar-se no final da noite, logo após a apresentação do grupo Marinheiros de Portugal, no povoado Rio do Manajuí, próximo a Icatu. Após a apresentação do grupo, Chicolé teria se dirigido a um clube local, onde ficou até aproximadamente 4h15, mesmo desaconselhado por membros da brincadeira.
A embarcação Estrela Guia I saiu de Icatu por volta das 4h30, transportando aproximadamente 38 pessoas, entre as quais brincantes e convidados (31) e outros passageiros (entre cinco e sete pessoas).
Entretanto, durante a viagem, Chicolé, percebendo que estava alcoolizado, pediu que um garoto de 16 anos, Fernando Silva Nascimento, assumisse o controle da embarcação. Temendo a intensa maresia e os fortes ventos, Fernando negou-se a conduzir a biana.
“Estávamos todos com muito medo e eu não tinha condição de estar à frente daquele barco. O condutor foi um completo irresponsável”, disse Fernando Nascimento.
Segundo os depoentes, o acidente aconteceu por volta das 6h15, quando o mestre, ao chegar em um igarapé, resolveu desviar a biana da trajetória da primeira embarcação, que era conduzida por uma pessoa conhecida como Ribinha e que era amigo de Chicolé.
Durval passou, inexplicavelmente, a navegar em círculos. Neste momento, os passageiros desesperaram-se, já que a biana passou a balançar e a proa do barco estava contra as ondas. Poucos instantes após a mudança na trajetória, o barco virou, ao ser colhido por uma forte onda.
Manobra
De acordo com Josemar Soares, 28 anos, um dos 17 sobreviventes do naufrágio, nenhum dos tripulantes conseguiu entender a manobra do comandante da embarcação.
“Pensávamos que ele estava pegando um atalho. Entretanto, depois que pedimos para ele seguir em linha reta e ele sempre desobedecia, percebemos que Chicolé estava completamente bêbado. Antes do barco virar, pedimos para que ele seguisse a outra biana, mas foi inútil”, disse.
Ainda conforme Josemar Soares, após o naufrágio da biana, todos os tripulantes tentaram ajudar as pessoas que não sabiam nadar. Chicolé, entretanto, não teria dado a mínima atenção aos demais passageiros, já que ele aproveitou a passagem de um barco pesqueiro para fugir do local do acidente.
Os membros da dança portuguesa relataram, também, que a biana havia sido fretada pelos organizadores do festejo de São Raimundo Nonato, no povoado Rio do Manajuí. Eles negaram que pagaram passagem para o dono da embarcação ou para o comandante dela.
Entretanto, levantam a hipótese de que as cinco pessoas que não eram do grupo pagaram suas passagens.
“Não tivemos nenhum custo. Alimentação, hospedagem e transporte foram por conta da organização do festejo”, disse Karleane Brito Moraes, 18 anos, filha do dono da brincadeira, Antônio Carlos Moraes.
Prisão
O proprietário da biana, Walbinaldo dos Santos, o Fubica, prestou depoimento ontem à tarde na Delegacia de Paço do Lumiar, sendo liberado em seguida. Seu irmão, Durval dos Santos, o Chicolé, mestre da embarcação, também apresentou-se e, após depor, recebeu voz de prisão, sendo encaminhado para a carceragem do 9º Distrito Policial (São Francisco), por questão de segurança.
Walbinaldo deveria ser apresentado na manhã de ontem à delegada Maria Eunice Ferreira Rubem, da Delegacia de São José de RIbamar.
Estrategicamente, para evitar o assédio da imprensa, isto só ocorreu à tarde, em acordo firmado por seu advogado com a delegada, na Delegacia de Paço do Lumiar.
A delegada afirmou aos repórteres que já estava indo embora, mas deslocou-se para Paço do Lumiar para tomar o depoimento dos dois homens. Em seu depoimento, Fubica negou que tivesse conhecimento da viagem feita por sua embarcação.
Segundo ele, Chicolé era quem fazia as viagens em busca de pescado. Após prestar depoimento, Fubica foi liberado pela delegada, que ouviu, em seguida, Chicolé.
Este, por sua vez, indo de encontro aos depoimentos de todas as testemunhas, sobreviventes do acidente na Baía de São José de Ribamar, negou que estivesse embriagado durante a travessia.
Negou, também, que tivesse levado os brincantes da dança Portuguesa Marinheiros de Portugal, ao município de Icatu, para onde foi, segundo ele, sem passageiros, pois tinha que pagar uma promessa durante o festejo de São Raimundo Nonato. Na volta, garantiu o acusado, ficou surpreso quando viu as pessoas subindo na embarcação.
Diante das diversas contradições no depoimento, a delegada, que já havia solicitado a prisão do condutor do barco e teve o pedido atendido pela Justiça daquela comarca, deu voz de prisão a ele.
No começo da noite, Chicolé foi encaminhado à carceragem do 9º DP (São Francisco), já que a delegada entendeu que poderia haver clamor público e tentativa até de invasão da delegacia para linchamento do mestre da embarcação. Chicolé está preso temporariamente.
A biana Estrela Guia I, apesar de constar como sendo de propriedade de Walbinaldo, está registrada na Capitanhia dos Portos em nome de Armando dos Santos, que é seu pai.
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