Adolescência estendida

Estudo mostra que cérebro segue em desenvolvimento até os 32 anos

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Cambridge analisou exames de 3,8 mil pessoas, de recém-nascidos a idosos, e identificou os processos que o cérebro passa por cinco fases ao longo da vida.

Imirante.com, com informações do g1

Atualizada em 13/12/2025 às 10h26
Cérebro segue em desenvolvimento até os 32 anos, aponta pesquisa; veja fases da vida
Cérebro segue em desenvolvimento até os 32 anos, aponta pesquisa; veja fases da vida (Reprodução/Internet)

MUNDO - Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Cambridge analisou exames de 3,8 mil pessoas, de recém-nascidos a idosos, e identificou os processos que o cérebro passa por cinco fases ao longo da vida.

O estudo, publicado na revista científica "Nature Communications", aponta que a mudança mais marcante ocorre por volta dos 32 anos que, segundo a pesquisa, a arquitetura cerebral deixa o padrão típico da adolescência e entra no período mais estável da vida adulta.

Os quatro momentos médios de virada estrutural ocorre aos 9, 32, 66 e 83 anos. Para os autores, essas mudanças ajudam a compreender por que certas habilidades despontam ou se transformam, além disso, ajuda a entender por que algumas condições de saúde tendem a surgir em diferentes fases da vida.

Veja o que acontece com o cérebro em cada fase

Os pesquisadores definiram cinco fases da vida (ou “eras”) em que organizam a trajetória estrutural do cérebro humano. 

Da infância aos 9 anos: cérebro em rápida reorganização
Nos primeiros anos de vida, o cérebro passa por intenso crescimento das conexões, ao mesmo tempo, em que elimina ligações pouco usadas. Esse processo acompanha o desenvolvimento da linguagem, da memória e da coordenação. Aos 9 anos, ocorre uma virada: o foco deixa de ser criar conexões e passa a torná-las mais eficientes.

Dos 9 aos 32 anos: adolescência cerebral prolongada
A partir dos 9 anos, o cérebro entra em uma longa fase de reorganização, que se estende até o início dos 30. As conexões se integram melhor, o fluxo de informação se torna mais rápido e cresce a capacidade de adaptação cognitiva, emocional e comportamental. Aos 32 anos, o estudo identifica o fim dessa “adolescência estrutural” e o início de uma fase mais estável.

Dos 32 aos 66 anos: estabilidade cerebral
Entre os 30 e os 60 anos, o cérebro apresenta menos mudanças estruturais. As redes mantêm organização estável, com boa comunicação entre diferentes regiões. Esse período coincide com maior constância em habilidades cognitivas, traços de personalidade e padrões de comportamento.

A partir dos 66 anos: início do envelhecimento estrutural
Por volta dos 66 anos, surge um novo ponto de virada. O cérebro começa a passar por mudanças lentas, com redução gradual da integração entre regiões e maior uso de circuitos locais, refletindo o envelhecimento biológico.

Após os 83 anos: redes mais enxutas
A partir dos 83 anos, algumas conexões de longa distância se tornam menos ativas, enquanto regiões-chave ganham maior importância na circulação de informações. Segundo os pesquisadores, essa reorganização ajuda a explicar por que algumas funções ficam mais lentas, enquanto outras permanecem preservadas.

Por que isso importa?

A pesquisa não serve como diagnostico individual, mas fornece um “mapa de fundo” das fases onde o cérebro muda mais ou menos. Isso ajuda em pesquisas sobre:

  • dificuldades de aprendizagem que surgem na infância tardia;
  • condições de saúde mental que aparecem no fim da adolescência e início da vida adulta;
  • riscos de declínio cognitivo que aumentam a partir dos 60 anos.

Como foi feito o estudo?

Os pesquisadores reuniram dados de dez grandes projetos internacionais de neuroimagem, com scans de ressonância magnética por difusão (dMRI) de 3.802 pessoas de 0 a 90 anos. O método permite mapear a substância branca, responsável por conectar diferentes regiões do cérebro.

A equipe padronizou o processamento das imagens, corrigiu diferenças entre centros de pesquisa e usou modelos matemáticos para medir o nível de integração das redes cerebrais ao longo da vida. A partir disso, identificou as idades em que ocorrem mudanças significativas na organização do cérebro.

Pontos fortes:

  • grande tamanho de amostra cobrindo todo o ciclo da vida;
  • uso de protocolos de processamento uniformes;
  • abordagem que combina várias métricas de rede em vez de depender de uma única medida.

Ressalvas:

  • é um estudo transversal — pessoas diferentes representam cada idade, o que impede afirmar que essas mudanças são exatamente a trajetória de um indivíduo;
  • há menos participantes nos extremos da idade;
  • a maioria das coortes vem de países de alta renda;
  • técnicas de tractografia têm limitações conhecidas.

O que isso reflete no cotidiano?

O estudo não indica hábitos específicos, mas reforça algo já conhecido pela literatura médica: o cérebro continua mudando ao longo de toda a vida, com fases de maior plasticidade e outras de maior estabilidade. 

Na prática, compreender essas janelas ajuda a contextualizar:

  • por que a adolescência é um período tão sensível e de mudanças rápidas;
  • por que a sensação de estabilidade costuma surgir só depois dos 30;
  • por que proteger o cérebro na meia-idade (sono, atividade física, saúde cardiovascular) é central para um envelhecimento saudável.

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