Caxias

Lei Maria da Penha: 60 inquéritos contra homens violentos em Caxias

O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 13h25

CAXIAS - Dois anos após a Lei Maria da Penha ter entrado em vigor, a Delegacia da Mulher de Caxias (DMC) instaurou 60 inquéritos contra homens que praticaram violência doméstica. Em nenhum deles, até agora, houve condenação dos agressores. A delegada da DMC, Karla Simone Saraiva, explicou que isso é um aspecto da própria lei, que não permite o pagamento de penas alternativas e exige que o inquérito transcorra como ação comum.

A delegada chamou atenção para uma particularidade. A mulher que denuncia o agressor não está em busca de punição, mas querendo a resolução de um problema sobre o qual ela não tem mais controle.

“Ninguém vem aqui porque deseja ver o marido na cadeia. Quando a mulher denuncia o agressor é porque ela está desesperada e quer solucionar um problema que lhe aflige há muito tempo”, avaliou Karla Simone.

Parte dos casos registrados é solucionada com uma simples intimação para uma conversa na delegacia. A vergonha, na opinião da policial, ajuda a acabar com a agressão. Ela acredita que o homem que agride, não quer que ninguém saiba da sua péssima conduta.

Vergonha

“A maioria dos acusados fica com vergonha de ser intimado, de ter um carro da polícia na sua porta e ao contrário de estimular atos violentos, isso acaba coagindo o agressor a não reincidir. É claro que há casos em que isso acontece, mas são poucos. Quem é acionado pela Polícia uma vez, não volta a agredir novamente”, assegurou a delegada.

A aplicação da Lei Maria da Penha só acontece quando a companheira quer ou quando se trata de uma situação mais delicada. “Geralmente elas nos procuram querendo que conversemos com o agressor e o diálogo é sempre o primeiro passo para resolver a violência doméstica. É dessa forma que os resultados positivos têm aparecido”, exclamou Karla Simone.

Foi assim com o autônomo Raimundo Nonato dos Anjos. Somente com a intervenção da polícia que ele se deu conta que estava passando dos limites ao agredir a ex-esposa, sempre que ingeria bebida alcoólica.

“Eu hoje fico com vergonha quando eu lembro do que eu fazia. Bastava botar uma gota de cachaça na boca para ficar doido”, lembrou dos Anjos. Ele contou que está se submetendo a um tratamento médico. O autônomo disse que a esposa não quer continuar o casamento.

“Eu quero que ela me perdoe, mas ela disse que eu vou ter que provar que mereço. Já faz oito meses que eu não bebo, mas a tentação é grande, parece que o diabo atenta a gente e os amigos também. Eu sei que eu vou conseguir que ela e os meninos me perdoem. Eles têm medo de mim, não querem nem falar comigo”, envergonhou-se dos Anjos.

Tranqüilidade

No caso do autônomo, a violência tinha hora para acontecer, mas Karla Simone adiantou que não é sempre assim. Ela informa que não há um mês com maiores ocorrências e que existe até longos períodos de tranqüilidade na Delegacia da Mulher.

“É claro que tem meses como o Carnaval e as festas juninas em que essa violência tem um pequeno crescimento, mas a violência é muito cíclica. Seria um erro dizer que em um determinado período ela aumenta. A violência doméstica não tem dia nem hora para acontecer, ela é fruto de um agressor machista que pode estourar a qualquer momento”, esclareceu a policial.

A violência doméstica, conforme Karla Simone, precisa ser combatida. Não dá para aceitar a agressão física como um produto da personalidade do homem e achar que isso é natural. “A agressão pode acontecer em qualquer local, mas ainda assim é violência”, alertou a delegada.

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