Codó

Pesquisa faz raio x da migração em Codó e Timbiras

Aconteceu ontem, 12, no salão paroquial da Igreja de São José, o encontro que discutiu Reforma Agrária versos Justiça Social.

Acélio Trindade, para o Imirante.

Atualizada em 27/03/2022 às 13h36

CODÓ - Aconteceu ontem, 12, no salão paroquial da Igreja de São José, o encontro que discutiu Reforma Agrária versos Justiça Social, dentro do tema central que foi migrações. Participaram líderes religiosos católicos, associações de produtores rurais, sindicalistas e muitos cortadores de cana-de-açucar, os próprios migrantes.

TRABALHO EM EXCESSO

Entre estes, o jovem codoense Edílson da Silva Monteiro, que, em depoimento feito aos presentes, contou que passou seis meses em Ribeirão Preto. De lá trouxe uma experiência que não costuma recomendar. Citou dois problemas. “Para mim o que é mais ruim é a maneira como você é tratado e o forçamento do trabalho, porque você trabalha com o objetivo de atingir uma meta para a usina, se não conseguir aquilo que ela está querendo em um mês você poderá ser dispensado sem ter sequer dinheiro para voltar para sua casa”, disse Edílson explicando, posteriormente, que a meta é de 10 toneladas de cana cortada no final do mês para cada trabalhador. “Se você não forçar para conseguir aquelas 10 toneladas de cana, realmente em 30 dias você é dispensado”, concluiu.

Uma vez lá, o secretário executivo da CNBB no Maranhão, Pe. Flávio Lazzarin, afirma que as condições, realmente, não são das melhores. “A gente pode ouvir e ver qual é a situação dos canaviais, condições de trabalho desumanas, trabalho super explorado, sem garantias trabalhistas, com risco de doenças, com risco também de morrer no canavial com aquela doença que o povo chama de pirôla, que é a exaustão, causado, normalmente, por trabalho impossível”, disse Pe. Flávio sustentando que a grande razão da migração é ainda a questão fundiária, nunca resolvida no Maranhão. “Aqui é terra de latifúndio antigo, feudal, é terra de relações oligárquicas onde um punhado de famílias controla a terra, a economia, a política”, encerrou.

EXPORTANDO GENTE

Para estudiosos do assunto como o professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA – Marcelo Carneiro, a razão é o desemprego alarmante em Codó e Timbiras que, juntos, exportaram nos anos de 2006/2007, cerca de 9.000 pessoas para os canaviais de Goiás, Mato Grosso e São Paulo. Nos mesmos anos, a pesquisa feita por uma equipe da UFMA, sob a coordenação do professor Marcelo, constatou que 24% das famílias entrevistadas em Codó tinham pelo menos uma pessoa trabalhando no corte de cana. Em Timbiras, este índice chegou à 64% nas famílias entrevistadas. “O que nos chamou a atenção é que um grande número de pessoas, em Codó e Timbiras, mesmo morando na zona urbana, nas periferias dessas cidades, ainda tem na atividade agrícola o principal da sua manutenção econômica, o principal para manter a sua família. Então se você pega uma situação em que a maior parte das pessoas vivendo nas periferias ainda tem na atividade agrícola o principal da sua produção e você tem uma economia urbana muito limitada do ponto de vista da geração de emprego você entende porque eles se deslocam”, justificou o professor universitário.

5.500 EMPREGOS FORMAIS

Marcelo Carneiro, que chegou a produzir com sua equipe de pesquisadores, um documentário em vídeo, um livro e uma revista sobre o trabalho desenvolvido nas duas cidades, cita ainda número reais, de 2006, sobre empregos formais para provar o quanto é insuficiente. Falando especificamente de Codó, informou que existe uma mão de obra economicamente ativa de cerca de 27 mil trabalhadores aptos ao mercado, mas as indústrias, o comércio e o serviço público só consegue absorver, formalmente, pouco mais de 5.500 trabalhadores (dados de 2006). “Codó inclusive tem uma situação privilegiada porque é um centro econômico regional, tem um número grande de órgãos públicos, tem uma indústria de transformação e um comércio bastante desenvolvido, mas quando você chega à este número de 5.500 empregos formais e cerca de 27.000 pessoas em idade de trabalhar você entende que sem esta oxigenação urbana, você vai continuar tendo este fluxo de trabalhadores”, frisou Carneiro.

Alertar a toda a sociedade sobre o problema da migração de codoenses e timbirenses e buscar uma solução para isso, foram o centro das discussões no encontro Reforma Agrária versus Justiça Social. Mas muitos resumiram em poucas palavras o que consideram a fórmula mais eficaz, que poderia ser a geração de empregos na cidade e no campo dentro dos dois municípios. “Precisamos permanecer aqui, cada um dentro da sua comunidade, dentro do seu município trabalhando”, concluiu Edílson Monteiro.

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