Jogos digitais impulsionam a economia local e a criação de novos negócios no Maranhão
Apesar das dificuldades de criar jogos longe dos centros de inovação, iniciativas buscam formalizar e profissionalizar a comunidade de desenvolvedores do Estado.
MARANHÃO - Se até pouco tempo atrás os jogos digitais eram considerados apenas como um passatempo dos mais jovens, hoje em dia essa afirmação não é mais verdadeira. Três em cada quatro brasileiros afirmam possuir o hábito de jogar, de acordo com os últimos dados da Pesquisa Game Brasil. O país concentra a quinta maior população online do mundo, possuindo cerca de 94,7 milhões de jogadores.
Entre os negócios de entretenimento, a indústria de jogos é uma das que mais prosperam no mundo. Hoje, ela só perde para a TV, já tendo ultrapassado até o próprio cinema. Enquanto que ‘Avatar’, o filme que arrecadou a maior bilheteria da história do audiovisual, faturou US$ 2,9 bilhões, o jogo ‘Grand Theft Auto V’ acumulou cerca de US$ 6 bilhões.
O Brasil já possui um estúdio no setor considerado um unicórnio - empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Trata-se da Wildlife, estúdio de São Paulo que em 2020 foi avaliado em US$ 3 bilhões.
Outro exemplo de sucesso no país é a também paulista ARVORE, que trabalha com jogos em realidade virtual (VR). Atualmente, a empresa está em parceria com a Atari - uma das maiores responsáveis pela popularização dos videogames na década de 1970 - na produção do próximo jogo da franquia Pixel Ripped, idealizado pela maranhense Ana Ribeiro, que atua como diretora criativa do estúdio.
Se por um lado a indústria de jogos garantiu o seu espaço no setor de entretenimento, por outro, os jogos demonstram que servem para muito mais do que isso. Já existem inúmeras iniciativas que utilizam os elementos interativos dos jogos digitais como forma de apoiar o trabalho de setores como, por exemplo, a educação e a saúde.
No Maranhão, essa indústria é relativamente recente. As primeiras iniciativas no setor começaram nos anos 2000, impulsionadas por estudantes do curso de ciências da computação da Universidade Federal do Maranhão. A partir da década seguinte, o setor passou por um processo de amadurecimento com a criação da Associação de Desenvolvedores de Jogos do Maranhão (AMAGAMES).
A indústria de jogos no Maranhão
O Maranhão possui um mercado de jogos crescente. A indústria teve um salto de faturamento de mais de 500% entre os anos de 2019 e 2021, indo de R$ 110 mil para R$ 568 mil, segundo os dados do Mapeamento do Ecossistema de Desenvolvimento de Jogos do Maranhão, produzido pela AMAGAMES.
“As projeções para o futuro do mercado de jogos no Maranhão são muito boas”, afirma Kassio Sousa, cofundador da OPS Game Studio e diretor executivo da AMAGAMES. “A gente teve um crescimento muito alto nos últimos quatro, cinco anos, principalmente porque os atores estão se profissionalizando mais e empresas estão surgindo.”
Em 2022, foram produzidos no Estado um total de 27 jogos, entre jogos autorais e prestações de serviço. Destes, quatro estiveram em produção em parceria com publicadoras.
“O principal é que esses projetos estão sendo autossustentáveis, gerando renda e trazendo investimento, alterando positivamente a balança comercial do Estado, trazendo recursos financeiros de fora para dentro do Maranhão e esse dinheiro sendo investido aqui dentro do próprio Estado, tanto com contratação de profissionais quanto também do próprio consumo desses profissionais que atuam aqui. Então, o futuro do mercado de jogos aqui no Maranhão é muito promissor”, destaca Kassio.
A indústria não se concentra apenas na capital maranhense, já existem desenvolvedores mapeados, por exemplo, no município de Timon, no interior do Estado.
“O grande selling point [”ponto forte”, em tradução livre] do jogo como produto é que é fácil distribuir um jogo. Daqui de São Luís, Timon, Caxias, Imperatriz, a gente consegue vender pro mundo inteiro. Pensando em uma indústria que gera valor, a gente não tem limitação geográfica”, afirma Sidney Melo, pesquisador da área e diretor de capacitação e aperfeiçoamento profissional da AMAGAMES. “Se a gente estiver levando o nosso produto, a gente consegue levar também o que a gente acredita, as nossas ideias, as nossas narrativas, a nossa cultura, a nossa música, a nossa arte.”
A produção de jogos impulsiona a criação de novos negócios e empregos qualificados, além de incentivar o avanço tecnológico. No entanto, a escassez de oportunidades de financiamento para estúdios e desenvolvedores em estágio inicial é um dos empecilhos para o crescimento do setor. A nível nacional, a indústria se concentra no sul e sudeste do país, o que acarreta na concentração de investimentos nessas regiões.
“É complicado ganhar um edital a nível nacional ou regional quando você vem do Maranhão, porque você vai estar batendo de frente com estúdios e desenvolvedores que estão em centros de inovação”, destaca Sidney.
Iniciativas
“Diferente de muitos que já queriam fazer jogos desde pequeno, eu só via jogos sendo feitos por empresas grandes, então nunca me imaginaria criando games”, conta Marcos Januário, mestrando em Engenharia de Computação pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Januário, que hoje atua como programador pela Astral Game Studio, relata que as primeiras experiências que teve na área foram durante a graduação. Como trabalho de conclusão de curso, ele criou um jogo voltado para a educação. “Com o passar do tempo fui tendo mais relação com as pessoas da AMAGAMES, que me incentivam a transformar um hobby em carreira.”
Para contornar os desafios de criar jogos longe dos grandes centros de inovação, a associação investe em iniciativas para unir a comunidade de desenvolvedores e atrair novos entusiastas. Uma das principais ações é o Mage, ou Maranhão Gamedev Event, um encontro mensal que ocorre de forma presencial e online voltado para a apresentação de jogos em desenvolvimento, bem como a realização de paletras sobre negócios ou técnicas da área.
Além dele, também são promovidas as Game Jams, maratonas focadas no desenvolvimento de jogos completos, geralmente em um pequeno espaço de tempo, como em 48 ou 72 horas. Durante o evento, são criadas equipes formadas por pessoas de diferentes áreas, como programação, design, trilha sonora, entre outras. A última Game Jam ocorreu em fevereiro no SebraeLab, em São Luís, e contou com a participação de 50 pessoas e a criação de 13 jogos.
A mais recente iniciativa é o Coop, um espaço de coworking localizado no SebraeLab, no qual desenvolvedores, novatos ou experientes, podem usufruir de equipamentos disponibilizados pelo Sebrae, além de terem a oportunidade de trocar experiências e conhecimentos com outros profissionais.
“A convergência entre profissionais e novatos faz com que todo mundo se desenvolva e evolua”, afirma Kassio Sousa. “Quando você é novato na indústria e tem contato com profissionais, com pessoas que já estão atuando, você tem uma inspiração, tem uma motivação e aprende coisas que você não vai precisar errar. Você já vai ter um ponto de partida mais avançado.”
Profissionalização
Os estúdios de jogos do Estado são, em sua maioria, microempresas ou formados por microempreendedores individuais (MEI). Mas o setor só começou a se formalizar a partir do primeiro contato com o Sebrae, em 2018, através do projeto de Economia Criativa, momento em que os desenvolvedores contaram com apoio na abertura de CNPJs, bem como workshops e mentorias sobre montagem de estúdios e estruturação de negócios realizados por profissinais que são referência na indústria.
“Isso fez com que, a longo prazo, fossem desenvolvidos novos projetos, novos estúdios, novos desenvolvedores com a mentalidade de negócios, que é algo que o Sebrae apoia muito e a gente abraçou, e que está totalmente relacionado com a evolução que o ecossistema tem tido nos últimos anos”, destaca Kassio Sousa.
Em 2019, o Sebrae realizou uma missão que levou desenvolvedores maranhenses para o BIG Festival (Best Internacional Games Festival), o maior evento de games, criação, negócios e networking da América Latina.
“Foi uma das primeiras oportunidades para que vários estúdios pudessem se conectar com o mercado nacional e ganhar experiência, foi o nosso caso”, destaca Heitor Dias, cofundador do Studio Clops e diretor de relações públicas da AMAGAMES.
“Desde então viemos nos profissionalizando cada vez mais e conseguimos que nosso jogo fosse finalista na categoria de melhor jogo multiplayer da edição de 2022. Novamente, o Sebrae foi fundamental e conseguiu as passagens para que pudéssemos garantir a nossa ida para podermos participar integralmente das atividades do BIG Festival, como as rodadas de negócio, palestras, Brasil Direct, entre outras atividades”, complementou Heitor.
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