ZÉ DOCA - As lideranças indígenas dos povos Awá-Guajá, Ka’apor e os Tenetehara/Guajajara definiram como um grito pela vida o acampamento “Nós Existimos! Terra e vida para os caçadores e coletores Awá-Guajá”, instalado ontem na Praça da Igreja Matriz, no município de Zé Doca.
O povo Awá-Guajá exige a desintrusão imediata da terra indígena Awá. A área localizada nos municípios de Zé Doca, Centro Novo e Bom Jardim já foi demarcada e homologada, faltando apenas a desintrusão. Há um ano, o juiz federal José Carlos Madeira, da 5ª Vara Federal em São Luís, reconheceu o direito indígena sobre a terra e decidiu pela retirada dos ocupantes e a imediata regularização da área em um prazo de 180 dias. Mas a decisão foi suspensa pelo juiz Jirair Aram Meguerian, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, e o desmatamento e invasões aumentaram.
Apesar de as terras Awá terem sido reconhecidas legalmente, os índios são alvo de madeireiros, que estão abrindo estradas nas florestas, e de posseiros, que caçam os animais dos quais os indígenas dependem e os expõem a doenças e violências.
“Queremos viver nas terras que sempre foram nossas e que permitirão a sobrevivência do nosso povo”, assegurou o cacique Manatiká, da aldeia Awá, situada nas terras indígenas do Caru.
O acampamento foi iniciado com cantorias dos povos Ka’apor e dos Tenetehara/Guajajara em solidariedade aos Awá-Guajá. “Os povos Awá são uma presença profética. Este ato é um pedido à sociedade que os apóiem nessa luta”, disse a Irmã Ana Amélia, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Cerca de 50 índios Awá – muitos deles deixaram pela primeira vez a floresta - participaram do ato ontem em Zé Doca, que teve o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB – Nordeste 5), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Cimi.
Dom Carlo Ellena, bispo de Zé Doca, afirmou que os índios estão muito presentes na mente dos bispos do Maranhão e da Igreja Católica. “Estamos muito preocupados com vocês. O Cimi trouxe vocês aqui com os vossos problemas, os desejos, as ausências e os aperreios. Somos irmãos e vamos partilhar os sofrimentos para resolvermos essa questão”, afirmou o religioso.
Cacique da aldeia Awá Tiracambu, Xiparêxia afirmou que aprendeu a língua do branco para dialogar e evitar os conflitos. “Acabaram com as nossas terras, queremos viver nas terras que são nossas. Queremos viver bem, não queremos comprar e viver na cidade. Vivemos bem na floresta, e pela floresta, pelas nossas vidas é que queremos conversar com os brancos”, disse a liderança Awá.
Nômades – Os índios Awá são nômades e sem agricultura. Muitos não têm qualquer contato com outras populações e correm riscos, devido atividades ilegais de fazendeiros, madeireiros e garimpeiros.
Há registros recentes de ação de madeireiros, que efetuaram a derrubada de uma área da floresta próxima de algumas aldeias, limitando o deslocamento dos indígenas e interferindo negativamente sobre o seu modo de vida.
“Devido ao avanço das invasões em seu território, os índios estão sendo levados a modificarem seu modo de vida, o que tem provocado profundo impacto na população, que enfrenta dificuldades decorrentes da modificação em seus hábitos alimentares e até mesmo problemas de desequilíbrio demográfico ocasionado pelo isolamento dos grupos em regiões específicas do território devido às restrições de deslocamento”, afirmou Rosana Diniz, do Cimi.
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