CODÓ - O problema de menores envolvidos em atos infracionais em Codó é comum e secular. Os casos vão desde pequenos furtos à homicídios. No mais recente, um adolescente, de 16 anos de idade, foi detido pela polícia e levado à delegacia sob suspeita de já ter cometido três assassinatos. Dois deles foram confessados pelo infrator.
Foi a partir deste cenário que a promotora de justiça da Infância e Juventude de Codó, Tereza Muniz, teve a idéia de dar início à um projeto que fomentasse novas oportunidades à menores em desconformidade com a lei, diminuindo assim o caráter puramente punitivo empregado nesses casos.”Percebemos também que no município de Codó não havia nenhum programa voltado ao adolescente em conflito com a lei, daí que surgiu o Instituto Maná”, explicou a promotora.
Nasce Maná
Em junho de 2006, os primeiros meninos e meninas em estado de risco pessoal, como frisou a promotora, aqueles vulneráveis à violência urbana, conflito com a lei ou envolvimento com drogas, começaram a ser atendidos pelo projeto. Como ainda é hoje, são, preferencialmente, os encaminhados pela polícia, justiça ou Conselho Tutelar – filhos de pais doentes, pais traficantes, situação de prostituição em casa ou, simplesmente, órfãos.
Entre eles existem as mais diversas histórias de uma vida anterior ao Maná cheia de infrações. O jovem Francisco Filho, de 18 anos, ainda lembra como vivia.”Vivia fazendo atos infracionais, todo tempo só na rua. Eu não ia em casa, só no outro dia ou à noite mesmo. Agora estou vindo para cá (Maná) e o projeto me tirou dessa vida aí”, disse Francisco.
Educação
É o caminho que todos os 45 beneficiários do Instituto estão seguindo porque a assistência do Maná é integral. Eles são obrigados a voltar a freqüentar a escola sob a vigilância constante dos pais, que são reunidos mensalmente pela promotora e incluídos no trabalho de ressocialização dos filhos. Professores cedidos pelo município capricham na aula de reforço escolar diariamente no intuito de melhorar o desempenho de cada um.
Além do ensinamento escolar, muitos voluntários se envolveram na causa e ministram palestras sobre os mais diversos temas.
Voluntariedade
O pastor, Natan Esteves, por exemplo, líder da Igreja Cristã Evangélica no município, tem um encontro com as crianças e adolescente do Instituto Maná toda quarta-feira. Suas palestras são direcionadas ao despertar da importância da família e da religião, na vida.”Muitas vezes a gente cobra muito das autoridades e a gente não faz nada, é importante a sociedade se unir para ajudar estes adolescentes, estes jovens a terem um futuro melhor”, conclamou o pastor evangélico.
Sobre seu trabalho, especificamente, citou.”Hoje nós trabalhamos sobre os três valores principais da vida de uma pessoa – Deus, a família e a escola. Nós pretendemos trabalhar nessa área, trabalhando a motivação deles, este lado emocional para que eles possam crescer e, principalmente, para que eles vejam que é possível vencer”, explicou Natan Esteves.
Música e resgate
A música é outra forma de resgate usada no projeto. Sob a regência do mestre codoense, Hildelano Sousa, aqueles com aptidão para os acordes estudam partitura e aprendem a tocar instrumentos de corda, sopro e percussão. Com um coral bem afinado, a banda do Maná hoje é uma atração presente na maioria dos eventos importantes da cidade. Já fez apresentações em cidades vizinhas como Coroatá e até na capital São Luís.”Eu creio que o projeto também pensou nisso, trazer oportunidade pra eles através da arte da música. A música tem essa facilidade natural de atrair as pessoas pra vida em sociedade e para despertar talentos. Pessoas já passaram por aqui e hoje já estão trabalhando, envolvidas com a música. Então o projeto já causou isso e vai continuar fazendo”, disse o instrutor voluntário de música, Francisco Leal.
Além da música, crianças e adolescentes praticam dança e teatro. Quem gosta também pode se dedicar ao artesanato. O instituto mantém uma horta cultivada pelos adolescentes, numa espécie de terapia ocupacional.
Um curso de serigrafia é ministrado por um voluntário que promete dar emprego ao aluno do Instituto que mais se destacar. Isso tem estimulado a criatividade e participação de muitos que se identificam com a atividade. Ivo de Jesus, tem 16 anos. Leva uma ligeira vantagem sobre seus colegas por saber desenhar.
No Maná ele descobriu que pode fazer do seu prazer pelo desenho sua primeira fonte de renda.”Depois que eu entrei pra cá comecei a me interessar no desenho porque isso pode até me ajudar lá na frente, procurar um jeito de vender e ganhar meu sustento”, disse Ivo. Indagado sobre a possibilidade de um primeiro emprego na serigrafia respondeu.”É legal porque ali a gente já tem a certeza que, com este trabalho, podemos achar muitos outros empregos. A proposta é muito interessante pra gente”, completou.
Infrações diminuíram
A promotora Tereza Muniz além desses resultados que podem ser percebidos no convívio com os atendidos pelo Instituto, comemora a queda nos números da criminalidade envolvendo menores de idade em Codó. Dados de um parecer técnico da Procuradoria de Justiça do Maranhão, mostrados pela defensora da Infância e Juventude no município, revelam que o número de furtos, por exemplo, que é o maior problema, registrados, envolvendo crianças e adolescentes caiu drasticamente.
Em 2005, foram 11 casos; em 2006, 14 e este ano foram registrados apenas 2 casos de furto praticados por menores.”Consideravelmente o índice da criminalidade em relação à adolescente em conflito com a lei diminuiu, aliás são dados comprovados. Só tivemos um caso de reincidência desde que foi implantado o Instituto Maná, que foi em junho de 2006. E também nas delegacias de polícia de Codó, nenhum ato infracional, de julho (deste ano) pra cá foi registrado”, complementou Tereza Muniz.
Parcerias
O Instituto funciona no centro de Codó, na rua Semeão de Macedo, 1787, num prédio cedido pela família Buzar e reformado pela Prefeitura. É presidido por Onilde Silva de Sousa que conta com um quadro funcional de 13 profissionais das mais diversas áreas – pedagogos, músicos. O município, parceiro do projeto paga estes funcionários do Instituto. Mais cinco pessoas trabalham diariamente com essas crianças e adolescentes de forma voluntária.
Também são parceiros indústrias da região e grandes empresas que dão sua parcela de contribuição social doando alimentação, material de limpeza e, as vezes, até dinheiro para manter o Instituto funcionando.”Eu me sinto muito feliz porque eu acho que é este o papel do Ministério Público Social, contribuir para diminuir não só a criminalidade, mas também acabar com os problemas em que se encontram alguns garotos, alguns adolescentes”, disse Tereza Muniz.
Dessa felicidade também compartilham os beneficiários do Instituto. Adriano Ferreira Silva, 17 anos, acha que está se transformando numa pessoa melhor.”Eu me apliquei mais da parte de música. Sinceramente, hoje eu não tenho como chegar e abandonar o Maná, abandonar tudo. Já cheguei até aqui, então vou continuar pra frente. Isso é muito bom porque daqui eu posso sair até um profissional na parte de música, quem sabe. Quero fazer meu futuro”, disse cheio de esperança o jovem adolescente.
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