Base de Alcântara e VLS-1 são estratégicos para o Brasil

GloboNews.com

Atualizada em 27/03/2022 às 15h16

RIO - A Base de Alcântara, no Maranhão, e o programa de desenvolvimento de um veículo nacional de lançamento de satélites são estratégicos para os planos ambiciosos que o Brasil vem alimentando no setor aeroespacial. Em entrevista ao jornal O Globo, em 1º de junho passado, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Bevilacqua, afirmou que o domínio da tecnologia de foguetes e o uso de Alcântara eram prioridades.

Segundo disse à época, o Brasil planeja mais investimentos em satélites.

Entre seus projetos prioritários, está a abertura da base de lançamento de foguetes em Alcântara para o uso por outros países. A base tem uma localização privilegiada, perto da linha do Equador, o que facilita a entrada de satélites em órbita, porque aproveita melhor a rotação da Terra e reduz os gastos com combustível.

O Brasil decidiu explorar o uso da base em março de 1999 por causa dos altos custos de manutenção. Assim, ela poderia servir simultaneamente para o lançamento de satélites de outros países e para os experimentos do programa espacial brasileiro.

Em comparação com outras bases de lançamento, como a de Cabo Canaveral (EUA) e a de Baikonur (Cazaquistão), a de Alcântara pode gerar economia de 15% a 20% de combustível no envio de satélites ao espaço. Outra vantagem de Alcântara é que o complexo tem espaço para expansão; além disso, os veículos lançados dali não cruzam áreas densamente povoadas.

No caso de empresas interessadas em usar Alcântara, o plano das autoridades brasileiras era oferecer, no contrato, não apenas o aluguel da base de lançamento e a infra-estrutura de água, energia elétrica, saneamento, alojamento e transporte. Serviços como telemetria, informações meteorológicas, rastreamento por radar e segurança de vôo estariam no pacote. Com isso, se tentaria colocar a base no Maranhão na linha de frente do mercado aeroespacial.

Na entrevista ao Globo, Bevilacqua reafirmou o interesse do governo no uso da base de Alcântara por estrangeiros. Ele falou sobre a idéia de se ter um consórcio brasileiro e ucraniano para explorar lançamentos com uso do Ciclone, um lançador ucraniano. Para tornar o projeto operacional, segundo afirmou, seriam necessários investimentos de US$ 100 milhões - metade de cada país - nos próximos três anos. Ele disse que achava o projeto comercialmente viável por conta do posicionamento geográfico da base e porque o lançador de satélites ucraniano é confiável.

- É claro que a Ucrânia também vai querer impor condições para proteger sua tecnologia, da mesma forma que o Brasil jamais abriria mão da proteção de tecnologias desenvolvidas aqui, mas o acordo é mais flexível, não é tão rígido. Também acho possível retomar as negociações do uso da base pelos Estados Unidos, mas em outros termos - afirmou Bevilacqua há dois meses.

Acordo polêmico com os EUA

Foi em fins da década de 1990, de olho na expansão do mercado aeroespacial, que o governo brasileiro começou a planejar investimentos na infraestrutura da Base Aérea de Alcântara, no Maranhão, e a projetar a utilização de suas instalações por empresas multinacionais ou outros países interessados em lançar satélites aqui. Em maio de 1999, o então ministro extraordinário para Projetos Especiais, Ronaldo Sadenberg, informou investimentos de R$ 30 milhões na recuperação do centro, recursos destinados à compra de tecnologia e à construção de novas estruturas para lançamento de foguetes.

Até aquele momento, já tinham sido investidos R$ 300 milhões no projeto, faltando cerca de R$ 40 milhões para a sua conclusão. Na época, noticiou-se ainda que o governo negociava com a Fiat, da Itália, e a Ushinoe, da Ucrânia, o lançamento de satélites no Maranhão. Em novembro daquele ano, Brasil e Ucrânia assinaram um acordo de cooperação prevendo lançamentos.

No ano seguinte, uma grande polêmica sacudiu as áreas política e científica brasileira. Um acordo entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos dividiu opiniões. Os americanos, interessados em utilizar a base para lançar satélites, exigiam regras de controle de acesso a seus equipamentos. Era o acordo de salvaguardas tecnológicas. A maior crítica ao acordo era que alguns itens violavam a soberania brasileira (como um que impediria a alfândega de inspecionar material americano enviado à Base).

Um relatório com restrições ao acordo, feitas pelo deputado Waldir Pires (PT-BA), chegou a ser aprovado na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, em novembro de 2001. Entre essas restrições, o texto de Waldir Pires previa que o controle de áreas restritas na Base de Alcântara não seria feito apenas por autoridades americanas. O controle de acesso a satélites na base também seria feito pelos dois países. Em 2002, no entanto, essas restrições foram retiradas do projeto de decreto legislativo, na Comissão de Ciência e Tecnologia. Nova polêmica e, então, as negociações em torno do acordo entraram em banho maria.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, já se mostrou contrário ao acordo com os Estados Unidos nos termos atuais. Em entrevista ao Globo On Line, em 18 de julho passado, ele disse que se o acordo fosse aprovado como está autoridades brasileiras sequer poderiam visitar o local. Amaral afirmou naquela entrevista que retomou o diálogo com o Departamento de Estado americano e que o projeto que estava no Congresso ia ser retirado.

Em 2001, o mercado mundial de lançamento de satélites era estimado em US$ 60 bilhões anuais. Entre 1993 e 1998, esse mercado tinha crescido 400%.

O domínio da tecnologia de produção e lançamento de satélites é fundamental para o Brasil conquistar o pedaço desejado desse mercado. O VLS-1 V03, que explodiu na tarde desta sexta-feira, matando pelo menos 16 técnicos, era parte desse esforço.

Na entrevista de junho, Bevilacqua foi enfático ao falar sobre a importância do experimento: "Está previsto para este ano um lançamento experimental, provavelmente em agosto, e nós esperamos ter sucesso (os dois testes anteriores falharam). O ministro (da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral) tem manifestado o maior interesse em desenvolver o ciclo completo de capacitação brasileira na área de foguetes lançadores de satélites."

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