Brasília - O embaixador do Irã no Brasil, Seyed Jafar Hashemi, diz que seu país nada teve a ver com o início do conflito, e que essa hipótese seria mais uma maneira dos Estados Unidos culparem o Irã pela instabilidade no Oriente Médio. Na entrevista à Agência Brasil, diz também que os EUA promovem um "apartheid" nuclear quando permite que países como Israel desenvolvam essa tecnologia, mas outros não.
Agência Brasil: O embaixador da Síria, Ali Diab, disse para a Agência Brasil que se a Síria for atacada, o Irã entra na guerra, e vice-versa. É verdade?
Seyed Jafar Hashemi: Não queremos chegar a esse ponto, porque queremos a paz. Se a Síria for atacada, existe um grande apoio diplomático por parte do Irã, mas não chegamos a falar em apoio militar. Esse apoio não é só por parte do Irã. Muitos países muçulmanos certamente apoiariam a Síria em caso de ataque. Se vocês estudarem a nossa história contemporânea, verão que nunca atacamos outro país, sempre houve defesa. Nos oito anos de guerra com o Iraque, foi uma guerra de defesa. Nunca utilizamos nossa capacidade militar contra o Iraque. Mais de 300 mil iranianos foram mortos.
Agência Brasil: Mas a defesa é o mesmo argumento que Israel usa atualmente.
Hashemi: Mas quem começou essa guerra? O conflito imposto pelo Iraque contra nós foi orientado pelos Estados Unidos para destruir a Revolução Islâmica. O Saddam [Hussein, ex-ditador iraquiano, atualmente preso] recebia todas as informações dos equipamentos dos americanos. Países como Alemanha e França deram armamentos químicos para o Iraque. Até a Rússia alugou aviões. E o Irã estava num ambiente muito fechado, limitado, que nem conseguia comprar arames.
Agência Brasil: O potencial militar do Irã é suficiente para um confronto contra Israel?
Hashemi: Nós não queremos que isso aconteça, mas posso dizer que qualquer país que ataque o Irã, que tente invadir, terá resposta muito forte. Os prejuízos para esse país serão muito grandes. Basta ver o insucesso [israelense] perante um grupo de resistência no Líbano. Eles são como tigres de papel, vazios por dentro.
Agência Brasil: A embaixadora de Israel disse que os seqüestro dos dois soldados israelenses por parte do Hizbollah aconteceu por ser de interesse do Irã – desviaria a atenção sobre o armamento nuclear iraniano.
Hashemi: Esse argumento da embaixadora de Israel não tem fundamento. O programa nuclear iraniano há três anos está dentro da Agência Internacional de Energia Atômica. O mundo sabe que o Irã tem o direito de desenvolver essas tecnologias. Mas criaram um duplo critério para não deixar o Irã desenvolver o seu programa. Basta olhar a reunião dos países não alinhados há um mês: 102 países enfatizaram o direito do Irã desenvolver a tecnologia nuclear. Alguns países, Estados Unidos da América, e alguns países europeus que não estão de acordo com o fato de outros países tenham acesso a essa tecnologia estão fazendo propaganda contra o Irã.
Qual a diferença entre o Irã e um país como Israel, por exemplo? O Irã é um país membro de agência Internacional de Energia Atômica. Todos os atos, todos os programas e todas as atividades são inspecionadas pela Agência Internacional de Energia Atônica. Mas um país como Israel tem armas atômicas e não é membro da AIEA e não existe nenhuma vistoria, nenhuma inspeção nesse país e ninguém fala, todo mundo fica calado. Nos últimos dois anos eles visitaram nossas instalações, até mesmo instalações militares, o que não é permitido pela agência. Em todos os relatórios da agência fala-se que não existe nenhum desvio ou falha no programa nuclear iraniano.
Posso dizer que o Irã é o único país no mundo que diz não aos EUA, que por isso criou todo esse cenário contra o Irã. É só acontecer qualquer ato no mundo para fazer ligação com o Irã. Até hoje não há nenhuma prova contra o programa nuclear iraniano. O Irã nega 100% que tenha algum envolvimento com o seqüestro dos soldados.
Os grandes países estão fazendo uma apartheid nuclear no mundo, eles não querem que outros países tenham essa tecnologia. Eles têm nesse sentido uma expressão de que qualquer coisa no mundo que não pertence aos Estados Unidos não deve pertencer a um país, tem que ser coisa internacional. Isso acontece tanto com a Amazônia quanto com o petróleo no nosso território.
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