RIO - Ao que tudo indica, as estrangeiras mortas no Maranhão e em Goiás nos últimos meses foram vítimas de um serial killer. Para a pesquisadora Ilana Casoy, membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, José Vicente Matias, o Corumbá, se enquadra nesse perfil de criminoso. O artesão foi preso nesta terça-feira e já confessou ter matado três turistas estrangeiras.
A pesquisadora - que se dedica há cinco anos ao estudo sobre serial killers e crimes violentos - explica que este tipo de criminoso é um indivíduo que comete uma série de homicídios com intervalos de tempo entre eles, durante meses ou anos, até que seja preso ou morto. Segundo ela, as vítimas têm o mesmo perfil e, no atual caso, as evidências são ainda mais óbvias.
- As vítimas encontradas até o momento seguem um padrão. São todas hippies estrangeiras que viajam pelo Brasil. Normalmente, as vítimas têm a mesma faixa etária, mesmo sexo, mesma raça. São escolhidas ao acaso e mortas sem motivo aparente. Por isso a investigação é tão difícil. Tradicionalmente, a polícia investiga a partir do motivo. Mas, no caso do serial killer, a vítima é objeto da fantasia do criminoso - explica.
Segundo Ilana, o caso se assemelha com o de Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, preso em 1998, e que confessou ter matado 11 mulheres em São Paulo. Os dois se encaixam no perfil de um serial killer libertino: matam porque apresentam problemas sexuais.
- Nas declarações de Corumbá, ele disse que as mulheres debocharam dele por não conseguir fazer sexo e por isso as matou. No caso do Maníaco do Parque, sabe-se que ele tinha problemas sexuais. Na cabeça deles, o problema é da mulher, é ela que não sabe agir e isso é suficiente para matá-las - diz.
Outra característica comum aos serial killers, segundo ela, é que eles só assumem os crimes que já foram descobertos e apresentados como de sua autoria.
- Como as investigações ainda estão no começo, não temos como saber quantas vítimas o Corumbá já fez. Mas ele não vai assumir nada que não for apresentado como culpa dele. Agora, cabe à polícia de vários estados, já que estamos falando de um andarilho - outra característica do serial killer -, apurar - afirma Ilana.
Segundo a pesquisadora, a polícia precisa descobrir agora a assinatura do assassino - alguma característica específica que apareça em todos os crimes - para poder identificar outras vítimas.
- Nem sempre o serial killer mata da mesma maneira, mas ele sempre deixa uma assinatura, uma espécie de impressão digital, que possibilitará a polícia descobrir outras vítimas. Depois que ele começa a matar, e nós não sabemos desde quando Corumbá atua, ele não pára mais. O assassino em série só não mata se for surpreendido, se se assustar com algum barulho - explica.
Ilana Casoy participa do Nufor, um grupo que ajuda de forma voluntária polícias e ministérios públicos de todo o Brasil nas investigações de crimes especiais. Recentemente, auxiliou a polícia do Maranhão nas investigações dos meninos emasculados de Altamira. A pesquisadora elogiou o trabalho da polícia do Maranhão no caso das estrangeiras mortas.
- Eles estão fazendo um ótimo trabalho. Com apenas dois crimes cometidos no Maranhão já fizeram todas as ligações e conseguiram prender o assassino. Isso é fruto do trabalho que fizemos lá. A divulgação do retrato-falado do criminoso também foi fundamental - disse.
Corumbá era foragido da polícia de Goiás, onde foi preso em 1998 por atentado violento ao pudor e estupro contra um jovem casal que passava férias nas águas termais de Rio Quente, em Goiás. Ilana acredita que ainda serão descobertas outras mortes, já que os crimes podem ser conectados a ele ainda quando era estuprador.
- A trajetória dele pode ter sido essa: começou com estupros e, num determinado momento, até por uma piora no desempenho sexual, pode ter passado a matar - explica.
Magro, alto e cabeludo, Corumbá disse que as turistas sempre se aproximavam dele em busca de drogas. Ilana, no entanto, afirma que os crimes não têm relação nem com o consumo e nem com a venda das drogas.
- Ele se veste como hippie, talvez como uma maneira de atrair, de entrar em contato com as futuras vítimas. Mas o crime dele não tem relação com a droga. Tanto que não matou nenhum homem até o momento. O contexto dele é sexual e como ele é hétero, ele mata mulheres - afirma.
As turistas alemã Mary Anne Kern e a espanhola Núria Fernandez foram assassinadas a pauladas e encontradas seminuas e em covas rasas nas areias paradisíacas dos Lençóis Maranhenses e na histórica cidade de Alcântara no início deste ano. Corumbá ainda roubou os pertences de uma delas, inclusive um cartão de crédito, que utilizou para realizar saques com ajuda do hippie identificado apenas pelo apelido de Peruano, e pelo desocupado Kelson Nunes, o Carioca, que está preso. Depois de negar a morte da russa naturalizada israelense Katria Ratikov, em Pirenópolis (GO), em 2004, Corumbá também confessou o crime.
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