SALVADOR - O que a imprensa chamava de "confraria baiana" no Ministério da Cultura explodiu de vez ontem, segundo informações do jornal A TARDE. Antônio Risério, assessor especial, diretamente ligado ao gabinete do ministro Gilberto Gil, se demitiu juntamente com Maria Elisa Costa, presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e Marcelo Ferraz, coordenador do programa Monumenta, assinando uma nota na qual afirmam que, "mais uma vez, infelizmente, o sonho acabou".
Eles se solidarizaram com Roberto Pinho, secretário de Desenvolvimento de Programas e Projetos Culturais, exonerado anteontem sob acusação de ter feito o ministro Gil assinar um termo de parceria entre o Ministério da Cultura e o Instituto Brasil Cultural (Ibrac) para a construção de 16 Bases de Apoio à Cultura (BACs), obra de R$ 21,5 milhões, dos quais R$ 20 milhões oriundos da Petrobras, sem cumprir os trâmites legais.
O episódio abalou as velhas amizades e descambou para a troca de acusações. Pinho, compadre do ministro Gilberto Gil há mais de 40 anos, se diz magoado com o amigo "que ficou de braços cruzados" vendo-o "ser linchado" pelo que atribui ser "um golpe político" do secretário executivo do ministério, o também baiano Juca Ferreira. "Cada conversa que eu tinha com ele (Gil) nos últimos dias era mais decepcionante. Parecia que era um ventríloquo falando com Juca do lado", disse.
O afastamento dos três não foi surpresa para o ministro Gilberto Gil, pois Maria Elisa e Ferraz foram indicações de Pinho. Gil disse ontem no Rio que desde meados do ano passado, havia um conflito de métodos entre Pinho e Juca Ferreira. ‘‘Roberto (Pinho) se insubordinava aos processos regulamentares, para agilizar a atuação do ministério, enquanto Juca (Ferreira) exigia controle sobre esses mesmos processos’’, ressaltou o ministro.
‘‘A insubordinação de Roberto resultou em fatos que poderiam se caracterizar como irregularidades devido a uma negligência e desatenção dele com o andamento do processo. Sua saída ocorreria após o Carnaval, mas a reportagem do Estado precipitou o desfecho dessa situação. Já a saída de Risério foi uma questão pessoal", lembrou.
Maria Lúcia Costa, filha do arquiteto Lúcio Costa, um dos arquitetos que idealizaram Brasília, negou que tenha sido desprestigiada. ‘‘Enquanto estive lá, o Gil cuidou direitinho da questão (do patrimônio histórico) e espero que continue assim’’, disse ela. ‘‘O que me levou a sair foi o clima de caça às bruxas, de armações que envolveu até o próprio Gil’’. Para Gil, a saída deles acaba com a dicotomia na equipe.
"O ministério continuará normal, tocando os seus projetos, agora com a lisura que a administração pública exige. Somos 30 assessores. Os outros 27 também subscreveram uma nota reafirmando o apoio ao ministro e às medidas moralizadoras por ele tomadas", diz Juca, garantindo que Roberto Pinho "está tentando concentrar as responsabilidades em mim para desviar o assunto da questão principal".
"Assumimos juntos, todos abraçados. Mas a cada mês o salto dele subia um centímetro. Ele foi cercando Gil, cercando, cercando, foi comendo todo mundo pelas beiras. O poder lhe subiu tanto à cabeça que ele chegou a fazer cartão de ministro-interino. Tirei férias e quando voltei já estava essa armação toda. Estou me sentindo como se fosse vítima de um atentado político. Entrei com uma representação junto ao Conselho de Ética da Presidência. É lá que quero ser julgado", diz Pinho.
Juca é enfático ao afirmar que as desavenças nada têm de disputa de poder. "São de origem conceitual sobre a forma como se deve tratar a coisa pública. Pinho induziu Gilberto Gil a assinar o termo de compromisso sem a apreciação do Conselho Jurídico porque dez dias antes o mesmo conselho já havia emitido parecer contrário à forma de encaminhamento de outro programa, o Cidade Aberta e sabia que não tinha chances de ver o do BACs passar".
"A idéia da confraria ficou questionada a partir do momento em que o próprio ministro não titubeou diante do amigo. Também tive que abdicar de uma velha amizade por não permitir que a ilegalidade se sobrepujasse à transparência.", disse ele referindo-se ao escritor Antônio Risério, de quem é amigo há 39 anos, que se demitiu em solidariedade a Pinho.
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