Trabalho infantil é explorado no povoado Caldeirão, em Codó

Não há escola na comunidade, que tem cerca de 40 crianças e adolescentes.

O Estado do Maranhão

Atualizada em 27/03/2022 às 14h26

CODÓ - O trabalho infantil afasta a criança da sala de aula, mas, em Caldeirão, povoado distante 19 km da sede do município de Codó, acontece o inverso. A ausência de uma escola deixa como opção o trabalho. A falta de educação no povoado é histórica.

O aposentado João Lopes de Oliveira, por exemplo, se apresentou como o primeiro morador do lugarejo, onde teria chegado em 1960. Desde então, ele, que não é alfabetizado, viu funcionar uma escola por apenas dois anos.

Nesse tempo, também viu crescer filhos, netos e bisnetos longe dos livros.

“Dos meus filhos, só um estudou, porque foi para a cidade. Quem ficou aqui não sabe nada. Não lê e não escreve. Aqui não tem uma criança que faça parte do Programa Bolsa-Escola. Ninguém estuda. Isso prejudica demais a gente”, reclamou o lavrador aposentado.

É dessa forma que o analfabetismo se perpetua em Caldeirão. Existem no povoado mais de 40 crianças e adolescentes em idade escolar. Há décadas tornou-se comum substituir essa busca do conhecimento pelo trabalho infantil.

Trabalho

Não é difícil encontrar, nas primeiras horas da manhã, A. de 8 anos, a caminho da Mata dos Cocais, com um cofo e um machado nas costas. Nessa idade, ele já enfrenta a mesma rotina da mãe. Sai por volta das 8h e só volta depois das 14h, às vezes, sem qualquer alimentação, como revelou a lavradora Maria Alice Aguiar, mãe de A. que tem, além dele, mais nove filhos.

“Era para estudar, mas não tem colégio. Aí tem que trabalhar para poder ajudar os pais, senão não come. Aqui, a gente vive do coco babaçu. Chegando no mato, nós juntamos o coco, ele quebra e faz carvão. Tem dia que ele quebra quatro litros e isso já me ajuda”, explicou a mãe de A.

De tão acostumado com a vida que tem, o menino ainda não aprendeu o que seria melhor para alguém de sua idade: se estudar ou trabalhar. Perguntado sobre o que queria fazer, se ir para a escola ou quebrar coco babaçu naquele momento, A. respondeu timidamente: “Quero fazer meu serviço, esse, que agora vou fazer”. Ele justificou a escolha acrescentando: “Não conheço a escola”.

O adolescente Francklin César Vieira dos Santos, de 15 anos, quer ser professor, mas ainda não sabe ler, nem escrever. “A vida da criança que não estuda aqui é quebrando coco. Essa vida não foi feita para nós. Eu pensava em estudar para ser um professor, mas, sem escola, acho que está tudo perdido”, afirmou o adolescente.

Adultos

Os adultos de Caldeirão também desejam estudar no povoado. ”Aqui tem muita gente com vontade de estudar. Acho que umas 80 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos”, contabilizou o lavrador Wellington Araújo Leite, de 26 anos.

Ver os filhos estudarem é um sonho que nunca morre em Caldeirão. Para a lavradora Maria do Socorro Barbosa Silva, é a única forma de haver alguma transformação na vida daquela comunidade. “Nós temos muitos filhos e todos precisam de educação. Quem sabe, amanhã ou depois eles não vão me ajudar? Sem estudar, vamos continuar vivendo só na roça mesmo”, reclamou a lavradora.

Na Prefeitura de Codó, a informação passada por uma das funcionárias do setor de Educação da zona rural é animadora. Terezinha Bento disse que até o dia 20 de março, o processo de análise do pedido de funcionamento de uma escola em Caldeirão já deve estar concluído. Existem 21 crianças já matriculadas para a escola do povoado, que foi construída de pau-a-pique (paredes de barro, talo e cipó e cobertura de palha).

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais X, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.