Campanha

Janeiro Branco alerta para importância de cuidados com a saúde mental

Campanha tem com o lema Todo Cuidado Conta.

Agência Brasil

Atualizada em 27/03/2022 às 11h04
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas. (Foto: divulgação)

BRASIL - Neste mês da campanha Janeiro Branco, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) chama a atenção para a importância dos cuidados com a saúde mental, que vem sendo afetada em todo o mundo pela pandemia do novo coronavírus. Em março do ano passado, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) já advertia, em artigo internacional publicado no 'Brazilian Journal of Psychiatry', que a pandemia traria uma quarta onda relativa às doenças mentais.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalentes a 5,8% da população, atrás dos Estados Unidos, com 5,9%. A depressão é uma doença que afeta 4,4% da população mundial. O Brasil é ainda o país com maior prevalência de ansiedade no mundo (9,3%).

Esta é a 8ª edição da campanha Janeiro Branco, com o lema “Todo Cuidado Conta”. A ação deste ano busca promover um pacto pela saúde mental em meio à pandemia da covid-19. A ideia da campanha foi criada em 2014, por um grupo de psicólogos de Uberlândia (MG), e faz alusão ao início do ano, considerando janeiro como uma “página em branco” para ser preenchida com novas metas, objetivando o bem-estar da saúde mental.

Na avaliação da psiquiatra Emanuella Halabi, a campanha é essencial para todas as pessoas, principalmente para os pacientes psiquiátricos que sofrem muito preconceito ainda com relação a isso. “É preciso incentivar cada vez mais as pessoas a procurarem ajuda, a buscarem auxílio, porque muitas vezes, também, as pessoas que possuem algum transtorno psiquiátrico sentem muita vergonha de procurar sua saúde mental, procurar se cuidar pelo estigma que isso causa”. A psiquiatra insistiu que o Janeiro Branco é importante para todos. “Foi criado em janeiro porque é um ano novo, de renovação. A gente considera como um período de renovação de projeções e uma delas é poder se cuidar, é a gente investir na nossa saúde mental, em tratamento”.

Ansiedade e depressão

De acordo com a ANS, a saúde mental provoca reflexos também na economia, constituindo causa de afastamento do trabalho e caracterizando muitas vezes a pessoa como incapaz. Pesquisa realizada pelo professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) sobre o comportamento dos brasileiros durante o isolamento revelou que a prevalência de pessoas com estresse agudo na primeira coleta de dados, realizada de 20 a 25 de março de 2020 foi de 6,9% contra 10,3%, na segunda, efetuada entre 15 e 20 de abril, evoluindo em junho, na sondagem mais recente, para 14,7%.

Para depressão, os números saltaram de 4,2% para 8%, caindo em junho para 6,6%. Filgueiras disse à Agência Brasil que essa retração não recuperou o crescimento inicial. O professor da Uerj acredita que exista uma tendência de queda da depressão, porque ela estava mais associada aos aspectos de isolamento social e de confinamento. No caso de crise aguda de ansiedade, o número subiu de 8,7% na primeira coleta para 14,9%, na segunda coleta, ficando em torno de 15%, em junho. “Já a ansiedade parece estar mais ligada a risco de morte, de contaminação, e às incertezas que o futuro está nos apresentando, principalmente em termos de dificuldade econômica”. Segundo Filgueiras, a questão da vacina contribui também para aumentar a ansiedade.

Para o professor da Uerj, os dados relacionados ao pico da epidemia já foram coletados. Afiançou que, agora, estamos no período de diminuição da curva.

Planos de saúde

Na avaliação da ANS, os dados comprovam a importância de se ampliar o debate e os meios para enfrentamento dos transtornos mentais, que constitui também um desafio para a saúde suplementar. Em 2019, os beneficiários de planos de saúde no Brasil realizaram cerca de 29 milhões de procedimentos relacionados ao cuidado em saúde mental, aumento de 167% contra os números apresentados em 2011.

O Mapa Assistencial da Saúde Suplementar mostra que as consultas psiquiátricas por mil beneficiários de planos de saúde subiram 80% entre 2011 e 2019, enquanto as consultas de psicologia por mil beneficiários evoluíram 199% e as consultas e terapia ocupacional também por mil beneficiários subiram 276%. Ainda no período compreendido entre 2011 e 2019, as internações psiquiátricas por 100 mil beneficiários cresceram 152% e as internacões em hospital/dia de saúde mental por 100 mil beneficiários aumentaram 383%.

Em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), a ANS está fazendo pesquisa quantitativa junto a empresas contratantes de planos de saúde para abordar, entre outros temas, as ações para cuidados com a saúde mental dos trabalhadores da indústria durante a pandemia e no cenário pós covid-19.

Saúde mental x pandemia

O cenário de pandemia acentuou o sofrimento psíquico na população provocado pelo isolamento decretado em função da pandemia. Fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados à magnitude da epidemia e ao grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento. A ANS advertiu, entretanto, que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificada como reações normais diante de uma situação anormal. Reações comuns diante deste contexto englobam sentimento de impotência e desamparo perante os acontecimentos, solidão, irritabilidade, angústia, tristeza, raiva, salientou a Agência.

Recomendações

Em caso de sofrimento intenso, a procura por ajuda especializada é primordial. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, se não for feita nenhuma intervenção específica para as reações e sintomas manifestados. A própria mudança da rotina habitual contribui para o desencadeamento de reações e sintomas de estresse, ansiedade e depressão. Há ainda maior probabilidade de ocorrência de distúrbios do sono, abuso de substâncias psicoativas e ideação suicida, além do agravamento de transtornos mentais preexistentes e exposição a situações de violência para pessoas que ficam expostas à presença de agressor no domicílio, especialmente mulheres.

Uma série de cartilhas lançada pela Fiocruz faz recomendações para o enfrentamento dos desafios da saúde mental. Algumas delas sugerem que a pessoa reconheça e dê acolhimento a seus receios e medos, procurando outras pessoas de confiança para conversar; a retomada de estratégias e ferramentas de cuidado que tenham sido usadas em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional; investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo, entre os quais meditação, leitura, exercícios de respiração, artesanato; estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertencimento social, como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário.

A Fiocruz recomenda também que a pessoa mantenha ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evite o uso do cigarro, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções; busque um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional. Se a pessoa estiver trabalhando durante a pandemia, deve ficar atenta a suas necessidades básicas, garantindo pausas durante o trabalho e entre os turnos.

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