Globo Repórter mostra realidade das crianças

Delis Ortiz, Globo Repórter

Atualizada em 27/03/2022 às 14h59

RIO - A inquietação com o tema era bem antiga. Mas, só no ano passado me revesti de coragem para sugerir essa pauta. Abuso sexual, por si só, é um assunto que provoca resistências, mas os argumentos, alimentados durante tantos anos, acabaram sensibilizando a chefia, envolvendo o produtor Maurício Maia numa delicada garimpagem de personagens e me abrindo esse caminho. Um risco, eu sabia. Um risco maior, pensava a equipe entendida em Globo Repórter. O que nenhum de nós imaginava era o quão profunda estaria a ferida que propúnhamos tocar.

A descoberta nos saltou aos olhos logo na primeira entrevista, quando o casal voluntário contra a pedofilia na internet nos revelou o submundo da perversidade sexual. Ninguém dormiu direito naquela primeira noite, depois de ter visto os laudos com fotos de bebês sendo, literalmente, violentados sexualmente por adultos. Vítimas que, muito provavelmente, não sobreviveram depois de tamanha violência. Atos de covardia e de selvageria contra criancinhas que expressavam o horror no olhar já sem alma, sem vida.

Tão terrível quanto a pedofilia refugiada no anonimato da internet foi constatar que as autoridades não reagem com vigor para combater as ações criminosas. Foi assustador ouvir um delegado me dizer “você está muito afetada pelo que viu” e me sugerir a frieza para superar o problema “faça como eu, racionalize, senão você não esquece esses dramas”. Dessa filosofia policial resultam denúncias arquivadas, inquéritos parados, processos esquecidos, enquanto a infância desprotegida morre na mão dos animais obcecados pela tara.

Para apresentar o programa sobre abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes, nossa equipe passou dias e dias à procura de uma linguagem que expressasse a verdade, sem produzir mais estragos. O nosso repórter cinematográfico, Dennys Leutz, usou recursos técnicos e de iluminação para proteger as vítimas. Na edição, mais uma vez, recursos de computação gráfica e até a música foram escolhidos para traduzir a informação e apresentá-la de forma aceitável.

Tão acostumada a entrevistar adultos espertos, reaprendi a linguagem na sua essência mais verdadeira: a conversa com crianças. Obrigados a tratar de assunto tão alheio à infância, a violência sexual, os pequenos entrevistados me relembraram que a comunicação está nos olhos. Faltava palavra para traduzir a dor, então, as lágrimas diziam tudo.

E foi assim, durante dois meses, perguntando, ouvindo, vendo e sentindo, que a nossa equipe colheu as narrativas mais impensáveis da realidade humana. Não houve dia em que não chorássemos: Dennys – o repórter cinematográfico, Denise – a editora e roteirista, além do nosso apoio técnico, algumas vezes intercalado – Massaru Yamaguchi e Adalto Vieira, monitorando o áudio; Jorge Moura e Maurício de Almeida, operando a iluminação.

Acabamos por fazer catarse de nossas próprias feridas. Descobrimos o tanto que carecíamos de espremer nossas histórias para afinar os ouvidos da alma e compreender o que as crianças e os adolescentes nos contavam.

A menininha do Paraguai, violentada pelo pai e afastada da mãe, que é prostituta, nos fez dar um mergulho na caverna escura onde foi parar sua infância. As monitoras paraguaias me haviam alertado que a menina não falaria sobre seu drama. Mas eu insisti e elas me deixaram conversar a sós com a menina, Dennys gravou de longe. Exibi minha cadernetinha cheia de histórias de outras crianças vítimas de abuso. Contei algumas para ela e disse da necessidade de narrar o que sofremos. Ela reagiu imediatamente, disparando a falar tudo o que passou na mão do pai. Fui atropelada pela intrepidez de adulta, na voz frágil e rouca daquela menina. Desabei em choro. Exposta a ferida, a menina recobrou o sorriso de moleca, superou o choro e me convidou a ver como era a vida dela no abrigo: mostrou o quarto, suas duas bonequinhas baratas, as amiguinhas que lhe ensinam guarani, as piruetas no alto de uma goiabeira, a horta, onde plantou alface e cebolinha. Essa menina me ensinou uma lição de vida, o feio pode ficar bonito se eu não deixar que matem o meu espírito de criança!

Tenebroso foi entrar numa casa de pedra, fétida, cheia de baratas, num calor de quase 40ºC, para entrevistar um tata de umbanda. Tinha que ser nesse lugar apertado, uma espécie de oca em forma de pirâmide, porque era ali que estava uma estrela, onde ele é acusado de ter violentado uma adolescente, de 13 anos de idade. Os detalhes do caso foram relatados na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional. A vítima é filha de uma mulher que era empregada do terreiro. Mãe e filha moravam ali quando tudo aconteceu. A vítima da violência sexual foi obrigada a abortar por ordem do pai-de-santo. Ela e a mãe estão refugiadas no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas. Saímos dali pensando: como alguém consegue achar que tem poder vivendo no meio do esgoto e da sujeira? Ele também era uma vítima, dele mesmo.

Quase fomos presos por um juiz que absolveu um pai pedófilo. Quando insistimos em entrevistar o juiz, perguntando por que ele considerou a vítima culpada e, portanto, responsável pelo incesto, ele reagiu irritado, dizendo “o que é que a senhora está insinuando, vai questionar minha decisão? Vocês repórteres são todos iguais, não lêem o processo e querem repercutir a sentença, induzindo a opinião pública a criticar a justiça”. Com esse tipo de autoridade, melhor não insistir muito. Fomos embora. Mal sabia o juiz que conhecíamos o processo sim. E ainda ouvimos do próprio pai que ele havia absolvido a extraordinária declaração “de Deus eu sei que não escapo, porque a justiça de Deus é maior que a da terra”.

Foi uma peripécia a entrevista com o tal pedreiro incestuoso. Os vizinhos diziam para tomar cuidado porque ele era um homem violento. Mandamos, então, nosso motorista sondar quem estava em casa. Ele voltou contando que só a filha do pedreiro e o filho-neto dele estavam. Paramos nosso carro com o equipamento pronto para gravar tudo. Para começar o diálogo, pedi um copo d’água e me veio uma caneca com um líquido amarelado, cheio de bichinhos. Tive que beber um gole daquela água (quase morri). Engoli meu chiclete, fingindo que estava tomando um remédio e devolvi o resto da água. Pior que isso foi ver a figura do pedreiro se agigantando contra mim. Não tive saída, me apresentei, disse que precisava saber se havia mesmo uma história de incesto. A conversa teve altos e baixos, foram longos 40 minutos, diante de um sujeito desconfiado. O carro permaneceu o tempo todo com o motor desligado para não atrapalhar a gravação. Imagine, sem ar condicionado, todas as janelas fechadas e as seis pessoas se desidratando lá dentro. Quase morreram de tanto calor, até que, desesperadas, ligaram o carro e foram embora, me deixando sozinha com o sujeito. Ainda bem que voltaram para me buscar. Valeu o sacrifício da equipe: Dennys, Denise, Jorge, Massaru, Márcia – assistente social que nos acompanhava – e o Azul, motorista contratado. O pedreiro ainda tentou nos seguir de bicicleta e tivemos que acelerar.

Viajamos mais de três horas na carroceria de um jipe, seguindo trilhas de areia para chegar a Paulino Neves, um lugarejo perdido no Maranhão. O prefeito da cidade é acusado de iniciar sexualmente meninos pobres. Mas ele não nos recebeu para se defender, nem atendeu às intimações para depor na polícia e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) estadual. Na cidade, quase ninguém fala do assunto e quem abre a boca diz que é intriga política. Apenas uma cozinheira, mãe aflita, tem coragem de depor contra o prefeito. Essa mãe conta que o filho dela sofreu abusos na mão do político.

Invariavelmente, nos casos de abuso sexual as vítimas e as testemunhas acabam sendo condenadas à discriminação. Elas ficam marcadas, enquanto os acusados permanecem protegidos pelo benefício da dúvida. É um crime silencioso que se sustenta no medo e na fragilidade das vítimas. Quase nunca deixa marcas físicas, embora o estrago emocional seja, na maioria das vezes, irreparável.

O psiquiatra Cláudio Cohen, professor da Universidade de São Paulo, nos alertou sobre a questão da violência doméstica. Segundo ele, o abuso é fruto da desestrutura familiar, quando os papéis de cada membro da família não são exercidos com responsabilidade e competência. Se o pai molesta a filha adolescente, isso ocorre por pelo menos quatro anos seguidos, impossível que ninguém perceba isso. Quando a mãe não assume o papel de mãe e defensora dos filhos, ela também está praticando abuso, tanto quanto o pai. Ainda segundo o psiquiatra, não existe apenas “uma” vítima nesses processos, porque todos acabam sofrendo o trauma emocional provocado pelo silêncio e pelo medo. O tratamento, sugere o psiquiatra, tem que ser da família inteira e ao mesmo tempo. Porque está caracterizado o desvio de conduta da família.

O drama do abuso sexual, que tem condenado milhares de pequenas vítimas ao massacre emocional para o resto da vida, não pode mais ser ignorado. O nosso desejo, ao voltar desse mergulho na realidade das nossas crianças, é ver o despertar da consciência dos adultos e torcer para que algo mude na história deste Brasil.

Se ao menos uma criança for resgatada, em conseqüência desse trabalho, estará recompensada toda minha carreira de jornalista.

Crime silencioso

Caminho estreito ou de sombra, não importa. Ela é criança, guarda à chave seu tesouro. Amiguinhas? Não são muitas. Moleca trapezista. Quem sabe, solta no ar, de ponta à cabeça, Anita se esquece do peso de sua história? A mãe é prostituta no Paraguai e o pai...

“Não quis ficar com meu pai porque ele mexeu comigo. Eu tenho vergonha de contar”, diz a menina, segurando as lágrimas. “Um dia de noite, eu estava dormindo. Ele foi na minha cama e fez tudo o que ele queria fazer. Eu ficava gritando, mas não tinha ninguém em casa. Ele tirou a minha roupa e a dele também. Não adiantou. Eu gritava e não tinha ninguém por perto. Quando me lembro disso sinto uma dor por dentro”.

“Eu queria ter outro pai. Queria que ele fosse bonzinho, porque ele era muito safado”, desabafa Anita.

Anita escapou do pai no Brasil. A mãe ajudou, mas ela mora em um bordel e não pode ficar com a filha. No exílio, o feio, na mão de Anita, fica belo. Guarani é a língua oficial do Paraguai. Um abrigo em Ciudade del Leste é, agora, a casa de Anita.

“Agora vou vai ficar aqui até crescer. E quando eu crescer, vou ficar com a minha mãe. Vou arrumar uma casa para ela morar comigo”, sonha a menina.

A primeira imagem que se tem da infância é um pequeno mundo encantado. De verdade ou imaginário, o que se espera é que seja um santuário de pura inocência. O lugar sagrado de proteção e afeto. Mas ao abrir os olhos para a vida, muitas crianças experimentam, em vez de sonho, um pesadelo, com bicho-papão de carne e osso. Personagens paternos no papel de monstros.

Uma mãe diz que viu esse drama no quarto das próprias filhas.

“Eu acordava e ia direto ao quarto dos bebês. Algumas vezes eu o peguei sentado na cama da mais velha, de um ano e meio, passando a mão nela, um tanto ofegante. Uma vez eu questionei isso e ele me acusou de ter a mente suja, disse que eu era imunda para pensar uma coisa dessas do pai das filhas dele. Eu acabava acreditando que eu era suja e imunda por estar pensando algo assim”, diz a empresária Marlete Duarte.

Hoje, uma das filhas, que nasceu surda, rompe o silêncio.

“Ele dizia que eu precisava ser estimulada sexualmente por ser surda”, conta Anahí Guedes de Mello, estudante de química.

Anahi fez o caminho de volta ao passado e decidiu processar o pai por abuso sexual durante 15 anos.

“A estratégia dele era me atacar quando eu estava dormindo”, conta a jovem.

A mãe sabia de tudo, mas preferia não ver. No processo de separação, diz ela, a ficha caiu. Foi quando Marlete denunciou o marido ao juiz.

“Expliquei, inclusive, que as crianças não confessavam porque tinham medo. E eu grifei a palavra medo”, diz ela.

Mas a Justiça se voltou contra ela. A alegação do ex-marido – "essa mãe é louca e drogada" – convenceu o juiz. Marlete acabou perdendo a guarda das filhas.

“Nesses anos todos, ficou um silêncio absoluto. Não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser desejar ardentemente que um dia algo acontecesse e que todo mundo soubesse que eu não era louca e que não estava inventando tudo aquilo”, desabafa Marlete.

A violência doméstica emudece e assombra os cenários mais insuspeitos, como a pequena Beberibe, no Ceará. Há quatro anos, um caso de incesto escandalizou os moradores do bairro Sítio São Lucas. Um pai engravidou a própria filha, de 12 anos.

“Isso é um papel muito feio para um homem. Ave Maria, esse homem deveria estar preso”, comenta o fotógrafo Otacílio Clemente da Costa.

O pedreiro Carlos Alberto Gomes da Silva não só está solto, como ainda vive com a filha e um garoto de 4 anos.

“Ele me chama de pai e de avô”, conta ele.

Relação sexual com menor de 14 anos é estupro, diz o Código Penal Brasileiro. A lei que pune os crimes determina que "existindo ou não", a violência é presumida. Carlos Alberto confessou, em juízo, que mantinha relações sexuais com a filha desde os 11 anos.

“Foi um erro meu que passou. Homem é homem... Graças a Deus, reconheci que foi um erro”, diz o pedreiro.

Mas, para a Justiça de Beberibe, o erro foi da menina, que teria seduzido o pai. Carlos Alberto foi absolvido.

“Se está sendo seduzido, o pai tem que aconselhar. Isso não é normal”, comenta a dona de casa Francisca Flávia Régis.

“Acho que o cidadão que mantém relação sexual com uma criança de 11 anos tem culpa”, avalia o pedreiro Raimundo Nonato.

Embora seja um servidor público e a Justiça seja do interesse de todos, o juiz Whosemberg de Moraes Ferreira, que deu a sentença, exige privacidade. Ele não admitiu falar diante da câmera.

“Esse caso acabou abrindo um precedente na cidade. Depois disso, muitos outros casos surgiram”, conta a promotora pública Iertes Meire Godim Pinheiro.

A promotora representava o Ministério Público em Beberibe. Ela recorreu da decisão. Faz dois anos e o Tribunal de Justiça do Estado ainda não julgou o caso.

“A comunidade até hoje clama pela Justiça que teria que ser feita. Dá a impressão de que a partir desse tipo de decisão, pais, padrastos e outros homens podem explorar e abusar sexualmente de crianças e adolescentes, com o consentimento delas”, comenta a promotora.

A menina que engravidou do pai diz que consentiu o abuso. Já está com 17 anos e ainda carrega o peso.

“Não tenho que perdoar meu pai porque ele não teve culpa. Eu que tive culpa”, diz a jovem.

Tanto faz o grau de instrução ou o nível social. Anahi, também se sentia culpada pelo abuso do pai.

“Eu me sentia suja porque lembro que algumas vezes eu tive que ceder, não tinha como”, conta ela.

A culpa alimenta o medo de expor o trauma. E o silêncio impede que o abusador seja punido.

“Em regra, os delitos de abuso sexual são intrafamiliares. E, em regra, também não deixam vestígios materiais. Não se comprova através de exame médico. Então, nesses casos, o depoimento da vítima é indispensável”, ressalta o juiz José Antonio Daltoé Cezar – juiz da Infância e da Juventude de Porto Alegre.

Encarar juiz, promotor, advogados e o acusado assusta. Foi assim com Linda, que não abriu a boca no primeiro depoimento, em uma sala de audiência convencional.

“Eu tinha medo do advogado do meu pai e do meu pai, por ele ter feito aquilo. Antes, eu tinha medo de falar na frente dele”, conta a jovem.

Mas o Juizado da Infância e da Juventude de Porto Alegre abriu um novo caminho para diminuir o sofrimento das vítimas: criou um outro ambiente, aconchegante e reservado. Na sala, a vítima responde às perguntas, acompanhada por um psicólogo ou assistente social.

“O advogado e o promotor podem perguntar porque todos estão fiscalizando aquele depoimento. A pessoa que está depondo sabe que está sendo filmada. Depois tudo é transcrito e vai para o processo”, explica o juiz José Antônio.

No caso de Linda, ela só conseguiu expor a angústia do abuso na sala reservada, a sós com a assistente social.

“Foi muito importante poder falar porque eu acho que nenhum pai pode fazer isso com uma filha. Eu consegui contar tudo o que eu passei, tudo o que eu sofri”, diz Linda.

São pequenas vozes solitárias contra o silêncio. A denúncia é apenas o primeiro passo de um difícil caminho em busca da Justiça. O pai de Linda perdeu a guarda da filha e foi denunciado pelo crime de abuso. O Ministério Público ainda não abriu inquérito. O pai de Anahi questiona a saúde mental da filha que o acusa. Os advogados dele fazem manobras para protelar o processo e não quiseram dar entrevista. O pedreiro de Beberibe foi absolvido.

“E sei que vou ser castigado por Deus. Porque a justiça de Deus é maior que a da Terra”, conclui o pedreiro Carlos Alberto.

Abuso de poder

Uma mulher amarga a dor e o desespero. O filho dela sofreu quatro anos de abuso. O diretor da escola, padre e amigo da família, era o abusador. E ela nunca desconfiou.

“Senti raiva de mim por não ter entendido a mensagem do meu filho. Criança se expressa, só que elas não falam diretamente”, diz a mãe.

Outras mães lamentam o mesmo engano. Acreditavam no homem que também foi o algoz de seus filhos.

“Ele era uma criança, ia crescer, aprender tudo o que precisava, inclusive sobre a sexualidade. Agora ele aprendeu uma coisa toda errada. Qual é o profissional que pode me garantir que meu filho não vai ter nenhuma seqüela?”, questiona uma das mães.

O cenário é o rico interior de São Paulo: Rio Claro e o tradicional colégio católico dos claretianos. O homem acusado é o padre Hélio Aparecido Alves de Oliveira, o padre Helinho.

“Ele sempre ia visitar a classe e me chamava para ir à sala dele. Ele sempre trancava a porta e ficava mexendo comigo”, conta um menino.

“Ficava se esfregando, abraçava o corpo”, acrescenta outro menino.

Só agora, aos 8 e 10 anos, os meninos desabafam. Mas não é de hoje esse abuso. Um deles começou a ser molestado aos 5 anos.

“Quando eu ia sentar na cadeira, ele me pegava e colocava no colo dele”, diz ele.

Eles se lembram dos acampamentos no sítio da escola.

“De manhãzinha, ele foi me mexer”, continua um dos meninos.

“A gente obedecia tudo, porque ele era o diretor da escola. A gente tinha medo de que ele falasse da gente na escola e que nossos pais brigassem ou nos deixassem de castigo”, diz o outro.

O advogado do padre Helinho, Raimundo Hermes Barbosa, acha que há excesso de malícia.

“Às vezes, uma palavra de carinho pode ser mal-interpretada. Um beijo pode ser um ato libidinoso e pode não sê-lo”, avalia o advogado.

O ato descrito pelos meninos teria sido pecado? Pelo sim, pelo não, o padre Hélio fugiu. A Justiça decretou prisão preventiva dele. A denúncia foi para frente porque o delegado Joaquim Dias Alves acreditou nas crianças.

“Foi difícil juntar provas porque, como se sabe, esse é um crime que a gente chama de silencioso. O indivíduo usa muito o poder que ele tem e pode exercer, não só sobre as crianças como sobre as famílias”, explica o advogado.

“Ele vai ver tudo cinza na cadeia agora”, diz um dos meninos.

“Ele não nos machucou, mas roubou a nossa inocência”, ressalta o outro.

“O abusador violenta a criança e vai para penitenciária. Quando chega lá, ele não tem um tratamento psicológico relacionado à pedofilia, que é um transtorno sexual. E aí, quando ele sai, volta a delinqüir”, comenta a promotora pública Lítia Cavalcanti.

Isso quando alguém vai preso. Nos últimos seis anos, a promotora de Justiça combateu o abuso e a exploração de crianças e adolescentes no interior do Maranhão. Gente grande e poderosa.

“A gente vê que isso é um fato corriqueiro aqui. Realmente, as pessoas que exploram a criança e o adolescente no Maranhão têm poder, normalmente são autoridades. Estão todos absolutamente soltos”, revela a promotora.

Durante três anos, o Maranhão foi o campeão do Disque-Denúncia nacional, com 108 casos de exploração e abuso sexuais. E essa estatística foi confirmada pelas instituições de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Em mais da metade dos casos de violência, as vítimas tinham menos de 12 anos de idade.

Mara só tinha 11 anos quando perdeu a virgindade.

“Fui violentada, foi à força”, conta ela.

Ela acusa Sebastião de Jesus Costa, o Sebastião do Coroado. Ele adotou o nome do bairro pobre de São Luis, onde conquistou fama e poder. Líder comunitário, vereador e mais que pai-de-santo, tata de umbanda. Castigado por um câncer, Sebastião fala com dificuldade.

“O labirinto é o lugar onde as pessoas que já são preparadas e que já passaram de 40 anos entram para fazer previsões, para ver o que vai acontecer no futuro no planeta Terra”, explica ele.

E o que vem do passado também saiu dali. Mara afirma que foi estuprada no lugar e que há outras vítimas. Todas levadas para um ritual de sexo.

“Ele me chamou para o quintal e disse que era para eu rezar. Eu fui e ele me mandou entrar na estrela e ficar toda do jeito que eu nasci. Disse que era para eu não gritar e não contar nada para minha mãe”, relata a jovem.

O pai-de-santo diz que Mara engravidou de um namorado dela.

“Eu nunca transei com nenhum outro homem, só com ele. Não tinha namorado nenhum. Com seis meses de gestação eu abortei com o dinheiro que ele deu”, conta ela.

Da denúncia até o inquérito se passou quase um ano. Nem feto para exame de DNA havia mais.

“Até agora não provaram nada, nem vão provar”, afirma Sebastião.

É uma prova de fogo denunciar os poderosos. Pior ainda quando a vítima é filha da pobreza. Há perigo até na pontinha dos Lençóis Maranhenses. Paulino Neves, na rota do Rali dos Sertões, é um lugarejo perdido nas dunas. Uma cozinheira, que não mostra o rosto, foi a primeira a denunciar: diz que o cprefeito iniciou sexualmente o filho dela.

“Ele tinha 14 anos. Ele fala que não lembra de nada. Diz que usa um remédio que dá paras crianças e as pessoas ficam adormecidas. Eu acho que meu marido vai fazer besteira com o prefeito”, diz a cozinheira.

Por Luiz, ninguém chorou. Órfão que fugiu das surras de facão onde morava, ele contou que também caiu na mão do prefeito. Com 17 anos, sob a proteção do estado, ele nem queria testemunhar.

“Ele sempre me usava. Eu gostava. Era o jeito, não tinha para onde ir. Comecei isso com uns 13 anos”, conta o jovem.

E qual será a versão do prefeito? Em uma quarta-feira à tarde a prefeitura de Paulino Neves estava fechada. Disseram que o prefeito estava em casa. A empregada negou.

“Só sei dizer que ele não está aqui”, resumiu ela.

Josemar Oliveira Vieira também não deu as caras na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do estado, nem na polícia. Ignorou as convocações.

“No momento em que se fez a chamada oficial ao prefeito, os advogados entraram com pedido de habeas-corpus preventivo e ele não chegou a depor na CPI. Até hoje, ele nunca depôs – nem na Justiça, nem na polícia”, diz a delegada Ana Karla Silvestre.

“A mãe dele fala que enquanto tiver dinheiro, o filho dela não é preso”, conta a cozinheira que não quis ser identificada.

“O poder, evidentemente, se exerce. Mas ele não é absoluto. Nenhum poder é absoluto”, constata o advogado Joaquim Dias Alves.

É essa certeza que faz a diferença e alimenta a esperança de justiça.

“Penso no sofrimento que o meu filho passou na mão de um adulto, uma pessoa maior que ele, dentro de uma sala fechada, sendo abusado por ele, e não ter podido fazer nada. Então, eu acredito que haverá justiça e que isso não vai demorar”, diz a mãe de um dos meninos abusados na escola em Rio Claro.

Escândalo na internet

Uma menina de aproximadamente 6 anos sendo estuprada. As imagens completas são impublicáveis.

“Uma seqüência de fotos mostra ela acorrentada sendo violentada. A mão dela está totalmente roxa. Deveria estar há um dia amarrada para ficar nesse estado”, revela o técnico em informática Anderson Miranda.

A imagem mudou a história de Anderson e da advogada Roseane Miranda. O casal estava em uma sala de bate-papo na internet. Uma sala que não tinha nada a ver com pornografia. De repente, foi surpreendido pelas cenas de violência bem na tela do computador.

“A sensação é que a alma daquela criança já não está mais ali”, comenta Anderson.

Chocados, o técnico em informática e a advogada partiram para a guerra: criaram um site de denúncias contra a pedofilia na internet. Pedófilo é o adulto que tem atração sexual por crianças.

“Eu resolvi fazer uma pesquisa em um banco de dados de um site de crianças desaparecidas e com a comparação da imagem fotográfica descobri que ela era uma delas. Era americana e estaria hoje com 13 anos de idade”, conta Anderson.

“Como o desaparecimento dela foi há alguns anos, não acreditamos que essa criança tenha sobrevivido, porque em todas as circunstâncias ela está em situações de extrema violência”, diz Roseane.

O dossiê sobre a menina foi entregue nas mãos de um delegado da Interpol em 2001.

“A partir daquela data, nunca mais tivemos retorno”, diz Anderson.

O silêncio das autoridades é comum quando o assunto é pedofilia na internet. Os processos se arrastam. O Ministério Público e a Polícia Federal ficam em um jogo de empurra.

“O Ministério Público dize que eu não tenho autoridade para isso, tenho que passar por um juiz. Quando eu consigo com o juiz, ele diz que não tem condição de me fornecer no tempo aprazado, porque não há capacidade operacional”, diz o delegado da Polícia Federal Paulo Cassiano Junior.

“O Ministério Público está atento à questão dos prazos justamente para que não haja prescrição, para que não haja impunidade”, defende o procurador da República Sergio Suiama.

Mas ninguém foi condenado nos 71 inquéritos abertos pela Polícia Federal na cidade de São Paulo nos últimos seis anos. Mais da metade dos casos ainda estão sendo investigados.

“Acontece em razão do excesso de inquéritos que existe na Polícia Federal e do número de pessoas reduzido. Existem muitos inquéritos que estão lá há muito tempo, não só de crimes de pedofilia”, diz a procuradora da República Ana Carolina Nascimento.

“Não se trata de incompetência. Se o site está sediado no exterior, na Rússia, por exemplo, não há o que fazer”, afirma o procurador da República Sergio Suiama.

“Existem dificuldades. Neste momento, quase não existe regulamentação para a internet. Porém, é perfeitamente possível rastrear, e, na maioria dos casos, chegar em quem de fato está fazendo o acesso”, comenta o professor Wilson Ruggiero, doutor em ciência da computação da Universidade de São Paulo (USP).

Esse caminho apontado pelos especialistas já vem sendo adotado pela polícia de outros países. Mas as nossas autoridades, que tanto falam da necessidade de cooperação, não fazem nada, mesmo quando recebem tudo mastigadinho. Foi o que aconteceu na operação global, desencadeada pela Espanha. O Brasil não participou do mutirão contra a pedofilia na internet.

Mas informação não faltou. A polícia espanhola localizou, no Brasil, 104 endereços de computadores na rota da pedofilia. Alguns casos bem detalhados, com dia e hora da transmissão de imagens de crianças sofrendo abuso sexual. Sob o pretexto de que é preciso pegar os 104 suspeitos ao mesmo tempo, a Polícia Federal ainda não prendeu ninguém.

“É impossível fazer um trabalho bem feito de maneira instantânea”, alega o delegado da Polícia Federal Paulo Cassiano Junior.

Mesmo depois de muito tempo, o trabalho também não aparece. Faz cinco anos que a Polícia Federal vem investigando o economista Julisson da Silva. Em 2000, em uma apreensão em Vitória do Espírito Santo, um farto material de pedofilia foi encontrado no computador dele.

A reportagem de quatro anos atrás foi exibida na Polícia Federal de São Paulo.

“Uma coisa importante para mim é saber se a prisão preventiva foi pedida”, diz o porta-voz da Polícia Federal Wagner Castilho.

Dois dias antes da entrevista informamos o número do inquérito, que o delegado desconhecia.

“Eu nunca vi isso”, surpreende-se o porta-voz.

Ele ficou surpreso com as imagens que não foram divulgadas pela TV, mas que estavam no computador apreendido e fazem parte do inquérito da Polícia Federal.

“Falta muito pouco para uma resposta. Esse inquérito já foi várias vezes para o Ministério Público. Retornou à Polícia Federal porque o próprio Ministério Público, que é responsável pelo oferecimento da denúncia, ainda acha que as provas colhidas não são...”, tenta responder o porta-voz da Polícia Federal.

“A Polícia Federal não investiga somente uma pessoa. Ela investiga uma rede, que usa a internet para a publicação de sites pornográficos e para...”, tenta ele novamente.

“Eu dou resposta para tudo, eu vou falar...”, insiste o porta-voz.

“Para a autoridade policial, o crime está constatado, o fato é verídico, todos nós vimos. Entretanto, as provas ainda serão... Deixa eu pensar de uma maneira...”, pede o porta-voz.

“Eu tenho que falar alguma coisa, não posso ficar com cara de bobo. Não tem uma resposta satisfatória”, conclui ele.

Enquanto as autoridades criam respostas em vez de agir, as imagens da violência se multiplicam na internet. A velocidade assusta. E o que mais assombra é saber que a imagem-símbolo da luta contra esse crime, a menina que deve estar morta, ainda alimenta a tara de pedófilos na rede.

Dezessete dias depois da entrevista com os procuradores da República, e dez dias depois de o Globo Repórter ouvir a Polícia Federal, o Ministério Público finalmente ofereceu a denúncia contra o economista Julisson da Silva. É o inquérito que estava na Polícia Federal de São Paulo desde outubro de 1999.

Presas fáceis

Quanto vale um doce para quem só conhece o gosto da miséria? No bairro pobre de Santa Rita, na Paraíba, balinhas e bombons seduziram meninas de 9 e 10 anos. Em troca das guloseimas, elas passavam a tarde na casa do funcionário público Aureliano Leite, o Tio Lelo. Foi um choque para as mães.

“Quando chegavam lá, ele mandava elas tirarem a roupa. Ficavam todas despidas de uma só vez. Ele chamava uma por uma para fazer sexo oral com ele. Foi um choque grande. Até hoje ainda é, cada vez que se fala nesse assunto”, emociona-se uma das mães. “Se eu pudesse, ia para outro lugar, para nunca mais ninguém falar desse assunto comigo”.

“É a sociedade que produz tudo isso, sem dúvida. Sem dúvida, essas meninas não eram só carentes fisicamente, mas também de afeto”, diz o padre Severino Perini.

Há três anos, a Pastoral da Criança desmascarou o Tio Lelo. Ele chegou a ser preso em flagrante, mas conseguiu habeas-corpus. O caso está até hoje sem solução.

“A gente está clamando justiça. E, em nome de Jesus, essa justiça tem que chegar”, ressalta uma das mães.

E ela chegou rápido a Porto Ferreira, interior de São Paulo, onde a maioria dos acusados já está atrás das grades. As primeiras sentenças foram de até 50 anos. O crime: seis vereadores, três empresários e um funcionário público usavam a influência para explorar sexualmente meninas pobres.

Chácaras, chalés, ranchos, com churrasqueira e piscina. Ao todo dez endereços foram utilizados para as orgias nas tardes de segunda-feira. Só em uma estrada, foram utilizados pelo menos quatro ranchos. Um deles era chamado de Rancho Primavera. Agora mudou de nome: Rancho Sebastian 1555. Em uma das janelas havia um buraco onde as meninas eram obrigadas a assistir a aulas de sexo explícito.

“Tinha uma moça que já era de maior e um deles mandava a gente olhar para aprender”, conta uma das vítimas.

“Eu gostei porque tinha piscina e comida. Mas depois eu fui vendo que também tinha que sair com os homens”, diz outra vítima.

“Eu aceitei porque eu não tinha dinheiro, meu pai não pode dar tudo o que eu quero”, conta outra menina.

“Para elas, eles eram pessoas que prometiam muita ajuda, prometiam emprego. Elas achavam que estavam em boa companhia, não achavam que eram pessoas más e que estavam abusando delas”, comenta a ex-conselheira tutelar Neuza Conceição Silva.

“Esses homens tentaram me ajudar, se for ver bem. Mas só que agora foi tudo para o buraco. Eu não sabia que ia dar esse rolo”, diz uma das vítimas.

“Reviramos a vida delas, expusemos essas meninas, e nada foi feito para que pudéssemos dar uma nova opção de vida para elas”, observa a ex-conselheira tutelar.

Ah, se aparecesse um príncipe encantado... Lana espera por esse dia. Quem sabe indo embora com um turista estrangeiro, o passado ficasse para trás.

“Meu sonho é casar, sair dessa vida e ir embora. Vou casar amanhã. Arranjei um pretendente. Ele é bem branco e baixo. Acho que ele gosta de mim porque toda vez que ele vem, me dá atenção, me beija e me dá o que eu preciso”, diz a menina.

Lana fugiu dos maus tratos em casa. Hoje, da prostituição, tira o sustento.

“Às vezes eu choro porque tenho relação com uma pessoa de que não gosto e não conheço. São turistas da Itália, da Suíça. Não são novos, eu pego os de 50 anos pra cima. Eles me chamam de princesa, boneca, bebê. Eles me chamam de várias coisas”, conta emocionada. “Os outros pensam que a gente está gostando da rua porque quer. Se eu for para casa, eu passo fome. Como é que eu vou me vestir? Como é que eu vou sobreviver?”.

“Essas crianças não decidiram do dia para noite sair de casa e ir para a rua se prostituir. Não é assim que acontece. É um processo muito doloroso, que dói na família, na criança e em quem está assistindo. Mas a gente precisa tomar uma atitude em relação à isso. Chega, basta dessa impunidade”, ressalta a senadora Patrícia Saboya Gomes.

A senadora presidiu a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes. A CPMI recolheu 543 denúncias, ouviu 250 depoimentos e pediu o indiciamento de 286 pessoas. A comissão de deputados e senadores propôs mudanças na lei. Mas ainda é pouco.

“São mais de 20 projetos de alterações legislativas. A partir do momento que nós conseguirmos aprovar essas leis, que elas possam realmente ser cumpridas”, diz a senadora.

“A justiça tem que ser feita. É uma ferida que nunca mais vai sarar”, conclui a mãe de uma das vítimas.

Vidas recicladas

Histórias de abuso, exploração e violência, como as de Anita, condenada ao exílio no Paraguai; Mara, refugiada no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas; Luiz, confundido na sua identidade sexual; e Lana, que vive ao relento, órfã de tudo.

“Eu não me sinto amada, nunca tive amor”, lamenta a menina.

Se ainda existir coração, apesar dos escombros, a vida pode ser reconstruída. Há testemunhas disso.

Uma das muitas atrações turísticas do Ceará é Canoa Quebrada. O lugar contraria o poeta que diz que a beleza é triste. A solidariedade de 15 voluntários está reescrevendo histórias de abuso, violência e abandono. De pequenas vidas quebradas vão surgindo os primeiros versos alegres de um novo poema.

Construção de amor, cacos, papéis, restos de histórias. Tudo é reciclado. O lixo sem valor é transformado.

“Dos nossos erros, que às vezes são o nosso próprio lixo, a gente vai produzindo a nossa própria beleza”, diz o empresário Jayme Sanches.

Jayme realizou o sonho de refazer histórias com o projeto Recicriança. Essa visão iluminada abriu o horizonte de outros filhos já condenados a uma herança maldita: a perda da identidade.

“O nativo bonito acabou atraindo a turista bonita. E os outros nativos que não tinham essa beleza, essa facilidade de interação com o turista, acabaram se perdendo, principalmente na bebida. A geração que se vê hoje aqui é filha dessa geração que se perdeu”, constata o empresário.

“Muitos que estão aqui conseguem ter uma opção diferente daquela da rua, da droga”, diz o coordenador do projeto, Tércio Vellardi.

Até as mães experimentam a reciclagem e embalam o sonho. Tecem brinquedos enquanto aprendem a arte de proteger suas crianças.

“A nossa banda faz isso: pega o que não tem mais sentido, não tem mais vida na sociedade descartável. Quando eles descobriram que a música estava neles, eles passaram isso para a lata, e a lata virou um instrumento. Chocalhos, tambores e maracás foram construídos a partir da sucata”, conta Maestro Parayba.

São os curimins, meninos índios em guarani. Um projeto que tira das ruas os órfãos de amor e ensina lições para a vida.

“A arte é a maneira mais eficiente de se fazer uma catarse, de se trabalhar nossos traumas, nossos recalques. As coisas que estão presas lá dentro saem na forma de prazer”, diz o maestro.

“Eu acho que é uma esperança. Nós temos que ser como naquela fábula do beija-flor, que vai leva só uma gotinha para apagar o incêndio da floresta. Os outros bichos perguntam de que adianta só uma gotinha diante de tudo aquilo e ele fala que está fazendo a parte dele. Acho que é o que nós estamos fazendo aqui”, conclui Jayme.

Equipe

Direção: Denise Cunha

Reportagem: Delis Ortiz

Produção: Maurício Maia

Edição de Imagens: Arnaldo Spetic

Imagens: Dennys Leutz

Áudio: Masaru Yamaguchi e Adalto José Vieira

Técnicos: Jorge Moura e Maurício de Almeida

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