ALCÂNTARA - A leitura do Pelouro, marcada para esta tarde, às 17h, na Praça Matriz de Alcântara, diante de toda a população, marca a transição do ano da Imperatriz, encerrado ontem, para o ano do imperador. É o fim de uma época tomada pela beleza - a Festa do Divino Espírito Santo - e o começo de outra, carregada pela imponência. Duas épocas de valorização da tradicional festa oferecida ao Imperador Dom Pedro II, que prometeu visitar a cidade maranhense. A visita nunca ocorreu, mas sobrou a tradição de festejar, ao som de caixas, a presença do espírito santo nos céus da cidade. “Costumo dizer que a festa do Divino Espírito Santo não tem fim”, afirma a mordoma régia Karina Waleska Scanavino, diretora da Casa Histórica de Alcântara.
Os últimos dias em Alcântara repetiram, no meio das ruas históricas, intensas manifestações de religiosidade. Os cortejos com mordomas, árias e vassalos do Império do Divino Espírito Santo circularam até mesmo durante a madrugada. O sábado amanheceu com rojões e estouro de fogos às 5h, com início da alvorada, quando as caixeiras do Divino Espírito Santo já tocavam suas caixas saudando o amanhecer do penúltimo dia de festa. Dezenas de pessoas levantaram da cama com os estrondos da pólvora explodindo.
As anciãs Marlene Silva, ou dona Malá, 69, e Maria Ferreira, 68, apreciaram a caixa e andaram pelas ruelas por toda a madrugada. Quase nunca dormem durante a celebração, iniciada desde o dia 16, com o levantamento do mastro da Imperatriz, posto ocupado este ano pela festeira Domingas Ribeiro. “Servir à Imperatriz é a melhor parte da festa do Divino. Para mim, é sempre o ano mais bonito. As árias das mordomas enfeitam as ruas com sua beleza, há algo de diferente, de mais belo”, afirma dona Malá.
A beleza foi conferida de perto por centenas de pessoas que foram à cidade para passar o fim de semana, principalmente por causa das festividades do Domingo de Pentecostes, que encerram o ciclo da festa. Turistas, pesquisadores e curiosos com suas câmeras digitais enfrentaram a travessia do Boqueirão – de lancha ou ferryboat – para aprender um pouco dos costumes tradicionais mantidos há dezenas de anos pelos alcantarenses.
Morador de Belo Horizonte, jornalista e curioso pelo Divino Espírito Santo, Filipe Motta programou uma viagem a trabalho para o período de celebração dos ritos em Alcântara. Ele considera a festa única e acredita ser difícil encontrar outra manifestação com riqueza de detalhes e envolvimento. “É uma festa difícil de se ver. É uma história guardada com afinco, apesar de estar perto de um grande centro, que é São Luís, que é muito mais moderno. Aqui ainda sentimos um pouco de uma tradição secular, que é muito rara em todo o Brasil. Na verdade, em todo o mundo”, avalia ele, que desenvolve um trabalho de conscientização sobre a exploração sexual infantil no município.
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