Terra Indígena Cana Brava

No Maranhão, indígenas denunciam falta de medicamentos e assistência médica

A comunidade conta apenas com três postos de saúde.

Imirante, com informações da TV Mirante

Atualizada em 28/12/2022 às 22h07
Uma das unidades de saúde da região, localizada na Aldeia Coquinho, foi reformada neste ano após os protestos, mas mesmo com a reforma o posto continua desativada.
Uma das unidades de saúde da região, localizada na Aldeia Coquinho, foi reformada neste ano após os protestos, mas mesmo com a reforma o posto continua desativada. (Foto: divulgação)

MARANHÃO - Os moradores da Terra Indígena Cana Brava, região que conta com mais de 260 aldeias indígenas e abrange cerca de 137 mil hectares, denunciaram a falta de atendimento médico e ausência de medicamentos no local. A comunidade conta apenas com três postos de saúde e quatro protestos contra a situação, sendo o último em julho, já foram realizados pelos indígenas.

Uma das unidades de saúde da região, localizada na Aldeia Coquinho, foi reformada neste ano após os protestos, mas mesmo com a reforma o posto continua desativada. Equipamentos médicos do local estão empoeirados e alguns deles não são ligados há mais de cinco anos. Os indígenas também alegam que a maioria dos medicamentos estão vencidos desde 2019.

De acordo com o cacique José Luciano Caminha Guajajara, todas as aldeias da região sofrem com a falta de atendimento médico. "Não dão remédio, dão receita para os índios. Às vezes precisa de uma operação de cirurgia e o pessoal não estão nem aí com a gente. Não tem uma, nenhuma aldeia que está melhor né? Está tudo igual, sofrimento igual", reclamou o indígena.

Um dos casos mais complexos vistos na região é o de uma indígena de 78 anos que tem doença de Parkinson e não consegue ter acesso aos medicamentos de uso prolongado, necessários para controlar as crises. Segundo a família, os fármacos nunca foram recebidos de forma gratuita no posto de saúde. "Hoje mesmo não tem não [remédio]. Faz é dia que não tem, acabou. É porque não tem 'real' para comprar", explicou o lavrador Eliezer de Sousa Guajajara.

O Distrito Industrial Indígena (DISEI) é responsável por fornecer acesso à saúde nas aldeias. O órgão é ligado à Secretaria Especial de Saúde Indígena. Durante os protestos realizados pelos indígenas da região em 2022, uma das principais medidas pedidas foi o afastamento de Alberto José Braga, coordenador do DISEI, que continua no cargo. "Aqui não entrou mais nenhum médico de junho para cá. Entrou um dentista bem aqui, mas o resto de médico nunca veio para cá. E o médico que trabalhava dentro da equipe, o coordenador tirou e até agora não colocou mais nenhum", relata o cacique José Luciano Caminha Guajajara, presidente da Organização do Conselho Supremo dos Caciques.

Enquanto a solução para a falta de acesso à saúde não chega para os moradores da Terra Indígena Cana Brava, os problemas continuam aumentando. A manicure Eline Mariano Guajajara, de 24 anos, convive com uma pedra nos rins desde os 14 anos e revela que sente fortes dores por não ter suporte médico. "Quando eu fico com as crises, eu tenho que suportar a dor na minha casa. Porque não tem como ter um medicamento para tomar, entendeu? Para poder passar a dor. Tem hora que nós mesmos compramos remédios, antibióticos, para poder passar a dor. E quando não tem dinheiro, tem que sofrer com a dor", disse Eline.

Os problemas de saúde que existem na região atingem pessoas de todas as idades. Há crianças, como a neta de Bernardino Soares Guajajara, que está com o corpo coberto por manchas e sem nenhum diagnóstico sobre o que se trata o problema. “Já [se já foi ao médico]. Passaram só uma pomadinha que ainda hoje tem ali. A gente passa, mas cada vez mais tá aumentando.”, explica Bernardino. 

Procurado, o Ministério da Saúde não comentou sobre o caso até o encerramento desta matéria.

 

 

 

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.