Dia dos Povos Indígenas

Desmatamento e contaminação do Rio Pindaré reduzem alimentos e impactam cultura de povos indígenas do MA

Populações das terras indígenas Pindaré e Krikati sofrem com os impactos da degradação ambiental do Rio Pindaré.

Fabiana Serra/Imirante.com

Atualizada em 19/04/2024 às 16h31
Desmatamento e contaminação do Rio Pindaré reduzem alimentos e impactam cultura de povos indígenas do MA.
Desmatamento e contaminação do Rio Pindaré reduzem alimentos e impactam cultura de povos indígenas do MA. (Foto: Reprodução/TV Mirante)
A situação do Rio Pindaré é grave. A situação dos recursos hídricos no Maranhão é gravíssima, é agonizante. O Rio Pindaré, como todos os rios, tem sofrido ao longo dos anos as intervenções que têm prejudicado muito seu curso.
Raimundo Nonato Andrade, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pindaré

Assolado por desmatamento da mata ciliar, queimadas, ocupações irregulares, esgoto in natura das populações urbanas, além de assoreamentos ao longo de sua extensão, o Rio Pindaré tem em seu percurso um rastro de degradação ambiental. 

Como impacto, a população nas terras indígenas (TIs) localizadas em regiões por onde o rio passa, como as TIs Pindaré e Krikati, sofre com as consequências, como a falta e a contaminação de peixes usados para a alimentação. 

“Devido ao desmatamento na margem, assoreamento do rio e a seca em alguns trechos do rio, faltou subir peixe. Faltou peixe durante a época que secou tudo. E com a escassez de alimentos, alguns rituais não tem acontecido. Eu acompanhei alguns rituais que o meu povo fazia no percurso do Rio Pindaré, mas hoje não tem. Nós estamos perdendo a história”, afirma a liderança indígena Sílvia Krikati.  

De acordo com o estudo “Aspectos Qualitativos da Água do Rio Pindaré na Amazônia Maranhense”, publicado em 2023 por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), nos anos de 2010 e 2011, trechos do rio localizados entre os municípios de Tufilândia, Pindaré-Mirim e Alto Alegre do Pindaré apresentaram uma quantidade de fósforo acima de 0,1 mg/L, quantidade que ultrapassa o recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e favorece o crescimento de algas e plantas aquáticas nocivas. 

Uma nova coleta realizada pelos pesquisadores nos anos de 2019 e 2021, realizada nos municípios de Zé Doca e Governador Newton Bello, identificou um nível de nitrato de 17,75 mg/L nas águas, sendo que nos anos de 2010 e 2011, a quantidade não passava de 0,91 mg/L, que é considerada segura. O aumento pode estar relacionado ao uso de adubos e fertilizantes. 

“Nós temos denúncias na terra indígena Pindaré já da presença de fósforo na água, isso se deve ao uso de produtos químicos, de agrotóxicos na pulverização das culturas dos empresários, o que é altamente prejudicial, pois não contamina só a água, contamina o solo, contamina os peixes”, destaca o professor e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pindaré, Raimundo Nonato Andrade. 

Segundo Nonato, a pesca predatória também é um problema que afeta muito o território da bacia do Pindaré, especialmente no período da piracema, quando os peixes se reproduzem, o que contribui para a diminuição e o desaparecimento de espécies da região. 

Outro problema é a infestação de espécies exóticas e invasoras oriundas da prática da piscicultura. “No inverno de 2019, aqui na região de Viana, onde eu moro, foram 18 açudes que estouraram e as espécies desses açudes estão hoje se reproduzindo dentro do lago de Viana, no Rio Pindaré”, relata.

O Rio Pindaré sustentou o ser humano. Hoje, ele precisa de ação humana para poder dar comida para nós.
Sílvia Krikati

Na tentativa de contornar a situação, iniciativas tentam restaurar as matas ciliares e recuperar os peixes nativos do Rio Pindaré, como explica Sílvia. “Um viveiro foi construído na Aldeia São José para recuperar essa nascente, mas não só ela, nós estamos reflorestando o território todo. Onde tem nascente nós estamos recuperando, fazendo a plantação de mudas para manter a vida aqui.”

De acordo com Nonato, cerca de cinco mil mudas de plantas nativas já foram plantadas pelo povo Krikati em um trabalho que já dura aproximadamente cinco anos e que conta com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

No entanto, o trabalho é dificultado pela falta de recursos e pela ação humana. “A gente planta muda e os vizinhos que não são indígenas arrancam. A gente plantou sumaúma, mas foram arrancadas. Não sei nem porque arrancam. Nós não estamos plantando árvores, estamos plantando água”, relata Sílvia. 

Rio Pindaré é vida, Rio Pindaré respira, Rio Pindaré alimenta
Sílvia Krikati

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA) foi questionada pelo Imirante sobre as ações de fiscalização da qualidade das águas dos municípios banhados pelo Rio Pindaré. Em nota, a SEMA afirmou que realiza o monitoramento da qualidade da água das principais Bacias Hidrográficas do estado do Maranhão por meio do Programa Qualiagua. 

“A fiscalização ambiental atua em operações de combate à degradação hídrica e no atendimento à denúncias, além da realização de vistorias in loco para localizar fontes contaminadoras, através da coleta de amostras de água”, informou a secretaria. 

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