Famílias de emasculados se queixam de casas

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 13h56

SÃO LUÍS - Além dos problemas com a estrutura das casas, as 21 famílias dos meninos emasculados que hoje moram no Estrela d’Alva precisam conviver com outro problema: a hostilidade dos demais moradores do residencial, também apelidado de Conjunto Alexandra Tavares.

De acordo com as lideranças comunitárias da região, a hostilidade dos moradores em relação às famílias das vítimas de Francisco da Chagas é fruto do próprio Acordo de Solução Amistosa, firmado pelo governo. Segundo eles, as famílias receberam residências do Estrela d’Alva que estavam destinadas a serem entregues outras pessoas carentes da região.

“Nosso problema não é com as famílias dos emasculados, mas com o Governo do Estado, que liberou essas casas para 21 pessoas que não eram da comunidade. Isso, sem dúvida, revoltou toda a população daqui. Infelizmente, de fato, há ofensas das duas partes. Tanto dos moradores, quanto das famílias dos meninos emasculados”, contou a líder comunitária Duda Serejo. Vale lembrar que o conjunto Estrela d’Alva tem aproximadamente 460 casas, as quais começaram a ser construídas em dezembro de 2004, quatro meses após a invasão da área que tem 16 mil metros quadrados. As obras em todo o conjunto Estrela d’Alva custaram aproximadamente R$ 3 milhões.

Nesse tempo em que as famílias das vítimas dos meninos emasculados passaram a morar no Estrela d’Alva, elas já foram, inclusive, ameaçadas pelos moradores que não conseguiram casas no residencial. “Sempre culpam a gente, mas nós não temos culpa de nada. O governo nos jogou aqui e o que mais gostaríamos era de viver em paz. Apenas isso. Após todo o sofrimento, não é justo que também tenhamos de conviver com ameaças, xingamentos e situações do gênero”, contou Iraci Pereira, mãe do menino Júlio César Pereira, morto em 1998, quando tinha 11 anos.

Entenda o caso

A série de assassinatos ocorridos entre 1991 e 2003, de 42 meninos nos municípios maranhenses de São Luís, Paço do Lumiar e São José de Ribamar, e em Altamira, no Pará, que teriam sido cometidos pelo mecânico Francisco da Chagas, ficou conhecida como o Caso dos Meninos Emasculados e teve repercussão internacional. O mecânico é considerado pela Justiça do Maranhão o maior serial killer do estado de todos os tempos e um dos principais do país pelo número de vítimas e o tempo de ação dos crimes.

O caso ficou conhecido dessa forma pela tipicidade dos assassinatos. As crianças eram levadas para o mato e depois estranguladas e emasculadas. A cabeça da criança era sempre colocada perto de uma árvore chamada tucu e a genitália em cima da cabeça da vítima. Em um dos depoimentos, Chagas alegou que uma entidade aparecia e o mandava cometer os crimes dessa maneira. Ele foi a júri popular no fim do ano passado pelo assassinato de Jonathan Vieira, 15 anos, cuja morte aconteceu em 6 de dezembro de 2003. Chagas foi condenado a 20 anos de prisão. 

Por conta dos crimes cometidos por Francisco das Chagas, o estado foi responsabilizado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e obrigado a assinar um Acordo de Solução Amistosa que tinha caráter indenizatório a 28 das 42 famílias que foram vitimadas pelo serial killer.

O acordo tinha aproximadamente 30 itens, que variavam de homenagem às vítimas, reestruturação dos sistema de proteção à criança e ao adolescente no Maranhão, inclusão das famílias em programas habitacionais e concessão de pensão de R$ 500 por um período de 15 anos.

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