RIO - A cultura sob a batuta do ministro Gilberto Gil vai ganhando uma cara. E uma cara totalmente afinada com o programa de governo definido pela equipe de transição do PT. Os planos anunciados pela equipe de Gil apontam para a regionalização, o investimento na cultura popular, a revisão das leis de incentivo, a integração do território nacional, o conhecimento - e o reconhecimento - do "Brasil profundo" que tem pontuado o discurso do presidente Lula desde a campanha eleitoral.
Gil não abriu mão de nomear alguém de sua confiança como braço-direito - o ambientalista Juca Ferreira - mas incorporou um bom número de artistas do PT na composição de seu grupo de assessores. Depois de reuniões definidas por integrantes da equipe como "bastante tensas", o ministro acabou indicando petistas de carteirinha para o segundo escalão.
Os atores Antonio Grassi e Sergio Mamberti assumem, respectivamente, a Funarte e a Secretaria de Música e Artes Cênicas. Os dois formavam com o poeta Hamilton Pereira - ainda sem cargo definido - a trinca dos sonhos dos petistas para o ministério. Também saiu dos quadros do partido Márcio Meira, que vai assumir a Secretaria do Patrimônio. Sua gestão à frente da Fundação Cultural do Município de Belém do Pará serviu de modelo para outras prefeituras do PT.
- Estou otimista, é a primeira vez que trabalhadores da cultura vão mandar no ministério - comemora Mamberti, que, entre seus planos, destaca a revisão das leis de incentivo, a descentralização dos projetos, a integração com comunidades carentes e o intercâmbio com outros ministérios. - É preciso analisar a economia da cultura no Brasil porque é um contra-senso que uma peça se mantenha com o dinheiro do patrocínio e não com a bilheteria. Isso só nos afasta do público. Também é preciso que haja projetos fora do circuito Rio-São Paulo e que, visto o baixo orçamento da cultura, haja projetos que envolvam os outros ministérios.
Antonio Grassi também já tem planos:
- Quero transferir a Funarte para Brasília, mantendo uma filial no Rio, porque ela é a instituição que vai ser o braço operacional das ações do Ministério da Cultura. Isso não significa um desrespeito ao Rio, e sim um entendimento de que a política cultural é nacional. Também queremos implementar a Loteria da Cultura, que criamos no governo do Estado, como um projeto federal. A cultura não tem muitos recursos, mas pode gerá-los. E queremos trabalhar junto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tem delegacias espalhadas em praticamente todos os estados do país.
O Iphan, aliás, ficou com um nome suprapartidário: Maria Elisa Costa, filha do arquiteto Lúcio Costa, fundador da instituição e criador de Brasília com Oscar Niemeyer. Também arquiteta, ela garante que o Instituto não vai se resumir aos processos de tombamento e preservação arquitetônicos.
- A primeira coisa que vou fazer é abrir as janelas do Iphan, que se transformou numa instituição muito burocrática - diz Maria Elisa. - Prometer alguma coisa seria leviano, porque estou tomando pé da situação. Mas quero recuperar o espírito apaixonado do período da fundação do Iphan para fazer com que o Brasil conheça o Brasil, porque atualmente só enxergamos uma caricatura do país. Vamos investir na cultura regional e popular, mas sem manipulá-la, preservando sua autenticidade.
Dois outros cargos estratégicos continuam indefinidos. A Fundação Biblioteca Nacional estaria sendo disputada pelo escritor Godofredo Oliveira Neto e pelo escritor e professor Muniz Sodré. Para a Secretaria do Audiovisual, o mais cotado é o diretor Orlando Senna, mas também estão no páreo a cineasta Berenice Mendes e o ator Antonio Pitanga. Senna coordenou o seminário nacional do audiovisual, feito pela equipe de transição e pela coordenação do programa de governo de Lula.
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