Checagem

Post usa dados falsos sobre PIB e inflação e inventa fala de Haddad sobre impossibilidade de pagar funcionalismo

Não foi encontrado nenhum registro dessa fala e o Ministério da Fazenda confirmou que Haddad nunca fez tal afirmação.

Projeto Comprova

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade. (Foto: Reprodução)
Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade. (Foto: Reprodução)

Falso

Ao contrário do que afirma post, não houve declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sobre a impossibilidade de o governo pagar o funcionalismo público. Também é falso que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro esteja caindo; na verdade, o índice cresceu 2,9% em relação a 2022, devolvendo o país ao grupo das dez maiores economias do mundo. Tampouco os índices de inflação calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são falsos. Além disso, a Volkswagen não anunciou saída do Brasil, mas sim um investimento de R$ 16 bilhões nas fábricas da empresa até 2028.

Conteúdo investigado: Postagem alega que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou a impossibilidade de o governo pagar funcionários públicos. O texto alega que a dívida acumulada ultrapassará o Produto Interno Bruto (PIB), contesta os índices de inflação divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma que a Volkswagen anunciou sua saída do Brasil para o final de 2024 e sugere que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma conspiração para desviar a atenção dos problemas do país.

Onde foi publicado: X, Facebook e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tenha afirmado que o governo não terá dinheiro para pagar o funcionalismo público. Não foi encontrado nenhum registro dessa fala e o ministério confirmou que Haddad nunca fez tal afirmação. O Ministério do Planejamento e Orçamento, por sua vez, explicou que as despesas com pessoal são obrigatórias e, portanto, não podem deixar de ser pagas.

Também é falso que o PIB esteja caindo desde o segundo trimestre de 2023 e que os índices de inflação calculados pelo IBGE sejam falsos. Segundo divulgado pela instituição, o PIB brasileiro cresceu 2,9% frente a 2022 e registrou um avanço de 2,1% no último trimestre de 2023. Com o resultado, o Brasil voltou ao grupo das dez maiores economias do mundo, passando o Canadá e a Rússia, e ocupando a 9ª posição do ranking.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação brasileira, acelerou em fevereiro para 0,83%, segundo o IBGE. Esta foi a menor inflação para o mês de fevereiro desde 2020, quando o IPCA registrou alta de 0,25%. No ano, a inflação brasileira teve alta de 4,5%, no limite superior da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2024.

Também é falso que a Volkswagen tenha anunciado a saída do Brasil para o final deste ano. No dia 1º de fevereiro de 2024 a empresa anunciou que fará um investimento de R$ 16 bilhões nas suas quatro fábricas no Brasil e lançará 16 carros até 2028.

A respeito dos gastos do governo, o g1 revelou que, no ano passado, a despesa total da administração pública ultrapassou a marca dos R$ 2 trilhões, mas, a partir de 2013, esses gastos sempre atingiram patamares superiores a R$ 1 trilhão. Em 2020, ano da pandemia, as despesas atingiram o valor recorde de R$ 2,45 trilhões.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de abril, o post tinha mais de 70 mil visualizações no X.

Como verificamos: Primeiramente, pesquisamos sobre cada informação divulgada nos posts e encontramos informações contrárias ao que havia sido dito. Para confirmar, questionamos o IBGE, Volkswagen, Banco Central, B3 e ministérios da Fazenda e Planejamento e Orçamento sobre a veracidade das informações divulgadas.

É falso que Haddad tenha dito que não haverá verba para o pagamento do funcionalismo público

Não foi possível encontrar nenhum registro de que o ministro da Fazenda tenha afirmado que não haverá verba para o pagamento do funcionalismo público. Na realidade, Haddad disse ter expectativa positiva para a economia brasileira em 2024. Em 24 de março, o jornal Valor Econômico publicou que o ministro afirmou que talvez seja necessário que o governo reveja as previsões modestas de crescimento do PIB para este ano, assim como ocorreu em 2023.

“O mercado achava que era menos de 1%, nós achávamos que era 2% e batemos quase 3% de crescimento. Podemos repetir eventualmente o bom desempenho da economia brasileira no ano passado. Eu penso que é um cenário muito positivo para repensar o desenvolvimento da indústria do Brasil”, afirmou Haddad, em solenidade no Palácio do Planalto.

Segundo o portal do governo brasileiro, a Nota Informativa da Secretaria de Política Econômica mostra que o PIB alcançou R$ 10,9 trilhões em 2023, após ter acumulado R$ 2,8 trilhões no quarto trimestre do ano. O estudo também aponta que o setor da Indústria voltou a avançar no último trimestre de 2023 e que deve seguir a mesma tendência em 2024.

Volkswagen e General Motors não anunciaram suspensão das atividades no Brasil

O post afirma que a Volkswagen anunciou a saída da empresa do Brasil para o fim deste ano, o que é inverídico. Em novembro de 2021, segundo o g1, a montadora anunciou um investimento de R$ 7 bilhões na América Latina entre 2022 e 2026 e, em 1º de janeiro de 2024, foi divulgado que mais R$ 9 bilhões serão investidos até 2028 nas quatro fábricas em solo brasileiro: São Bernardo do Campo (SP), Taubaté (SP), São Carlos (SP) e São José dos Pinhais (PR).

“A Volkswagen reafirma sua confiança no Brasil e mais que dobra seus investimentos para R$ 16 bilhões. Vamos lançar 16 novos veículos até 2028, incluindo modelos híbridos, 100% elétricos e Total Flex”, declarou Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil, à Forbes.

Já a General Motors (GM), também citada na postagem, anunciou durante solenidade em Brasília, com a presença do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro deste ano, que tem intenção de renovar seu portfólio de veículos no Brasil e que dará início a um novo ciclo de investimentos no país no valor de R$7 bilhões a ser investidos entre 2024 e 2028. Segundo o site da montadora, o valor será destinado ao desenvolvimento de alternativas de mobilidade sustentável, à evolução das operações e à criação de novos negócios. Além disso, Shilpan Amin, presidente da General Motors International, também afirmou que o Brasil é um polo exportador de veículos para a América do Sul, sendo, portanto, estratégico para o plano global de expansão de negócios da GM.

Índices de inflação calculados pelo IBGE não são falsos

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, acelerou em fevereiro para 0,83%, segundo dados do IBGE divulgados no início de março. O resultado deste ano foi impulsionado, de acordo com o Instituto, pelos reajustes sazonais na Educação, os preços ainda elevados dos alimentos e a alta no preço da gasolina devido ao aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o combustível. Com o novo resultado de fevereiro, a inflação brasileira acumulou elevação de 4,5% nos últimos 12 meses.

De acordo com Mariana Viveiros, supervisora do IBGE na Bahia, os índices de inflação, assim como todas as estatísticas produzidas pelo IBGE, são “extremamente confiáveis”. Como garantia de veracidade, ela argumenta que o IBGE segue conceitos e metodologias, como coleta de dados e apuração, compartilhadas internacionalmente e referendadas pela Comissão Estatística das Nações Unidas.

“Além disso, tanto os conceitos como as metodologias são disponibilizados de forma transparente em diversas publicações no site do Instituto, de forma que possam ser conhecidos, analisados e replicados. Ou seja, qualquer instituição (ou mesmo pessoa), que tenha conhecimento para ler, compreender e colocar em prática, consegue elaborar o seu próprio índice de inflação, nos moldes do IPCA”

Mariana ainda explica que, para a elaboração do IPCA, existe uma rede de coleta e supervisão em 16 estados brasileiros, além de uma equipe de especialistas no Rio de Janeiro que se dedicam às áreas de índices de preço e métodos de qualidade, com apuração, crítica e análise de dados. “As informações coletadas em estabelecimentos comerciais e de serviços podem ser, e por vezes são, conferidas localmente pelos supervisores, além de precisarem passar pelo crivo técnico das áreas centrais na Sede do IBGE, antes de serem divulgadas. Todo esse rigor metodológico e técnico garante a veracidade das informações.”

Ainda assim, é comum que as pessoas tenham uma percepção de que, por exemplo, está ocorrendo aumento nos preços dos alimentos apesar do índice de inflação estar dentro da meta de controle. “Essa é uma reclamação bem comum, que tem a ver com a ‘inflação pessoal de cada um’ e também com uma compreensão muitas vezes imprecisa do índice de inflação”, explica Mariana. Em 2024,, a meta de inflação do CMN é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O IPCA acumulado nos 12 meses está em 4,5%, no limite superior da meta para o ano.

“O IPCA é um índice geral de inflação que não necessariamente vai refletir as despesas e o custo de vida de cada pessoa ou família, pois cada pessoa ou família tem uma cesta própria de produtos e serviços que consome por mês, com pesos específicos no total das suas despesas, além de uma condição de renda individual/familiar total única”, disse Mariana.

A definição da cesta de produtos e serviços pesquisados para o cálculo do IPCA, bem como do peso de cada um deles, vem a partir dos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada periodicamente pelo IBGE. Os subitens (cesta de produtos e serviços a serem pesquisados) e os pesos de cada um deles na formação do índice geral retratam o grau de importância ou representatividade desses subitens na realidade das famílias, a partir dos hábitos de consumo. Para calcular o índice, são usados a média aritmética dos preços pesquisados em diferentes estabelecimentos comerciais de cada produto ou serviço analisado no mês corrente e os pesos de cada subitem.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova não conseguiu contato com o responsável pela publicação, que tem o perfil fechado para mensagens na plataforma X. Também não encontramos outros perfis do autor em redes sociais. Essa não é a primeira vez que ele se envolve em polêmica. Em fevereiro, ele acusou o senador Sérgio Moro (União Brasil) de vender inquéritos da Polícia Federal para o ex-governador paulista João Doria (PSDB). Na época, Moro respondeu que iria processar o autor, que excluiu a publicação e pediu desculpas. “Senador Moro, esta postagem foi repassada por mim e não esperava tamanha repercussão. Lamento o ocorrido e delibero minhas desculpas. Entendo que já tenha sido lançada e até onde se estende meu intuito de fato lamento. E desde já retiro a postagem…”, disse, na época.

O que podemos aprender com esta verificação: O post usa uma mensagem com uma série de informações falsas para descrever um cenário de crise no Brasil, muitas vezes utilizando de dados complexos para passar uma falsa credibilidade. Sempre que um conteúdo do tipo gerar algum sentimento de raiva, surpresa ou indignação, é importante checar se o conteúdo é verdadeiro antes de repassar.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A mesma publicação foi recentemente checada pelo Estadão Verifica e pelo site Boatos.org. No ano passado, o Estadão Verifica checou um post que afirmava o anúncio do fechamento das fábricas da Volkswagen no Brasil. O Comprova também já checou informações enganosas sobre as contas públicas do governo.

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