Caso Herzog: Exército diz que não deseja reavivar passado trágico

O Globo

Atualizada em 27/03/2022 às 14h57

BRASÍLIA - Em nota divulgada nesta terça-feira, o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, diz que o Exército é "uma instituição que prima que pela consolidação do poder da democracia brasileira e lamenta a morte do jornalista Wladmir Herzog". Na nota, o comandante lembra que na época o fato motivou o afastamento do comandante do Exército por determinação do presidente Ernesto Geisel e diz que a instituição não quer "ficar reavivando fatos de um passado trágico que ocorreram no Brasil."

O comunicado foi feito em resposta à crise causada por uma nota anterior da Força classificando de revanchismo a publicação, pelo "Correio Braziliense", no dia 17, de fotografias inéditas do jornalista Vladimir Herzog sendo humilhado no cárcere do DOI-Codi de São Paulo, antes de ser assassinado durante a ditadura militar.

O comandante do Exército disse, na segunda nota, que foi inadequada a forma como o assunto foi abordado no primeiro comunicado do Centro de Comunicação do Exército. Segundo ele, "somente a ausência de uma discussão interna mais profunda sobre o tema pôde fazer com que uma nota não condizendo com o momento histórico atual fosse publicada". Albuquerque disse ainda que reitera ao presidente da República e ao ministro da Defesa que o Exército não foge aos seus compromissos de fortalecimento da democracia.

A nota inicial provocou reação imediata no PT. O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado de ex-presos políticos, cobrou, com o aval do Palácio do Planalto, uma manifestação pública do ministro da Defesa, José Viegas, desautorizando a posição do Exército. Segundo ele, a nota é comparável à que foi feita no início dos anos 80 para explicar o caso da bomba no Riocentro.

- Esta é uma posição saudosista e feita por seguidores do Sylvio Frota - disse Greenhalgh, numa referência ao então ministro do Exército, general Sylvio Frota, exonerado pelo presidente Ernesto Geisel em 1977 por sua oposição à liberalização do regime militar.

O presidente do PT, José Genoino, também reagiu:

- Essa nota está fora do tempo e reproduz conceitos da época do regime militar. Essa posição não reflete o momento que vivemos. As Forças Armadas já trataram desse mesmo tema com mais profissionalismo e espírito democrático. O texto destoa do atual espírito democrático das Forças Armadas - criticou Genoino, ex-preso político.

O Palácio do Planalto foi surpreendido pelo teor da nota divulgada pelo Centro de Comunicação Social do Exército. Segundo assessores do Planalto, o próprio presidente ficou constrangido com os termos usados pelo Exército. O ministro da Defesa chegou a ser cobrado pelo Planalto sobre o assunto. Segundo integrantes do governo, Viegas estava apreensivo e informou a ministros que não referendou o conteúdo da primeira nota. Logo após a divulgação do segundo comunicado, Viegas, afirmou a polêmica está encerrada. O ministro classificou como inadequada a primeira nota divulgada no domingo e disse que a correção, feita posteriormente pelo comandante do Exército, põe um ponto final na polêmica.

Para interlocutores, Lula chegou a manifestar estranhamento e contrariedade sobre o conteúdo da nota inicial por apresentar uma posição oposta à do governo em relação ao tema. Na primeira nota, o Exército afirmou que "mesmo sem qualquer mudança de posicionamento e de convicções em relação ao que aconteceu naquele período histórico, considera ação pequena reavivar revanchismo ou estimular discussões estéreis sobre conjunturas passadas, que a nada conduzem". A nota disse ainda que, em relação às mortes que ocorreram no período, o Ministério da Defesa tem enfatizado "que não há documentos históricos que as comprovem, tendo em vista que os registros operacionais e da atividade de inteligência da época foram destruídos em virtude de determinação legal".

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