Brasil

No Maranhão, estatísticas da produção dão visibilidade a povos indígenas

Apesar das dificuldades enfrentadas, essas comunidades lutam diariamente para que sejam mantidas vivas as tradições herdadas dos seus antepassados.

Imirante.com, com informações de IBGE

Atualizada em 27/03/2022 às 11h19
(INDIO)

Mais que coletar dados, o Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE, também contribui para que seja conhecida a produção agrícola de comunidades tradicionais, como os indígenas. No Maranhão, durante o trabalho de coleta de dados para o Censo Agro, os recenseadores percorreram diversas terras indígenas e constataram o modo peculiar como essa população lida com a terra. Apesar das dificuldades enfrentadas, como o desmatamento e outras formas de destruição, essas comunidades lutam diariamente para que sejam mantidas vivas as tradições herdadas dos seus antepassados.

Além das tradições, outro ponto fundamental é a busca desses povos tradicionais por direitos sociais. É esse o foco do Dia do Índio, comemorado no país em 19 de abril, assim como em outros países da América Latina, como Argentina e Costa Rica. Adotada oficialmente no Brasil em 1943, a data é uma referência à primeira reunião entre autoridades e representantes indígenas no Congresso Indígena Interamericano de 1940.

Dificuldades na coleta

Uma das aldeias visitadas pelos recenseadores no Maranhão foi a Axinguirendá, localizada no município de Centro do Guilherme, a cerca de 440 km de São Luís. Ela está situada na terra indígena do Alto Turiaçu, onde vivem os índios da etnia Ka’apor.

Não é fácil chegar ao local onde a comunidade está situada. São cerca de 20 quilômetros de distância entre a região central de Centro do Guilherme e a aldeia, caminho esse feito o tempo todo por uma estrada vicinal e, em alguns trechos, dentro da mata.

A dificuldade de chegar ao local ajuda indiretamente na preservação da cultura desse povo ao afastar os visitantes. Contudo, infelizmente, a localização não foi obstáculo suficiente para impedir a atuação de madeireiros, que causaram o desmatamento da região.

Os indígenas da Aldeia Axinguirendá sobrevivem da agricultura de subsistência, pesca e também da caça, atividade essa que, por sua vez, é feita dentro da mata fechada. Já a criação de animais é bem restrita.

No dia a dia, membros da comunidade precisam se deslocar frequentemente até a região central de Centro do Guilherme em busca de algum tipo de mantimento. Todas essas informações foram repassadas aos recenseadores do IBGE pelos responsáveis pela aldeia, uma vez que apenas os homens falam o português. As mulheres e as crianças menores de cinco anos de idade falam, apenas, o tupi-guarani.

A comunidade ainda conserva muito das tradições dos seus antepassados, o que ainda pode ser visto na divisão do trabalho, por exemplo: enquanto os homens são responsáveis pela caça e pela pesca, as mulheres ocupam-se dos afazeres domésticos e da agricultura. Durante a coleta de dados, por exemplo, um grupo de mulheres produzia farinha, realizando desde o corte da mandioca ao produto final.

Outros costumes que fazem parte da cultura da comunidade ainda estão mantidos e continuam sendo passados de geração em geração. “Realizamos, ainda, as festas, casamentos e batizados”, disse Ximy Ka’apor, cacique da aldeia. Contudo, os indígenas da localidade já enfrentaram ameaças às suas tradições.

Ameaça de madeireiros

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Maranhão tem hoje 22 terras indígenas espalhadas pelo seu território, onde vivem populações de etnias como Ka’apor, Guajá, Tenetehara, Kanela, Kricati, entre outras. Muitos desses espaços já foram e continuam sendo devastados pela ação de não-indígenas, causando prejuízos - em muitos casos irreversíveis - para essas comunidades tradicionais.

Na Aldeia Axinguirendá, uma dessas situações está diretamente relacionada à presença de madeireiros na região que, com a extração ilegal da madeira, causava prejuízos imensuráveis para a comunidade. Em virtude disso, conflitos entre os indígenas e os invasores eram frequentes.

“Hoje, já não tem mais tanto madeireiro como antes”, pontuou Ximy Ka’apor. Isso se deve à fiscalização que está sendo feita na região para impedir a atuação dos madeireiros clandestinos e o desmatamento ilegal. Porém, as consequências da devastação ainda estão presentes na terra indígena e apenas o tempo vai fazer com que a mata se recupere novamente.

Outra consequência da ação de não-indígenas no território é a poluição de muitos dos açudes da terra que faz parte da aldeia, causada pela atuação de garimpeiros ilegais na localidade. Apesar das adversidades, a comunidade está conseguindo superar os obstáculos para manter vivas as suas tradições e culturas.

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