Trajetória incansável

Educação transforma: maranhense que saiu de vilarejo de pescadores se torna reitora de universidade

A professora doutora Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves é servidora da Uema desde 1990 e a primeira reitora eleita na Uemasul.

Tátyna Viana/Imirante.com

Atualizada em 29/03/2022 às 13h21
Professora doutora toma posse como reitora da Uemasul. Foto: Arquivo Pessoal.
Professora doutora toma posse como reitora da Uemasul. Foto: Arquivo Pessoal.

IMPERATRIZ - Tomou posse como a primeira reitora eleita na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul) a professora doutora Luciléa Ferreira Lopes Gonçalves. Mas o reconhecimento de chegar ao cargo máximo de uma universidade pública, além das homenagens na solenidade realizada no último dia 16, ganhou ainda mais notoriedade quando o seu filho, João Paulo, destacou nas redes sociais o orgulho da trajetória da mãe, que saiu de uma colônia de pescadores no litoral maranhense e viu a vida transformada pela educação.

“Um desafio sempre foi essa necessidade de sair do meu lugar. Para estudar tinha que viajar, ia para Cururupu sempre em barcos à vela"
Luciléa Gonçalves, reitora da Uemasul.

“Ainda é muito forte a imagem da pescaria de camarão, o torrar que na verdade é cozinhar com bastante sal, colocar no sol, encofar, e meu pai fazia tudo isso e levava para o Pará, para vender. A minha mãe junto com ele, tecendo os puçás, o cuidado dela de nos oferecer o alimento. Nossa comunidade iniciou muito autônoma, construíram o posto de saúde, a própria escola, a igreja. Eu nasci em 1963 e a questão das multisséries, duas séries na mesma sala, foi muito marcante. Fui alfabetizada por parentes porque não tinha escola de alfabetização e depois de alfabetizada a gente era matriculada na escola na comunidade”, contou a nova reitora lembrando da infância e dos primeiros passos em uma escola.

A reitora é a segunda pessoa na foto, da direita para a esquerda. Foto: Arquivo Pessoal.
A reitora é a segunda pessoa na foto, da direita para a esquerda. Foto: Arquivo Pessoal.

Luciléa Ferreira nasceu na comunidade de pescadores Ilha do Peru, no município de Cururupu. A quarta de sete irmãos deixou o vilarejo aos 10 anos de idade para estudar na cidade, com o suporte do pai pescador. De lá foi para a capital São Luís fazer o ensino médio e logo ingressou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no curso de geografia.

“Um desafio sempre foi essa necessidade de sair do meu lugar. Para estudar tinha que viajar, ia para Cururupu sempre em barcos à vela, a remo, as lanchas a motor vieram depois. Sair de casa muito criança vai gerando essa saudade que a gente tem da família, o compromisso sempre de fazer melhor, de representar as comunidades. Romper com a falta de comunicação que era naquela época, estar sempre viajando, em perigo pelos grandes mares, sempre foi um grande desafio”, relatou Luciléa sobre as idas e vindas da 5ª à 8ª série do ensino fundamental.

Para estudar tinha que viajar de barco à vela. Foto: Arquivo Pessoal.
Para estudar tinha que viajar de barco à vela. Foto: Arquivo Pessoal.

Era só o início de uma longa trajetória na educação e da vida acadêmica. Há mais de três décadas ela se dedica ao ensino de Geografia. É doutora e mestra em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestra em Educação pelo IPLAC/Cuba, especialista em Geografia e Planejamento Ambiental pela PUC/Minas, bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e professora-adjunta do Curso de Geografia da Uema desde 1990, que foi desmembrada, e Luciléa passou a integrar o quadro da Uemasul, com a criação da Universidade da Região Tocantina, em 2016. Uma caminhada que sempre valorizou a educação pública.

“A educação pública de qualidade é fundamental para assegurar a formação dos menos favorecidos deste país, é dever de gestores e eu me coloco hoje como gestora de uma universidade pública e nesse momento destaco a responsabilidade de formarmos bons professores, para que eles tenham essa compreensão e o entendimento da responsabilidade que é formar uma pessoa. A escola pública é o lugar daquele que não tem condições, principalmente no ensino fundamental e médio, porque hoje nas faculdades públicas há uma inversão. A pública é o espaço do cidadão, espaço que deve assegurar com qualidade, acolhimento e responsabilidade o grupo desfavorecido, para que por meio do estudo se rompa com aquilo que a gente pode até dizer que é o ciclo da pobreza”, enfatizou.

Professora doutora Luciléa Gonçalves se tornou reitora da Uemasul. Foto: Arquivo Pessoal.
Professora doutora Luciléa Gonçalves se tornou reitora da Uemasul. Foto: Arquivo Pessoal.

Ao lado de Lílian Castelo, candidata à vice-reitora, elas foram as primeiras colocadas das três chapas escolhidas pela comunidade acadêmica e nomeadas pelo governador Flávio Dino para a reitoria da Uemasul, como reitora e vice.

“A questão política dentro de uma universidade é um pouco diferente da partidária e ela é muito da conjuntura, do momento. Vejo que eu ser reitora hoje se deu em função dessa conjuntura, por ter uma história longa dentro da Universidade, o conhecimento de dois grupos de servidores, que são os mais antigos e atualmente os que formam a Uemasul, toda a conjuntura me levou a concorrer. Fui convidada por essa trajetória, meu nome foi citado e fui escolhida primeiramente como vice. A professora Lílian, a vice-reitora hoje, pessoalmente me chamou e falou da importância da minha história e me convenceu que eu ficasse na cabeça da chapa. É a minha grande companheira de trabalho que eu admiro muito”, finalizou a nova reitora da Uemasul.

Solenidade na universidade pública foi realizada no último dia 16. Foto: Arquivo Pessoal
Solenidade na universidade pública foi realizada no último dia 16. Foto: Arquivo Pessoal

Uemasul

Criada no dia 3 de novembro de 2016, por meio da lei nº 10.525/16, assinada pelo governador Flávio Dino, a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), oferta 23 cursos de graduação, com três campi em funcionamento: Imperatriz, Açailândia e Estreito.

No campus Imperatriz, em 2020 passou a funcionar o curso de Medicina e este ano foi criado o curso de Direito em Açailândia. Além dos cursos de graduação, a universidade avançou na oferta de cursos de pós-graduação. A instituição possui o Programa de Pós-Graduação em Letras, sete cursos de especialização em diferentes áreas, e um Doutorado Interinstitucional.

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