SÃO PAULO - Algumas empresas estão investindo nos chamados "double deck" , ônibus com dois andares como diferencial de marketing entretanto, especialistas em segurança rodoviária acreditam que esses ônibus não são adequados para as precárias estradas brasileiras.
O ônibus da Viação 1001 utilizado na linha São Paulo - Campos e outras linhas, é o mesmo Double Deck (dois andares) que no início de 2003, a empresa introduziu na linha com grande alarde na cidade de Campos. O ônibus, considerado por alguns peritos como inadequado para circular na maiorias das estradas , pelo risco de tombamento, tombou no acidente do dia 22 de abril de 2003 próximo de Campos quando morreram 8 pessoas e dezenas ficaram feridas. Somente a Busscar e Marcopolo oferecem esses modelos para seus clientes, a espanhola Irizar, que está presente no Brasil e vários países não oferece ônibus de dois andares nem mesmo na Europa.
Especilistas do setor dizem que esses ônibus impressionam os passageiros e que funcionam bem pelo apelo de marketing. Foi nisso que algumas empresas apostaram. Entretanto,passageiros impressionados pela dimensão do veículo esqueceram de buscar informações sobre sua real segurança.
Há vários acidentes com tombamento de ônibus de dois andares mas a frota desses veículos ainda é pequena e não há estudos sobre os riscos que eles representam circulando nas precárias rodovias brasileiras. Viajar com um veículo desses numa estrada européia com cinco pistas de cada lado, piso perfeito e sem curvas, não é a realidade brasileira.
Em julho de 2003 , um ônibus de dois andares que vinha do Pará , com placa de Goiânia e 29 passageiros a bordo tombou e bateu num barranco da BR 376, próximo da fronteira de Paraná e Santa Catarina. Na ocasião morreram dois motoristas e 27 passageiros ficaram feridos. A tragédia não foi maior porque praticamente metade dos passageiros tinham ficado em Curitiba.
Santa Catarina também foi palco de outro acidente com ônibus de dois andares em janeiro de 2000, num dos acidentes mais brutais da história do Estado com mais de 60 vítimas. O veículo da empresa Gimenez Viajes, com 53 passageiros, tombou na BR 470. Arrastou-se por 20 metros na contramão, chocou-se com um ônibus da empresa catarinense Reunidas, que ia de Florianópolis para São Miguel D'Oeste e transitava na direção contrária. Morreram 38 argentinos do ônibus de turismo e o motorista da Reunidas, João Teodoro de Campos. Vinte e três feridos lotaram os hospitais da região. A rodovia é sinuosa com vários trechos íngremes.
Segundo Alexandre Novaes, da Unicamp, e coordenador do grupo de Inspeção Veicular da Associação de Engenharia Automotiva, esses ônibus são adequados para utilizações específicas como turismo urbano. "Sinceramente, se eu fosse um ditador proibia esses ônibus de circular."
Raphael Martello, um dos peritos em acidentes de trânsito mais conceituados do país, esclarece que esses ônibus são mais suscetíveis a tombamento. " Não posso afirmar que sejam mais perigosos mas depende da forma como você conduz o veículo. Não posso fazer curva com uma Kombi da mesma forma que faria com um Fusca. Assim, como não posso dirigir um ônibus de dois andares como dirijo o ônibus comum" , esclarece Martello. Ainda segundo o mesmo perito, as condições das estradas brasileiras, com precário estado do pavimento, representam um risco maior para esse tipo de ônibus.
Outro aspecto lembrado por Martello é que a indústria automobilística no Brasil se auto- certifica. "Nos EUA e Europa existem órgãos independentes que certificam os veículos, aqui o próprio fabricante tem essa autonomia." As normas que regem a construção desses veículos também são precárias. O Inmetro, por exemplo, não possui nenhuma portaria com relação aos ônibus rodoviários. A única sobre ônibus é dedicada aos urbanos, e foi elaborada pelo Conmetro em 1993.
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