Cariocas enfrentam filas mas clima em favelas é calmo

Por Denise Luna

Atualizada em 27/03/2022 às 15h29

Os boatos de problemas com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro foram substituídos pela confusão com as urnas eletrônicas quebradas e as eleições transcorreram de maneira calma na tarde deste domingo, sem necessidade de ação do imenso aparato do Exército e da polícia que foi montado na cidade.

Na Rocinha, maior favela da cidade, com 200 mil habitantes, o único problema detectado pela manhã foram as extensas filas para votação, em baixo de forte sol.

A demora na votação era aparentemente causada por urnas quebradas e pela demora de algumas pessoas para votar tanto na Rocinha quanto no morro do Vidigal.

No Complexo do Alemão, conjunto de favelas localizadas no subúrbio do Rio de Janeiro e um dos locais mais perigosos da cidade, a votação também transcorria sem incidentes e, apesar das longas filas, não havia tumulto.

Segundo o supervisor da 168o Zona Eleitoral, Alvarim Marques da Costa, no Complexo do Alemão a demora na votação devia-se à dificuldade de alguns eleitores em operar as urnas eletrônicas.

"Está tudo tranquilo, o pessoal do morro é pacífico", comentou a vendedora Rosangela Oliveira Silva, de 36 anos, no morro do Vidigal.

A sensação de tranquilidade era compartilhada pela presidente de uma das seções eleitorais também do Vidigal, que só destacava o tamanho das filas para votar.

"(Os eleitores) não só estão votando como estão muito calmos. Com esse problema das urnas quebrarem, se eu fosse eles já tinha feito um tumulto", disse Rita Machado, de 42 anos.

Na semana passada, com o receio de que grupos ligados ao narcotráfico pudessem tumultuar as eleições, o Exército designou 11 mil homens para o patrulhamento das ruas do Rio de Janeiro.

A Polícia Militar mobilizou mais de 27 mil homens, enquanto a Polícia Civil e Federal designaram mais de 7 mil agentes.

VOTO E PRAIA

O carioca acordou cedo para votar e, ainda pela manhã, começava a lotar as praias da cidade.

Enquanto isso, centenas de moradores aproveitaram para ganhar um dinheiro extra com a distribuição de propaganda de campanha perto das zonas eleitorais.

A diária na maioria dos casos era de 30 reais para distribuir "santinhos" dos candidatos.

Na favela da Rocinha não havia muito policiamento, e ele que se concentrava nas duas principais zonas de votação da região --a Escola Ayrton Senna e a quadra da Acadêmicos da Rocinha.

A população não demonstrava preocupação com a segurança, apenas com a demora na fila, atribuída também ao grande número de candidatos a ser escolhidos. "Nunca vi isso assim. Quem não trouxe cola atrapalha os outros", disse o garçom Ademar da Silva, que em um descuido do porteiro, conseguiu furar a fila.

A fila, formada por centenas de pessoas embaixo de um sol de quase 40 graus, levava em média 40 minutos para andar.

Cleidiane Linhares, 26 anos, caixa de um restaurante, disse que já foi mesária de uma seção da Rocinha e sabe o problema que algumas tem ao votar.

"Já era complicado com poucos nomes. Desta vez então, com seis votos para digitar, vai ser uma complicação, tem gente que leva 10 minutos", disse já de biquíni por baixo da roupa para ir à praia depois do voto.

Na zona sul da cidade, nos bairros de Ipanema e Copacabana, a presença do Exército também não era notada pela manhã, apenas em poucos pontos e sem quantidade expressiva de soldados, confirmando o clima de tranquilidade.

Nas redondezas do Complexo do Alemão, o policiamento das ruas de acesso era feito por 280 soldados do exército, armados de fuzis. O batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar escalou 350 homens e um carro blindado no local.

Além disso, um comboio com quatro carros e 16 policiais, do Grupamento Especial Tático-Móvel, realizava rondas em torno do Complexo. Um helicóptero da Coordenadoria Geral de Operações Aéreas sobrevoou o morro e carros da Polícia Civil completavam o apoio ao patrulhamento. Outros 128 policiais do Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais garantem a segurança na favela Vila Cruzeiro, onde o jornalista Tim Lopes foi capturado em 2 de junho.

Os boatos de um possível tumulto provocado por traficantes apareceram depois que criminosos teriam forçado lojas e empresas a fechar as portas na segunda-feira.

(Com reportagem adicional de Paula Pena, especial para a Reuters)

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